VI. A proposta, parte 1

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Soraya estava em frente a sua chefe. Parada. O silêncio tomava conta do lugar. Simone enfim parou de prestar atenção apenas em seu trabalho e encarou a loira.

- O que foi?- Questiona Simone enquanto organizava seus papéis.

- Pode me explicar o que está acontecendo?

- Fique tranquila, isso é por você também.

- Dá pra explicar?- a mulher de fios claros se senta na cadeira em frente a sua chefe.

- Eles iriam colocar o Bob como chefe.

-E só por isso eu tenho que me casar com você?- Soraya estava um tanto irritada com essa história. Não queria se casar com sua chefe! Nem se o casamento fosse falso! Ela não suportaria ter que aguentar a morena até fora da empresa.

- me diz, Soraya. Qual é o problema?- A morena fala deixando os papéis de lado para focar apenas na conversa com sua assistente - Até parece que você está esperando alguém especial.

- Eu gosto de pensar que estou. E isso é ilegal, Sra Tebet.

- Soraya, por isis, eles estão procurando terroristas, não a gente.

- Simone, eu não vou casar com você. - A loira falou séria. Realmente não queria nem sonhar com essa história.

- Claro que vai! Pois se não se casar comigo nunca irá conseguir publicar o seu livro. Tenho contatos que impediriam isso com facilidade. - A morena volta aos papéis, mas para guarda-los na gaveta de sua mesa- Soraya, o Bob vai te demitir assim que eu for embora. Te garanto. E isso significa que você vai estar na rua procurando por um trabalho. Todo o tempo que passamos juntas, os cafés, reuniões, trabalhos até meia noite, tudo terá sido em vão! E o seu sonho de publicar seu livro desaparecerá. Mas não se preocupe, depois do tempo exigido vamos nos separar e você estará livre de mim, mas até lá goste você ou não, estarás presa a mim.

Agora mais esclarecida, a loira fazia seus dois neurônios trabalharem freneticamente para conseguir o que queria.

- Quero minha promoção e quero editar livros de política. - a loira olhou firme para a morena que a essa altura já estava irritada com sua audácia.

- Nem pensar, Soraya! Pelo menos não agora! - Simone escolhia com cautela suas palavras, mesmo ficando irritada com a loira - Não é assim que as coisas funcionam na diretoria.

- Então eu vou continuar com o emprego, você vai diminuir minha carga de trabalho, me dar um aumento e vai me dar autonomia para editar textos sozinha, - Soraya cruzou os braços e parecia estar irredutível.

- Olha, você não acha que está querendo demais não?- Simone se arrependeu da resposta quando viu uma Soraya irritada querer se levantar do sofá. - Mas tá tudo bem! Vou diminuir isso e aumentar aquilo! O que você quiser!

- Quero minhas férias do ano passado e as desse ano adiantadas. - sua expressão estava cada vez mais relaxada em relação à morena - E a partir de agora Simone, você vai me tratar com respeito e não vai menosprezar meu trabalho, nunca mais.

- Tá certo, eu consigo fazer isso! - a morena estava eufórica. não entendia os caprichos sem sentido da loira, mas iria conseguir o casamento custe o que custar - Não vou conseguir exatamente agora, preciso substituir você durante as férias.

-Ah sim, já ia me esquecendo, você vai tirar férias também! Não quero que a próxima coitada saia chorando do seu escritório logo no primeiro dia. - Soraya riu divertida com uma memória de quando ia fazer a entrevista de uma substituta para ela, deu tão errado que teve de "cancelar" suas férias por conta da morena.

Simone paralisou diante do pedido, a quantos anos não tira férias? Ela se lembra que as últimas que teve foram no tempo de faculdade e depois nunca mais parou de trabalhar.

- Você tá brincando comigo, né garota? Se tá achando que vou largar a minha empresa na mão de incompetente pode tirar seu cavalinho da chuv-

- Quer mesmo terminar essa frase grosseira comigo, Simone? - Soraya levantou uma sobrancelha e olhou desafiadora para sua futura "esposa".

Simone engoliu em seco quando a loira desafiou, coisa que nunca aconteceu antes, preferiu pensar que era melhor fazer os gostos dela do que realmente admitir que se intimidou com a "noiva".

-Ta bom.- a morena pigarreou tentando amenizar sua situação - Só me dá um tempo pra organizar as coisas na editora e arrumar os documentos da imigração

A loira suavizou o rosto, não acreditava que realmente ia entrar nessa loucura de casamento, não sabe como vai contar a familia essa notícia.

- Então, tudo certo? Estou perdoada e "noiva"? - Simone faz aspas com as mãos e olhava ansiosa pela confirmação da loira, se desse certo, tudo voltaria ao normal.

- Somente a parte que está "noiva", Simone, ainda preciso digerir toda essa confusão - Soraya se levanta do sofá e olha firme para a morena, não ia esquecer tão cedo que foi enganada a troco de nada.

A morena engoliu em seco, não estava se sentindo bem apesar de ter conseguido o que queria. Pegou o celular e foi ler o e-mail que seu advogado tinha lhe enviado.

- O advogado recomenda que a gente comece a agir como um casal a partir de agora, excluir redes sociais e se reunir com a sua família o mais rápido possível. - a loira estava enviando alguma mensagem no celular, mas parecia atenta ao que a morena dizia - Ele vai vir aqui amanhã de manhã entregar uns documentos pra nós levarmos à agência de imigração a tarde.

-Certo.- o tom de voz da loira era leve, não parecia, mas disfarçava bem o nervosismo.

Soraya sabia que estava cometendo um crime, só não sabia a gravidade dele, mas é um problema para a futura Soraya resolver, agora tinha tudo planejado e teve de quebra uma promoção de verdade a caminho.

-Eu que vou escolher as alianças, você só faz pagar. - a loira ria internamente, nunca pensou que se casaria com o próprio diabo na terra, muito menos que a faria de gato e sapato para se vingar de tudo o que já teve que fazer por ela.

- Okay. - a morena bufou em descontentamento. E com certeza essa relação não vai voltar a ser a mesma - Mais alguma coisa, "meu bem"? - Simone não conseguiu conter o sarcasmo na voz.

- Por enquanto só isso, "meu amor".- Soraya responde com o mesmo tom de sarcasmo.

As duas ainda não sabiam o que dizer uma para a outra e apenas trocavam olhares, ora irritadas, ora preocupadas. Então decidiram que era melhor irem para casa.

Tocaram um boa noite rápido e se locomoveram até suas casas. Apesar de estarem cansadas, o sono não chegava para nenhuma, aquela seria uma longa noite de pensamentos e divagações de como seria a manhã seguinte.

A proposta - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora