Epílogo

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Sexta-feira, 23:01

12 minutos antes da morte

Essa noite está mais fria que o normal. Estranho. As nuvens no céu escondem as estrelas. Isso é mais estranho ainda.

Dirijo minha moto através de umas ruas com pouca iluminação. Minha cabeça está completamente distraída. Viro uma esquina e procuro pelo número 158. 

11 minutos

Hoje, infelizmente, é meu último dia na pizzaria. Os clientes têm reclamado que estou demorando demais nas entregas. Amanhã vão colocar outro em meu lugar.

Trabalho a pouco tempo entregando pizzas, mas com o dinheiro que consigo, ajudo minha família com o que posso. Por isso estou com raiva. Tanta raiva que poderia matar alguém. Acho que vou fazer isso.

Encontrei a casa. 

10 minutos

Desço da moto, vou até a porta e toco a campainha. Aproveito esse momento pra tirar a pizza da caixa. Fico esperando.

9 minutos

Não escuto nenhum sinal de que tenha alguém na casa. E se eu entrasse? É meu último dia mesmo... De que importa?

8 minutos

A pizza está esfriando. É engraçado, os mesmos clientes que reclamam da demora da entrega são os mesmos que demoram pra atender o entregador. Curioso isso.

Estou me cansando e ficando mais irritado que o normal.

Vou esperar mais um pouco. 

7 minutos

Eu entro.

Assim que abro a porta e ando pela casa, chego na cozinha e vejo um menino lavando louças de costas para mim. Penso em chamá-lo, mas acho que só causaria transtorno.

— Vi, pode colocar aí em cima da mesa, por favor. — diz o menino.

6 minutos

Silenciosamente, coloco a pizza na mesa, ao lado de uma faca. Espera. Uma faca. Eu pego-a.

Eu poderia muito bem matar o menino aqui mesmo, neste lugar, porém, penso melhor e desisto. Aqui é muito aberto e, pode ter mais gente na casa. Então, sigo avançando por um longo corredor.

5 minutos

Neste corredor, há várias portas. Ao passar na frente de uma, me assusto com a voz de uma menina.

— Alex, você pode me trazer um rolo de papel higiênico, por favor? —diz a voz.

Me seguro para não rir e prossigo, ignorando a garota.

4 minutos

Ainda caminhando, quase sou flagrado. É por isso que temos que estar sempre atentos.

Uma menina, que estava batendo em um travesseiro dentro de um quarto olhou pra mim, mas eu consegui ser mais rápido e passei correndo.

Só consegui ouvi-la dando um murmuro.

— Nubia! Pelo amor de Deus, que susto. — disse ela.

3 minutos

Chego ao fim do corredor e me deparo com uma escada. Com um esforço muito grande, subo.

2 minutos

Quando chego no andar de cima, a porta do primeiro quarto à esquerda está aberta. Nele, há uma menina procurando por algo que não faço a mínima ideia do que seja. Observo ela por um tempo, escondido.

1 minuto

Acho que aqui é um bom lugar para matar. Para morrer também, mas não vejo tanta graça nisso. Prefiro estar do outro lado. Os vilões são sempre mais empolgantes.

Aproveito que a menina está de costas para mim e entro sorrateiramente no quarto.

Hora da morte

De uma vez, passo a faca pelo seu pescoço que esguicha um sangue roxo-avermelhado. Ela não consegue emitir uma palavra. Sangue sai da sua boca também.

Apoio o peso dela sobre mim e dou mais uma facada. Ou melhor, duas. Só pra garantir.

Coloco o corpo dela cuidadosamente no chão para que não faça barulho e saio do quarto rapidamente fechando a porta ao me retirar. Desço os degraus assustado e com medo de ser descoberto.

Estou quase chegando no corredor quando escuto vozes conversando na sala. E agora? Não tenho por onde sair. Vou me esconder.

Entro correndo no primeiro quarto que vejo. O quarto que a menina estava arrumando as coisas. Realmente, está tudo perfeito. 

No fundo do quarto, vejo uma janela. A minha salvação! É por ali que vou fugir. Passo apressadamente por cima dos colchões, lençóis e travesseiros dando umas tropeçadas de vez em quando. Lá na sala, ouço uma garota gritar perguntando sobre uma tal de Grazyella. Ops. Deve ser a lá de cima.

Antes de pular a janela, dou uma olhada pra trás. Caraca. O quarto que, antes estava organizado, agora está uma bagunça total por minha culpa. Eles que se virem.

Dou um salto pela janela e caio na lateral da casa, sobre umas folhas. Me levanto, vou até a frente e, ao ligar a moto, ouço o grito dos três achando o corpo.

Acelero e dirijo pela noite.

Preliminares de Uma Noite SangrentaOnde histórias criam vida. Descubra agora