III

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O silêncio que se fazia na mesa de jantar era ensurdecedor.

Por ter sido criada dentro da igreja, eu acabei me acostumando a ter refeições com muitas pessoas e ouvir conversas paralelas enquanto comia. E, apesar de não gostar do barulho que eles faziam, era, sem sombra de dúvidas, um ambiente muito hóspito e acolhedor de se orbitar.

Em comparação com isso, ao julgar pela naturalidade com que os irmãos lidavam com o silêncio ao se alimentar, eu poderia dizer que isso era algo comum na família Sakamaki.

Era desconfortável, principalmente após o que havia acontecido na escola algum tempo atrás. Eu ainda estava vermelha de raiva pela forma como o Ayato atirou minha irmã na piscina, ficou parado nos encarando e depois simplesmente saiu andando como se nada tivesse acontecido.

Tivemos de nos explicar para Reiji o qual pareceu não se importar o suficiente para lidar com a situação e somente nos ofereceu uniformes secos para que não encharcássemos os bancos da limosine.

Em meio a quietude da mesa, o arrastar da cadeira de Shu quebrou a calmaria, me tirando de meus pensamentos.

— Isso aqui é um saco. — isso é tudo o que ele diz enquanto abandona a mesa sem fazer questão de olhar no rosto de nenhum de nós.

— Que asqueroso. — Reiji reclama assim que Shu sai da sala de jantar. — Nada de bom pode vir de um mimadinho desses. — completa parecendo genuinamente irritado.

Reviro os olhos ao que ele disse, enfiando um pedaço de pão na boca.

"Como se você fosse muito diferente." eu mantenho o pensamento para mim.

Tento me concentrar no prato a minha frente, porém, meu objetivo é colocado à prova quando Kanato, o qual estava ao meu lado, começa a destroçar biscoitos de banana da mesma forma que um sociopata mirim.

— Certo, é tudo por hoje. Estão liberados. — o de óculos diz, e, como em um passe de mágica, todos se levantam e começam a sair da sala.

Yui se levanta e olha para mim, me esperando, lhe ofereço um sorriso gentil e faço um sinal para que ela vá na frente. A loira saí, ainda com os seus olhos em mim até que a porta entre nós se feche. Eu termino de mastigar e pego a taça de vinho, tomando o líquido por completo e lambendo os lábios ao terminar, só então eu percebo que Reiji ainda está ali, me encarando como se julgasse cada um de meus atos.

Ignoro o seu olhar fixo em mim, limpo a boca na manga da camisa e me levanto da mesa.

— Espere um momento. — sua voz soa mais como um comando do que um pedido. Mesmo assim, eu paro e olho em sua direção. — Pensei que os modos à mesa de sua irmã fossem deploráveis, infelizmente você ultrapassa todos os limites do que é aceitável. Assim que eu estiver disponível irei lhes dar uma lição sobre isso. Entendido? — seu olhar estava rígido como sempre, porém, com um toque extra de antipatia.

— Mais alguma coisa? — pergunto com um tom de voz sarcástico e uma expressão despreocupada no rosto. Eu só queria ir no meu quarto, tomar um banho quente e esquecer de que eles existem.

Como Reiji não deu respostas, eu lhe dei as costas e fui em direção a porta. Assim que tentei alcançar a maçaneta, senti uma força me puxar para trás. Era Reiji. Sua mão pressionava muito forte o meu ombro, me fazendo cerrar os dentes.

Por conta de seu jeito soberbo nunca pensei que ele estivesse interessado no meu sangue, por isso, não o imaginava como um inimigo, apenas como um cara irritante e mandão que vivia dizendo aos outros o que fazer. Entretanto, vendo-o exibir suas presas tão casualmente para mim me fez lembrar de que, enquanto estivesse naquele lugar, eu estava em perigo constante e deveria me manter sempre alerta. Sem exceções.

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2023 ⏰

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A Irmã KomoriOnde histórias criam vida. Descubra agora