Sexta-feira, 23:29
Quando Vitória termina de dizer a sua parte, todos se encaram por um instante.
— Vitória... — diz Núbia quebrando o silêncio. —Vou ser bem direta. Eu acho que você está mentindo.
— O que? Como assim? Por que? — ela fica nervosa.
— Eu acabei de falar que tava no banheiro o tempo todo. Mostrei a conversa com o Gabriel e a sujeira no espelho. É impossível eu ter passado pela porta do quarto.
— Mas...
— Você tem certeza do que viu? — instiga Alex.
— Absoluta, gente! Foi a Núbia que eu vi passar! Ela passou rápido, mas eu vi!
— Só tem um jeito de saber a verdade. Fazer igual foi feito com todos: ir lá conferir. — e, assim, Núbia se dirige rapidamente até o quarto de hóspedes com os outros dois atrás. Ela está indignada.
A luz do cômodo é acesa, e a cena é completamente diferente do que foi descrita por Vitória. Colchões espalhados, lençóis revirados e travesseiros bagunçados.
— Você... você mentiu! — exclama Núbia.
— Você não tinha dito que arrumou tudo isso, Vitória? — pergunta Alex, adentrando ainda mais no quarto. Vitória se mantém imóvel na porta.
— M-mas... gente... — gagueja, assustada.
Núbia está no meio do lugar e analisa-o minuciosamente. Alex caminha até um armário com gavetas no fundo da sala. Assim que abre a porta, as roupas que Vitória afirmou ter organizado caem em seus pés.
— Vitória... você nunca esteve nesse quarto... — indaga Alex.
— Eu... eu estive sim! Por favor, acreditem em mim — implora ela. —Eu organizei os colchões, sim... mas as roupas eu só joguei ali... Eu disse que tinha organizado pra vocês não pensarem que...
— Que você matou a Grazy! Sua assassina! — diz Nubia avançando em direção a ela.
— Não, Nubia! Se afasta!
Vitória tira uma faca do bolso. Não é a mesma usada no assassinato da Grazy. Ela a aponta para a menina, que para imediatamente.
— Vitória! Não! Pelo amor de Deus, fica calma! — grita Alex chegando ao lado de Núbia e tentado trazê-la para trás.
— Eu tô calma, eu só preciso que vocês me escutem! — ela está chorando, desesperada. Não parece que ela quer matar ninguém. — Eu vim aqui pro quarto, sim! Eu só não organizei as roupas! Não foi eu quem matou a Grazy!
— Vi, a gente te entende. — Nubia anda para trás sendo empurrada por Alex. Ao mesmo tempo, ela tenta acalmá-la. — E se você matou ela, tá tudo bem. Nós somos seus amigos e vai ser assim até o fim.
— Não, não, não, Núbia. Você não tá entendendo.
— Vitória, a gente só precisa que você abaixe a faca. Aliás, onde conseguiu ela?
— Eu fiquei assustada com o que o Alex disse sobre uma de nós sermos a assassina. Então, eu peguei isso só pra me proteger quando fomos na cozinha. Mas juro, eu não fiz nada com a Grazy. — a faca ainda está levantada apontando para os dois.
— Tudo bem, Vi. Tudo bem. Agora, você pode colocar a ela no chão. Eu e o Alex acreditamos em você, não é, Alex?
Quando Núbia percebe, Alex está muito na frente dela. Ele a empurrou para trás e enquanto ela ia de costas, ele avançava. Foi imperceptível.
— Eu quero que você morra, sua assassina! — Alex corre até Vitória.
A faca desliza para dentro dele com extrema facilidade. Instantaneamente o sangue começa a escorrer. O golpe dado na barriga arde como fogo. Vitória, assustada, puxa de volta. Sem forças, ele cai no chão e começa a ofegar, sentindo dificuldade para respirar. As duas estão com os olhos arregalados, espantadas.
— O que foi que eu fiz... O que foi que eu fiz... — ela entra em estado de choque com a faca ainda na mão.
— Vitória, calma. Fica calma. Olha aqui pra mim. — ambas estão chorando. — Eu preciso que você fique calma. Vamos enfrentar isso juntas. O Alex era um idiota mesmo, ele merecia morrer.
Não parece, mas Núbia está completamente sem chão. Ela só está soltando palavras sem saber para tentar sair viva dessa situação. Andando, ela passa por cima do corpo de Alex que, neste momento, já parou de respirar.
— Olha só, passa isso aqui pra mim. Fica calma, isso. — Núbia está a uma distância de dois metros da menina.
— Eu não devia ter feito isso, Núbia. Me desculpa, por favor. Eu não devia ter feito isso. — Vitória enlouqueceu. Ela olha espantada para as próprias mãos e para sua amiga. Ela está frágil.
Núbia estende a mão, tremendo, em um gesto gentil.
— Por favor. Vamos acabar com essa noite.
Sem ter muita noção do que está fazendo, Vitória cede e entrega a faca.
— Muito bem. Fica calma. A gente vai sair dessa. Vem cá. — Núbia envolve-a em um abraço. — A gente vai sair dessa.
Em um movimento rápido, ela afunda a faca rapidamente nas costas de Vitória. Se um golpe pela frente dói, imagine pelas costas. Núbia sente o peso dela aumentar e a solta, fazendo ela cair de joelhos aos seus pés sem dizer uma palavra.
Ajoelhada, Vitória já sabe como isso vai acabar e já aceitou.
Ainda em pé, Núbia agarra o rosto da amiga e o ergue para poder ver sua expressão.
— Isso é pela Grazy. — mais uma facada, dessa vez no peito. — E isso é pelo Alex.
Ela, praticamente rasga o peito da outra. Sangue jorra pra todo lado, encharcando tudo ao redor. Vitória cai de lado com um baque surdo no chão.
As mãos de Núbia se abrem e a faca cai no chão produzindo um barulho estridente. Ela senta sobre os joelhos. Seu rosto não expressa nada.
Ao longe, é possível ouvir sons de sirenes de polícia chegando perto.
É o fim da noite, mas não o fim do mistério.
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Preliminares de Uma Noite Sangrenta
Mystery / ThrillerUm crime. Três versões. Em quem você vai acreditar? Em uma noite, Alex, Grazyella, Núbia e Vitória, fazem uma reunião entre amigos. Mas é quando o corpo de Grazy é encontrado que tudo começa a ficar cada vez mais misterioso. Cada um tem a sua versão...