midnights × byler

lavender haze

"eu estive sob escrutínio
você lida com isso maravilhosamente
toda essa merda é nova para mim
eu sinto a névoa do amor me alcançando
surreal"

××

Sinceramente, ninguém entendia muito bem como Mike e Will foram de desastres-corados para excessivamente-apaixonados, mas bastava notar seus sorrisos contentes após tanta enrolação; talvez não precisassem entender absolutamente nada, apenas apoiá-los em seus sussurros não discretos e brincadeiras de footsie por baixo da mesa, como bobos e chatos adolescentes em seu primeiro namoro.

Will pensou que fosse odiar ficar sempre tão próximo de alguém, usando todo seu tempo livre para o tal, mas era...incrível, na melhor das hipóteses.

Começavam o dia conversando pertinho em frente às suas respectivas salas, Mike tinha o hálito em uma mistura de pasta de dente e café açucarado, Will se derreteu e se pegou viciado em seu perfume, em como sua voz era rouca na manhã e como suas sardas ficavam ainda mais nítidas, lembrando gotinhas de tinta em um quadro adorável que Will aprendeu a decorar.

No almoço sequer prestavam atenção na conversa que acontecia ao seu redor, perdidos em seus olhares e em suas brincadeiras por baixo da mesa; céus, estavam até mesmo fazendo footsie, como aqueles casais de comédias românticas. Era tão, tão irreal. Às vezes, tinha de se beliscar para realmente acreditar que estava acontecendo.

Caminhavam lentamente pelo campus quando - finalmente - o sinal tocava, conversando sobre seus dias, sobre suas músicas favoritas, filmes favoritos, artistas favoritos e até mesmo discutiam sobre seus gostos, às vezes tão absurdamente diferentes; a tarde se passava por trás de suas palavras, o céu se pintando em cores dos mais diferentes e mais belos tons, misturando azul, amarelo, laranja, rosa e roxo tudo em um só, e os garotos apreciavam esses momentos em silêncio conjunto; o quão íntimo era apreciar o pôr do Sol ao lado de sua pessoa favorita?

E era apenas tão fácil de simplesmente existir em torno de Mike, ele trazia uma animação incomum para seus dias, lhe corava as bochechas até quando estava muito longe de seu olhar, em questão de segundos transformava as borboletas em seu estômago em delicadas e belas flores, macias e calmas, logo voltando a se transformarem em caóticas borboletas, sua derme gelada se transformava em fogo quando Mike o tocava, tão delicada e rapidamente, mas causando uma marca eterna que Will se lembraria para sempre.

Mike não estava diferente.

Após tantos casos rápidos, tinha até se esquecido como era ser verdadeiramente amado, e o mais importante, tinha se esquecido como era amar verdadeiramente.

Talvez estivesse se precipitando, chamando de amor esse sentimento avassalador mas igualmente calmo; mas não se importava em se precipitar por Will. Adorava poder chamar tudo que sentia de amor, como antes sempre tivera medo de fazer.

Porque era Will.

Will que tinha o perfume de baunilha, que não se importava em ficar pertinho no corredor, que o deixava tocar suas pintinhas e deitar a cabeça em seu ombro durante o almoço, que o mandava todo dia músicas que o lembravam de Mike, que corava tão, tão facilmente, que gostava de brincar com os fios de cabelo do Wheeler, que saía da faculdade todos os dias com os dedos sujos de tinta, que falava tão apaixonadamente sobre sua arte, sobre as cores do céu, sobre as flores e abelhas do campus, Will...

Qualquer coisa valia a pena por Will.

Por isso, mesmo odiando quando sua camisa do Kiss molhava, mesmo odiando correr com suas botas pretas e mesmo odiando raios altos, não se importou com mais nada disso, porque enquanto deixavam o prédio em tons escuros, o céu visível se escureceu rapidamente com pesadas nuvens molhadas, o chão de concreto se pintava com gotinhas d'água como um quadro antigo, e Will lhe deu aquele olhar. Aquele olhar sapeca que às vezes lhe beijava o rosto, como uma criança criando um plano mirabolante em sua mente, e sequer precisavam de palavras, Mike simplesmente sabia o que o garoto queria, aprendeu a interpretar cada olhar que recebia, estava apaixonado por ler Will cada vez mais, como um livro incansável.