Metamorfose

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  Tenho que procurar comida na floresta próxima enquanto tem um bicho atro de mim. Me lembro de estar saindo da vila para procurar comida e acabei me deparando com esse monstro, com uma cabeça humana saindo de seu peito, quatro braços negros e as mãos eram como tesouras, suas pernas tinham várias bocas envoltas. E agora estou me escondendo em uma casa abandonada, todos os móveis estão destruídos e o piso está todo arranhado, vou ter que me esconder já que um pedaço de cano afiado na ponta não vai me salvar daquela coisa.

  Consegui encontrar um porão que estava por debaixo de um tapete com sangue seco, o lugar está todo escuro e a única luz é de um buraco no teto que dava para um dos quartos. Vou descendo lentamente até que escuto algo caindo, paro e observo se algo se mexe, mas logo minha concentração é quebrada por conta do grunhido vindo da frente da casa, não tenho escolha se não entrar e torcer para que o que tenha aqui seja apenas um rato e não um bicho daqueles.

  Agora não tem mais volta, termino de descer as escadas e agora que meus olhos já se adaptaram mais a escuridão, consigo ver diversas caixas, algumas delas entreabertas e com moscas rodeando-as, pelo menos o cheiro vai me mascarar por enquanto. Vou olhar as caixas que estão fechadas para ver se acho algo de útil. Olha só, temos cobertores e algumas roupas grossas. De repente minha procura é interrompida por um flash que pega todo o lugar, não estou enxergando nada e... estou perdendo a consciência... droga... é um...

...

  Minha cabeça tá doendo e minha visão está turva, o que aconteceu? Ah! Aquele bicho, cadê ele! O que é isso? Tem algo debaixo da minha camisa, mas está muito escuro para ver algo. Me lembro de ver uma lanterna em uma das caixas, aqui! Mas que droga é essa?? Tem uma coisa vermelha com veias negras pulsando, droga... está ligado no meu coração, por que tinha que ser um parasita logo agora. Vou pegar as coisas e sair daqui. Será que aquele monstro já foi embora? Vou levantar um pouco o alçapão e ver se está seguro. Não ouço ele, deve ter desistido, e parece que já está anoitecendo, por quanto tempo fiquei apagado? Quando estou saindo da casa consigo ver aquele grande monstro no chão, ele morreu?! Tem um buraco no peito dele. Eu vou apenas agradecer à pessoa que fez isso, em seguida saio em direção a vila.

  Depois de meia hora conseguir avistar a entrada da vila. Mas terei que pular o muro para entrar, se não irão desconfiar. Pronto, agora é só me esgueirar até minha tenda para ver o que fazer depois. *Sussurro "Droga, eles tinham que estar na minha tenda logo hoje?" digo enquanto me escondo atrás de alguns caixotes e observo alguns "fiscais" que estão me procurando para cobrar a estádia. Ai, minha cabeça tá doendo de novo e minha visão está ficando embaçada. De repente sinto meus pés se mexendo sozinhos, o pisar na grama ficado cada vez mais rápido e em seguida gritos acompanhados do som de lâminas cortando o ar, após alguns segundos tudo fica em silêncio e finalmente a dor de cabeça parou e minha visão volta ao normal.

  "O que é isso?!" exclamo em espanto com a cena em minha frente com diversos membros de corpos separados, pedaços de braços, mãos, cabeças, tórax, pernas e uma bagunça de sangue por toda a tenda, e é incrível como os corpos têm em comum o fato de terem um buraco em seu peito... Coloco as mãos no rosto, mas finalmente percebo algo inesperado no meu corpo, a blusa acabou toda rasgada e aquele parasita se estendeu pro meu braço e aparentemente para um dos meus pulmões, já que sinto um cheiro muito forte de sangue, meu braço agora é algo rígido, como uma rocha com diversas partes formando lâminas por toda a extensão e principalmente nos dedos que agora se tornaram pontas extremamente afiadas.

  Ainda sinto um pouco de resistência para move-lo, deve ser o maldito do parasita querendo tomar o controle do meu corpo. Isso é absurdo, se eu tento chegar uma faca próximo desse braço ele se parte no local próximo à lâmina e as partes começam a se mexerem de forma independente em busca do punhal e assim atacando o agressor, mas claro que não seria tão idiota de atacar sua reserva de nutrientes.

...

  Após alguns minutos finalmente consegui esconder os corpos e limpar todo o sangue. Pego alguns trapos para enrolar em volta do braço e escolho a blusa mais grossa das que achei naquela casa para me esconder. Pronto, agora vou ao doutor, ele deve conseguir me ajudar a entender o que está acontecendo além de que já me ajudou a estudar alguns monstros e a tratar um dos senhores que morava perto de mim que teve um parasita em sua perna. Observo o entorno e quando confirmo que não tem ninguém por perto finalmente saio em direção a clínica do doutor.

