Testemunhos de Zariel - Prólogo

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Testemunhos de Zariel   -   Textos sagrados de Adriasta

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Testemunhos de Zariel   -   Textos sagrados de Adriasta. 


O aperto em meu peito aumentou conforme corria novamente entre os corredores. Sabia que tinha algo de errado. Sempre soube, sempre senti.
E mesmo assim, insisti.

Colocando em risco tudo. Principalmente o que realmente importava.

Saltei  quando ouvi o barulho dos vitrais quebrando atrás de mim. Cada estouro parecia mais alto, mais próximo e meu coração assumiu um batimento do tamanho do meu desespero.
Minhas asas pareciam responder aos estímulos, agitadas e fortes.

Preparadas para tomar o céu. 

Mas disparar em voo era assinar a minha própria morte. 


Um grito soou parecendo estar dentro do meu ouvido e fez com que eu corresse ainda mais rápido. A escuridão tomou o corredor quando as velas se apagaram atrás de mim. Caos, tudo estava em caos. Como eu achei que ficaria. Só que pior.


Apertei a criança contra meu peito para me assegurar que não cairia com a adrenalina enquanto saia pelo portal indo direto para os jardins de sol. A luz e a beleza daquele lugar não parecia reagir com a perturbação do que estava acontecendo.

Os pássaros voavam na direção oposta de todo aquele caos. Eu faria o mesmo, mas não podia, não agora.

Um grunhido metódico ecoava cortando o céu. O ar ficou espesso, frio com o cheiro de putrefação. Perto demais. Parei por segundos suficientes para comparar a distância e olhei em volta. Tinha que dar tempo.


"O regente de Aldeam vai perder mais uma coisa".

 
Foram as palavras de Kairos, regente de Mavalis para mim. A ameaça, a jura. Vinda direto da própria morte. Ameaçando tomar tudo. E eu sabia que tudo, não era Aldeam, tudo era a criança em meus braços.

Virei para o lado oposto ao que estava descendo os degraus quebradiços do templo antigo, entrei na gruta correndo até uma pilastra que formava um cerco de pedra e coloquei a criança no chão. De uma forma que se algo entrasse, não veria.


- Eu volto já - Falei para a criança que observava tentando entender minhas palavras - Prometo - beijei o topo de sua cabeça.

Sai da gruta sentindo seu pequeno olhar em minhas costas ao mesmo tempo que as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Precisamos sair daqui, em segurança, de alguma forma.

Subi os degraus entrando na clareia encontrando as três criaturas paradas me observando, me esperando. Lascivas. Os três Glous me fitavam com sangue nos olhos. Não eram Glous normais. Mavallis jamais enviaria um ser qualquer para atacar. 

Elas ergueram juntas as mãos, a forma escamosa que deveria ser as mãos pelo menos, e um fecho de sombras pairou sobre o ar, sufocando e tirando qualquer resquício de vida e humanidade vindo em minha direção.


Fechei os olhos com força quando a ardência do cheiro da nuvem de morte tomou conta de mim. 


Ergui uma das mãos sentindo minhas veias quentes conforme recitava aquelas palavras e desenhava o primeiro dos três símbolo sagrados. A primeira criatura, a menor das três, avançou um passo movendo em minha direção, lançando seu poder sobre mim. 

O impacto fez com que meu corpo cambaleasse alguns passos para trás. Senti um tremor em meu peito enquanto tentava respirar com calma. 

Minhas asas mantiveram meu equilíbrio me impedindo de cair, mas não sei por quanto tempo.

Respirei fundo sentindo meus pulmões doerem enquanto fazia força para permanecer sobre os pés. Sem perder o controle das palavras que dizia em outra língua fazendo o segundo símbolo ao mesmo tempo que a segunda criatura me atacou.

O golpe pareceu estilhaçar cada célula do meu corpo. Sentia tudo, e nada ao mesmo tempo. A escuridão tomou minha visão por alguns segundos enquanto buscava por ar desesperadamente.

A morte não deveria ser assim. 

Abri os olhos encarando os três Glous que estavam ainda mais próximos do que deveriam. 

Me olhando famintos, sedentos, como se a minha morte fosse a razão pelo qual elas existissem. E eu sabia que era isso.

Glous mestiços. Devorados pelas sombras em uma metamorfose. Unidos com uma espécie de bestial. As três se posicionaram erguendo as mãos e a terra ao meu redor começou a tremer com o ato.

Me ergui com dificuldade pronunciando a terceira e última parte junto com o símbolo sagrado e levantei as mãos sentindo meu sangue circular cada vez mais rápido em minhas veias ao mesmo tempo que as criaturas ergueram seus poderes também.


Respirei fundo baixando as mãos ao mesmo tempo que as criaturas irromperam em sombras contra mim em uma energia catastrófica que derrubou parte das paredes do templo, e chocou com o meu quando os três símbolos apareceram sobre o solo. O barulho eclodiu pela clareia e toda terra e céu estremeceu.

O lugar se tornou um vasto cenário catastrófico, mórbido e sombrio quando as duas forças se arremeteram causando uma explosão que deixou o restante do templo em ruínas. Destroços. Cai sobre o solo sentindo o doer de minhas asas contra a terra antes da escuridão tomar minha mente.

 
Quantas escuridões são necessárias até vermos a luz? E assim tudo apagou.

Império de Luz e RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora