midnights × byler

snow on the beach

“e é como neve na praia
estranho, mas lindo pra caralho
você me querendo
esta noite, parece impossível
mas está acontecendo
sem som, está por toda parte
como neve na praia”

××

O simples som agudo do ruído da rádio fazia sua cabeça gritar em dor latente que parecia não ir embora mesmo com aspirina que sua irmã prestativa lhe deu logo quando o Sol raiou.

Bem, não tão prestativa assim, visto que estava rindo alto com a namorada no quarto enquanto Will se enfiava cada vez mais e mais no sofá, tentando focar nas letras de Orgulho e Preconceito em suas mãos, mas sequer conseguiu passar da cena em que Lizzy chega na casa do Sr. Darcy por sua irmã; a mágica do momento não estava tocando-o nem um pouquinho.

Porque foi Mike quem lhe convenceu a ler essa porcaria de livro, foi Mike quem o mostrou a cena do leve toque das mãos de Sr. Darcy e Elizabeth, foi ele quem o fez se apaixonar por romances de época.

Mike fez Will se apaixonar por muitas coisas, todas parecendo rodeá-lo naquela manhã ensolarada demais para seu gosto.

Mas agora… estava tudo acabado, não estava?

Sem mais piadinhas sobre o café que Mike tomava, sem mais memes no Instagram, sem mais teorias sobre as músicas da Taylor, sem mais leitura conjunta de seus livros favoritos.

Tudo por causa de uma noite de bebedeira.

Will definitivamente nunca mais iria tocar seus lábios em uma bebida alcoólica novamente.

Como pôde perder o que nunca teve?

Mike nunca o viu com olhos românticos, e mesmo assim Will conseguiu pôr a perder o pouco que tinham.

Suspirou pesadamente, fechando o livro com toda delicadeza possível, embora quisesse jogá-lo no chão e pisoteá-lo até seu fim; não era uma pessoa violenta e não estava exatamente confortável em mudar isso em si apenas pelo Wheeler.

E seu suspiro se tornou um bufo assim que três toques foram ouvidos em sua porta, o som parecendo muito mais como badaladas de uma igreja gótica de séculos passados.

Também não era uma pessoa estressada, mas estava descobrindo uma parte obscura de si graças a um pequeno teor alcoólico em seu sangue.

Deixou o livro de lado e se levantou, tremendo levemente com seus pés descalços entrando em contato com o chão gelado; caminhando até a porta com a feição mais rabugenta que era capaz de fazer, com direito a um biquinho, como ainda tinha o costume de fazer.

Mais dois toques foram ouvidos no momento em que o Byers abriu a porta, pegando um Mike descabelado no ato de bater na porta novamente, como se alguém não tivesse sido capaz de ouvir seus toques em um raio de cinco quilômetros.

Will nunca entendeu muito bem como os livros e filmes descreviam o momento em que sua mente simplesmente trava, seu rosto surpreso ficando assim por bons longos e constrangedores segundos, sua voz esticando em uma sílaba para que sua mente tenha tempo para voltar a trabalhar, mas nada parece certo de se dizer, ou até mesmo de se pensar.

Agora, Will sabe exatamente como é.

Porque era Mike ali. Não o intocável Mike, não o sexy Mike e muito menos o longínquo Mike. Ele estava descabelado, seus olhos cansados de sono, com cheiro de desodorante embora fosse necessário um banho, e era tão…tão real.

Tão real que doía.

Quando seus olhos se encontraram, Mike desceu seu olhar novamente, e Will corou ao finalmente se lembrar de como estava vestido, não muito melhor que o Wheeler.