a gente

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Me lembro de quando reparei em você pela primeira vez.

Anos atrás.

Você, com aquelas roupas e óculos quadrados, e aquele cabelo de algodão doce. Rosinha.

Minha princesa jujuba.

Eu não te achei bonita naquele momento, nada nesse livro é mentira, mas depois de reparar em você pela primeira vez, não consegui tirar os olhos mais.

Mesmo sem perceber, eu procurava você e os seus cabelos rosa pelo corredor, no ônibus, até dentro da sua sala quando passava pela porta. E sempre encontrava o sorriso escondido pelas mãos, que eu descobriria que eram macias, e ouvi o som da sua risada.

O que me leva as vezes que você riu pra mim.

E eu não falo das vezes em que estávamos em público, falo das vezes em que era só a gente. E você ria, sem as mãos cobrindo, com a risada alta e os olhos em mim.

O que me leva a quando a gente descobriu que se gostava.

Ah, aquele dia...

Aqueles dias...

Onde a gente usava apelidinhos, fazíamos chamadas que só acabavam quando as duas estavam cansadas demais, os toques carinhosos....

Tudo sutil, porque eu tinha medo demais de te amar.

E eu ainda tenho medo demais de te amar. Porque, até onde sei, seu amor por mim mudou.

Mas não vou falar sobre isso.

Vou falar sobre a gente.

Sobre a primeira vez que você veio aqui. Sobre a primeira vez que a gente "dormiu" juntas. Sobre a primeira vez que você deitou no meu peito e disse o que, durante todo o tempo feliz que seguiu aquilo, foi a minha coisa favorita: Eu amo ouvir seu coração, amor.

A gente dizia eu te amo demais pra quem não se amava de verdade.

Sobre a primeira vez que você realmente dormiu aqui, que também foi o dia que você conheceu minha família. Me lembro de te servir, a sua timidez tomava conta as vezes, e a sua mãozinha segurando meu braço. Sem perceber.

Acho que fomos muito óbvias.

Também lembro daquela mesma noite, quando eu descobri as suas mãos macias e como gostava de quando elas tocavam minhas costas sem a camiseta cobrindo.

São tantas lembranças.

E ainda me culpam por não esquecer tudo isso.

Mas eu não vou. Talvez sejamos assim, desfuncionais, pra funcionar no futuro.

Ou eu só me engano mais uma vez.

Nunca saberemos até que você me encontre mais uma vez.

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