Parte I

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"If one thing had been different, would everything be different today?"

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Agosto, 2021

- Querido, nós deveríamos fazer alguma coisa? Ele pode quebrar um braço, uma perna ou até mesmo o pescoço.

- Não. O garoto pratica esportes desde os nove anos, tem ossos fortes, com certeza. Vamos apenas ver o que acontece.

Miles e Mary Sharma, protegidos sob a penumbra da noite e apoiados na janela de sua cozinha, vigiavam atentamente Anthony Bridgerton escalar a enorme árvore nos fundos de seu quintal. O carvalho tinha uma posição privilegiada, com galhos grossos pairando sobre um pedaço específico do telhado. Mais precisamente a área exata em que estava situada a estimada janela de acesso ao quarto de Kate, destino habitual do jovem Bridgerton há algumas semanas.

Surpreendendo um total de zero pessoas, Miles não desfrutava de uma boa noite de sono desde que a saga das escapadas noturnas "secretas" do primogênito dos Bridgertons havia começado. Era o último verão antes de Anthony ir para Oxford, localizada a mais de duas horas e meia de distância de sua casa. Ainda faltava pouco mais de um ano para Kate se juntar a ele no mundo universitário e apenas a perspectiva da breve separação os deixou ainda mais apegados - o que parecia ser humanamente impossível para aqueles dois.

O excesso de proximidade era um pouco alarmante na cabeça superprotetora e preocupada do pai de uma adolescente de dezessete anos. E ter Edmund Bridgerton insistindo em apresentá-lo para o mundo como "o sogro do meu filho", não estava realmente ajudando na manutenção de sua saúde mental. O fato de que tal filho vinha se arrastando para a cama de Kate, quase todas as noites, era motivo o suficiente para não o deixar esquecer desse título. Com certeza, não havia a menor necessidade de também ser lembrado disso pelo patriarca dos Bridgertons.

Apesar da implicância, Miles não tinha problemas com Anthony. Muito pelo contrário, ele gostava demais daquele garoto. Era irritantemente bonito, educado e cuidadoso para um rapaz de apenas dezoito anos. Dedicava boa parte de seu tempo a Kate, sendo notável o seu interesse genuíno por suas opiniões, sentimentos e sonhos. E a forma devota como ele a encarava fazia seu peito ser preenchido por uma sensação agradável e reconfortante. Era exatamente esse tipo de amor leve e seguro que desejava para sua filha.

Talvez esse fosse o maior problema.

A presença do jovem Anthony era um lembrete constante de que a sua Tulipinha - como a chamava carinhosamente desde a primeira vez que a segurou em seus braços - estava crescendo e desabrochando.

Ele suspirou resignado, envolvendo Mary em um abraço de lado, enquanto observavam o rapaz alcançar a janela de Kate. O lindo sorriso no rosto de sua filha, ao receber um beijo casto na testa, fez seus próprios lábios se curvarem para cima.

- Eles são tão adoráveis... - Mary sussurrou encantada e ele só pôde concordar.

Toda a cena o fez pensar em como seu velho amigo Edmund criou um ser humano de quem poderia se orgulhar.

Ele e Violet eram seus vizinhos e amigos queridos de anos. Os conheceram quando a prolífica família de dez pessoas, ainda se restringia ao número de oito integrantes. Na época, os Bridgertons eram compostos por Ed e Vy, as crianças mais velhas Anthony e Benedict, de oito e sete anos respectivamente, os gêmeos Colin e Daphne, de cinco anos, e as pequenas Eloise, beirando os seus quatro anos, e Francesca de um ano e nove meses.

Os Sharmas se mudaram para as terras de Kent quando sua Kathani estava no auge dos seis anos, e a caçula Edwina ainda completaria quatro. Desde o primeiro dia de convivência das crianças, os pais perceberam que um vínculo especial germinava entre os mais velhos. Ant, Ben e Katie eram inseparáveis. Aparentemente, os meninos se encantaram à primeira vista pela atitude destemida e sagaz da primogênita dos Sharmas, ao não se intimidar com o travesso Anthony e acertar em cheio seu estômago com um soco, depois dele arrancar a cabeça de sua boneca favorita. No dia seguinte, o menino tocou sua campainha, com Benedict a tiracolo, implorando-a para brincar com eles de novo. Kate rapidamente se tornou integrante fixa das aventuras diárias dos garotos nos campos vastos de sua propriedade. Longas tardes de mergulhos no lago, infinitos jogos de competição, noites de acampamento no quintal e festas do pijama regada a açúcar e filmes da Disney marcaram os primeiros anos de amizade do trio.

Paper Rings ▪ KathonyOnde histórias criam vida. Descubra agora