| prólogo |

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— Pattaya, 2019

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— Pattaya, 2019

Ele descobriu que odiava sua mãe mais do que tudo quando tinha oito anos. Começou com um Eu te odeio! pirracento, lá pelos cinco, que em algumas vezes se expressava só com uma batida de pé exagerada, mas em outras com choros compulsivos e socos no rosto dela, porque ele sentia as mãos formigarem e era uma criança difícil de lidar. Aos seis ou sete, passou a conhecer a mordida dos beliscões na carne, e sem saber o que mais isso poderia significar, Sky pensou ser amor. Durou pouco tempo até voltar para a fase inicial do Eu te odeio!, mesmo que já não gritasse mais, não batesse o pé com exagero e nem socasse o rosto de ninguém. Mas ainda chorava compulsivamente em algumas noites. Escondido, só quando tinha certeza de que não podiam ouvir. Foi nessa época, depois de reparar que o sentimento estava instalado bem no meio do seu peito, agindo como ovos de algum parasita que eclodiriam em pouco tempo com o calor da violência numa promessa de que nunca mais o abandonariam, que Sky percebeu que talvez a odiasse de verdade.

As larvas nascidas do ódio pela própria mãe ainda vibravam e o devoravam de dentro para fora quando, anos mais tarde, Sky pensava no sorriso doente que ela tinha ao falar para ele melhorar a cara e ser um bom menino. Devoravam suas costelas naquele momento, enquanto ele dava a última checada na própria aparência.

Era tarde, e a falta de iluminação decente daquele banheiro ridículo atrapalhava um processo importante para a sua noite. Usou o dedo para espalhar melhor o gloss vermelho nos lábios e prendeu a respiração até contar trinta segundos, como costumava fazer no passado. Um costume antigo, herança familiar. Tática para os dias mais difíceis.

O reflexo no espelho sujo sorriu algumas vezes, e Sky admirou seus lábios pegajosos bonitos demais para pertencerem àquele rosto deplorável. Precisou esperar por mais um minuto inteiro até se sentir pronto.

— Seja um bom menino — resmungou a si mesmo, antes de se dar as costas.

Com seus saltos finos e um sorriso decidido, Sky rebolou para fora do banheiro.

— Bangkok, 2019

Era perto das 7h da manhã quando Praphai o viu pela primeira vez. Já havia se passado mais de um mês desde o início do semestre na faculdade, e ele ainda não gostava muito de quase nada dali — apesar de ter encontrado Phayu, um cara meio esquisito que bebia provavelmente mais do que seria considerado saudável. Praphai não estava muito dedicado em fazer amizades naquele ano, e Phayu era muito bom não ligando para a sua falta de interesse constante, então eles se entenderam rápido.

Ainda assim, nada era realmente legal ou interessante o suficiente.

Mas naquela manhã, enquanto Praphai tentava convencer Phayu de que beber vinho tão cedo não era uma boa ideia mesmo no frio, Sky entrou na sala de aula sorrindo como se o mundo inteiro fosse dele.

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