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PARTE SEIS; marcas de cinzas

Bangkok, 2022

Um guarda-chuva de papel verde rodopiou no ar até repousar em sua mesa. Sky pegou o origami, bufou e o segurou firme entre os dedos, entortando sem querer um dos lados.

— Ei! — Praphai tentou espiar por cima de seus ombros. — Você desfez?

— Shhh, estou prestando atenção na aula.

— Sky, cuidado pra não amassar, ok? — ele sussurrou perto de seu ouvido. — Demorei pra fazer esse.

Sky se esquivou do hálito quente acertando a lateral de seu pescoço, arrastando um pouco a cadeira para a frente.

— Ei, espera, não se afaste de mim, não sem me responder antes! Você desfez o origami? Hein? Deixa eu ver!

— Que chatice. — Sky fechou os olhos por alguns segundos e se virou para poder mostrar que o origami de guarda-chuva estava apenas um pouco danificado, mas ainda inteiro. Depois o jogou dentro da mochila e olhou de relance para trás, seu rosto pegando fogo. — Feliz agora, perturbação?

Praphai sorriu e apoiou o queixo em uma das mãos.

— Quantos você já guardou?

Eu estou tentando prestar atenção na aula. — Sky lançou a ele mais um olhar de repreensão, bastante enfático, e se voltou para o professor.

Desde que Praphai havia começado a sentar atrás dele na aula, e desde que havia começado a ir todos os finais de semana para Pattaya, Sky não teve mais muito tempo de paz. Estava tentando aprender a lidar com ele tanto quanto Praphai surpreendentemente parecia estar aprendendo a lidar com o seu jeito, mas era mais difícil do que jamais imaginou que seria.

Praphai era, bem-dizendo, impossível.

Mesmo quando Sky começou a guardar as porras dos origamis, ele não parou de incomodá-lo, ainda que agora estivesse sorrindo com bastante frequência. Sua teoria inicial de que Praphai fazia tudo aquilo só para vê-lo irritado já tinha ido para o saco havia muito tempo.

Quer dizer, não que Sky conseguisse controlar muito bem o próprio temperamento (porque, cacete, não tinha mesmo solução), mas pelo menos não ficava mais tão explosivo o tempo todo... e de nada adiantou. Irritando-o ou não, Praphai continuava firme.

No fim da aula, ele o acompanhou para fora da sala, como sempre fazia, e, também como sempre fazia, começou a cumprimentar as pessoas que passavam por eles e paravam para conversar. Outra coisa com a qual Sky estava lutando para se acostumar. Antes, Praphai e ele ficavam juntos apenas eventualmente, além de ser tudo muito rápido, e Sky nunca se importava o suficiente para reparar na quantidade de gente que enchia o saco simplesmente por ver Praphai pelos corredores.

Agora, precisava lidar com desconhecidos a cada dez minutos a troco de nada.

— Não sei como você aguenta — reclamou depois que a terceira pessoa se despediu. — Esse povo nem é seu amigo.

— Ah, eles são gentis. — Praphai abriu um sorriso grande, como costumava fazer quando não se importava com a conversa atual e estava prestes a mudar o assunto para algo que considerava mil vezes melhor. — Sabe, eu estava pensando... — cantarolou. — E você podia almoçar comigo e com o Phayu, né? Só hoje?

Sky nem olhou para ele.

— Já disse que não tenho nenhum interesse nisso — respondeu. — A mesa de vocês está sempre lotada, e eu gosto mesmo de comer em silêncio.

Origamis de Pele | prapaiskyOnde histórias criam vida. Descubra agora