  Após alguns quase encontros com outros sobreviventes finalmente consigo avistar a entrada da clínica e está fechada. Dou a volta e chego até a porta dos fundos do lugar, mas está trancada por dentro. Decido arriscar e usar aquele braço para arrombar a porta e funciona, quebrando apenas a área da maçaneta eu empurro a porta e vejo um lance de escadas para cima e um corredor estreito ao lado da escada, ambos os caminhos têm iluminação ao longe. Acho que ele estaria no 2º andar essa hora.

  Quando começo a subir as escadas ouço um estalar da madeira atrás de mim, "Se você se virar morre, se entendeu balance a cabeça" A voz inconfundível do doutor disse, "Sou eu, seu aluno irresponsável" respondi enquanto permanecia com as mãos estendidas para o alto. Após virar meu rosto vejo que ele já havia abaixado a arma e estava vindo me dar um abraço, mas o impedi mostrando o que estava por debaixo da blusa.

  Depois de algumas xícaras de calmante ele me explicou que como supus era um parasita, mas estava se espalhando mais rápido que os normais e que seria arriscado retirá-lo, já que a chance de meu coração ser destruído no processo é extremamente alto, além de que não há garantia que ele vá realmente morrer depois de retirado.

  Acho que meu destino está fadado a ser breve. Perguntei sobre eu me matar e levar o parasita junto, ele foi extremamente relutante quanto a isso e me proibiu de fazê-lo. A única opção restante foi tentar retroceder seu avanço ao máximo enquanto procuro uma das cidades restantes para uma reestruturação genética, ele me ajudou a cobrir melhor o braço direito que estava contaminado e me deu varias doses de um veneno controlado, dosado exatamente para não me matar, mas apenas forçar o parasita a filtrar o veneno ao invés de se espalhar.

  Já havia se passado várias horas que estávamos acordados e já estava amanhecendo, então estava me preparando para partir em busca de uma cura quando percebo o doutor virado para janela e chorando, ele retirou os óculos e secou as lágrimas com a blusa, "Nunca imaginei que o meu primeiro e único filho teria um destino tão trágico assim, me pergunto se eu poderia ter mudado tal situação...", ele disse e enquanto isso eu esfregava a mão em seu ombro,

   "Infelizmente a nossa vida nesse mundo não é feliz, só podemos tentar amenizar a dor que nos atinge", eu disse como tentativa de tentar conforta-lo, retirei minha mão de seu ombro e forçando a visão consigo notar ao longe uma multidão pela janela.

   "ELES ESTÃO LÁ DENTRO, MATEM O MONSTRO!!!" Um grito vindo de fora da clínica e em seguida os barulhos de TIC-TAC das granadas que foram lançadas contra a instalação. Eu já estava a alguns passos dele e quando ele percebeu que eu iria correr em sua direção ele estendeu a mão para mim, "Viva por nós, meu fi...", antes que conseguisse terminar sua fala diversos pedaços da janela atingiram seu peito e rosto por conta de uma granada jogada na borda dela, isso tudo na minha frente.

   "Eu não me importo mais com isso, por que não consigo encontrar conforto nesse mundo?... chega... SE ARREPENDAM DE SEUS CRIMES COMIGO NO INFERNO DESGRAÇAAADOOOS!!!" Eu gritei enquanto chorava de raiva, e então as outras explosões vieram... os destroços lentamente caiam sobre mim e sobre o corpo do homem que um dia considerei como pai, mas... não vou deixar que acabe assim...

.....

  "Vamos incendiar todo a área, caso algum monstro tenha sobrevivido e depois que o fogo for controlado iremos lamentar a morte do Médico ancião de nossa vila", as pessoas foram se dispersando e alguns pegaram gasolina e começaram a espalhar pelo lugar, até que um grito chama a atenção de todos e quando olham na direção veem uma mulher caída no chão assustada e uma criatura erguendo um dos nossos homens por uma lamina em seu peito, vinda de seu braço.

  "ATE QUE ESSE PARASITA CONSUMA TOTALMENTE MINHA ALMA VOU MATAR CADA UM DE VOCÊS E DEPOIS VOU ATRÁS DAQUELES MONSTROS MISERÁVEIS E LIMPAREI DESSE MUNDO A PAZ!!!" era o que a criatura com braços negros e uma face destruída dizia enquanto o sol nascia por detrás dela.

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