— Você nunca usou transporte público.
— Detalhes pequenos.
Yuki olhou o amigo pelo espelho retrovisor.
— Você tem alguma noção para onde vai?
— Tenho um celular e senso de localização, Yuki.
— Mais fácil ir de avião e depois usar o metrô.
— Foco na estrada!
Pierre esteve em Paris muitíssimas vezes. Andaria tranquilamente de olhos fechados pelas ruas estreitas. Conseguiu cronometrar até o horário de dormir, como um maníaco por controle. Felizmente conseguiu passagem de ida e volta para o trem, mas não sabia se teria tempo de retornar para Mônaco sem um avião, ele ainda precisava pagar as contas.
— Só estou preocupado.
— Estamos indo bem.
— É claro, imagino que sim.
Olhou a tela do celular passando os vídeos sem verdadeiramente prestar atenção neles. Parou o dedo quando viu uma foto interessante. Um jantar nunca era só um jantar se você olhasse de perto e com cuidado, ligasse situações e listasse pontos semelhantes. Acabava se tornando um sinal claro de superação. Entrou no perfil, verificando todas as fotos recentes, deixando escapar uma curtida.
— Ai que porra! – gritou.
A porta foi aberta, escondeu o celular e sorriu.
— Bonjour, ma belle.
— Onde coloco a mala?
— Eu ajudo, é claro.
Abriu o porta-malas, e colocou a pequena mala de Romane ao lado da sua. Ela era uma pessoa que aparentava ser prática, mas Pierre sabia que provavelmente fosse perder o controle se ficasse longe dos cuidados matinais. Dois dias foram o suficiente para entender as manias.
— Dormiu bem? Sonhou comigo?
— Sabe que faz algum tempo que não sonho. – comentou pensativa.
Ela não era todo sorriso para ele. Uma parte de si sentia saudades da forma como todas se derretiam de corpo e alma, arrastando-se para mais perto, até ele enjoar e ir embora. No entanto, Romane não se deixava levar.
— Mas Paris é um lugar para sonhar!
— Alguns discordariam.
Ela deu um passo para o lado, entrando no carro. Pierre fez o mesmo, tendo o cuidado de não sentar no celular.
— Bom dia, Yuki.
— Bom dia, Romy. Sinto muito pelo francês.
— Tudo bem. – sorriu.
— O que tem meu francês?
— Não funciona, você sabe, e continua.- reclamou o japonês.
— Como assim? É meu idioma! – riu nervosamente.