02. Não consigo respirar

150 32 194
                                    


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


"Viver deveria ser uma dádiva. Mas entre viver e sobreviver há um abismo"
.

.

Callisa


- Mateo - chamei depois de notar o seu silêncio e com esforço sentei e abrindo os olhos encarando o garoto que estava sentado no chão um pouco afastado de mim, olhando para tudo ao redor. Buscando talvez o mesmo ser que espreitava nossas costas.

- Você está bem?

Ele não parecia ter tido a mesma reação que eu. Estava assustado, mas não abalado. Parecia respirar normalmente, como se não tivesse inalado o mesmo ar ácido que queimou meus pulmões.

Aquele ar que eu sabia que mataria qualquer pessoa.


- Sim - respondeu me olhando como se quisesse me ajudar com alguma coisa, mas sem saber como - Você está bem?

Acenei em concordância mesmo sabendo que era mentira. Mateo parecia inabalável pelo que acabou de acontecer, ao contrário de mim.  

Não que eu tivesse medo daquilo. Perdi o medo de muitas coisas, mas aquele lugar... O desconhecido gerava medo. Os murmurinhos. As risadas baixas... As folhas que balançavam sem vento, o rastejar de pés pelo chão onde não tinha ninguém.


- Como você conseguiu inalar aquele ar e não sentir nada?

Mateo balançou os ombros como toda criança faz em sinal de indiferença ou desinteresse.

Ele não parecia saber da gravidade do lugar onde tinha se perdido. Parecia sorrir não sabendo que a morte podia estar ao lado dele. Rindo junto. 


- Já tinha acontecido ontem - falou em sussurro olhando para os lados como se tivesse medo de que algo ou alguém pudesse escutar suas palavras. 

E realmente tinha. Em Nomorth tudo dava pra ser ouvido e sentido, até mesmo as coisas que não estavam ali. 

Olhei para Mateo com atenção. Respirar para mim estava ficando cada vez mais difícil. Ontem pra ele, sozinho, sendo uma criança devia ter sido pior. Era normal que ele estivesse com dificuldade, e não só amedrontado.

- Aquilo, seja o que for, não liberou aquele negócio - Mateo parou de falar, como se pensasse que - aquele negócio - seria a sequência de palavras que se encaixariam na situação.

Assenti olhando para onde tínhamos parado. A clareira não estava iluminada, o que permitia que o ambiente carregasse consigo a penumbra caótica. Chegava parecer impossível tamanha escuridão, mas estava lá. Sem luz, sem brilho, e sem vida.

Império de Luz e RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora