Nem que cem anos tivessem passado ou eles estivessem meio uma multidão, Sam o reconheceria.
Freddie ainda usava o mesmo penteado brega no topo da cabeça, e Sam queria ridicularizá-lo, se ainda sentisse que fossem próximos.
Ser esquecida por uma pessoa tão importante na sua vida, não era agradável. Sam mantinha uma luta interna dentro de si, pois, ao mesmo tempo em que queria correr e abraçá-lo, mantinha preso o instinto de surrá-lo por cada dor durante esses anos.
Freddie durou o olhar sob Sam, sem reação além da surpresa e choque.
— Sr. Benson, é um prazer revê-lo! Pena que seja entre circunstância tão desfavorável — pronunciou-se a Sra. Poley, oferecendo sua mão para um aperto.
Freddie voltou-se para o rosto gorducho da Sra. Poley, observando a mão dela no ar, mas sem racionar por alguns segundos.
Quando ele finalmente voltou a si, pigarreou e respondeu:
— Digo o mesmo Sra. Poley — se adiantou e apertou a mão da senhora, sorrindo educadamente.
Depois disso a visão dele foi até a Sam segurando o seu filho no colo. Sam não conseguiu ler a expressão no rosto do amigo, mas poderia dizer que Freddie não estava nada feliz. Ele enrijeceu o corpo, indo até os dois e tomando Sean dos seus braços sem gentileza.
— Oi, garotão! — disse ele carinhosamente, evitando contato visual com a velha amiga.
Sean se deitou sobre os ombros do pai, e pela primeira vez no dia brotou um sorriso no rosto da criança .
“Idêntico ao de Freddie quando sorri.”
— O que aconteceu exatamente? — perguntou finalmente, acariciando os cabelos do filho. — Sua secretaria me ligou e informou que houve um incidente.
Seus olhos correram para Sam involuntariamente, acusatórios.
— Ah, sim. Não foi nada agravante. Vou lhe explicar tudo com calma, obviamente. Porém, antes, gostaria de aproveitar a oportunidade e lhe apresentar a Sta. Samantha Puckett. Ela é a professora responsável pelo Sean. — disse Sra. Poley. — Também foi ela quem o trouxe até a direção.
Seus olhos saltaram das órbitas como costumava acontecer nos tempos de iCarly, mas nada foi dito por ele. Freddie encarou a amiga num misto de admiração e reprovação, agindo como se não se conhecessem.
— Papai é a Sam do iCarly — disse Sean animado, o dedo indicador minúsculo apontado para Sam. — A sua amiga de infância, não é?
Sam sentiu o sangue do rosto subir e ferver. Freddie ficou desconcertado, balbuciando palavras incoerentes. A única pasma com a afirmação do Sean na sala era a diretora velha.
— Olá, Sam! — tomou coragem Freddie para dizer, tímido.
— Oi, Freddie — respondeu Sam de maneira educada, porém o tom frígido evidente.
Ela estreitou os olhos e Freddie engoliu em seco, começando a ficar nervoso.
— Oh! Que surpresa! — comentou a Sra. Poley, chamando a atenção para si. — Então, o senhor já conhecia a minha colaboradora?
— Hum... Sim, nos trabalhamos juntos por um tempo — respondeu ele, meio sem jeito.
Sam sentiu uma pontada direto no coração. Ela não estava satisfeita com o comportamento do amigo, e de alguma forma se sentia rejeitada.
— A Srta. Puckett nunca havia comentado — Sam mordeu a língua para evitar dar uma má resposta a sua diretora. Reencontrar Freddie estava deixando-a de mau humor. — O senhor não gostaria de se sentar? — prosseguiu, apontando para o assento livre.
— Claro! Obrigado! — agradeceu Freddie, sentando-se com Sean nas pernas.
— Srta. Puckett, pode voltar para a sua classe.
— Sim, senhora — Sam confirmou e foi até a porta.
Sean se virou no colo do pai e acenou um breve “tchau” para a professora, a atitude dele surpreendendo-a. Sean parecia ser adorável. Sam esboçou um sorriso tímido e repetiu o gesto do garoto, não reparando como Freddie os observava atentamente de canto de olho.
— Eu gostaria que ela ficasse, se possível — pediu ele, apressadamente. — Por favor.
— Se assim preferir — respondeu esquivamente. A velha olhou com impaciência para a professora, esperando que ela sentasse na cadeira ao lado deles e ficasse muda.
Relutantemente, Sam aceitou.
— Já que todos estão acomodados agora, vamos continuar.... — a Sra. Poley tossiu. — Então, Sr. Benson, não há jeito melhor de falar isso... Imagina como seja embaraçoso para nós, chamá-lo e reportar esse tipo de situação... Mas, sinto em informar, Sean não conseguiu segurar suas necessidades durante a aula e acabou se urinando na frente dos coleguinhas.
Freddie enrugou a testa, estranhando o que ouviu da diretora.
— Sean não se urina desde os 15 meses — defendeu ele.
— Ele teve uma pequena discussão com um dos coleguinhas...
— Ela ia me bater, papai. Não quero mais vir para a escola — interrompeu Sean, estremecendo no colo dele. Freddie apertou o filho em sua volta, garantindo a segurança que Sean precisava para se acalmar novamente. — Sean nunca frequentou um colégio antes — explicou ele — É um infortúnio o que aconteceu, mas a escola deveria oferecer o sentimento de segurança aos alunos. E essa segurança seria a expulsão da garota que tentou agredir meu filho.
Sam não se aguentou e bufou na cadeira, cruzando os braços. A Sra. Poley censurou sua atitude imediatamente com o olhar.
— Talvez não seja necessário chegarmos ao extremo, afinal são apenas crianças. Posso lhe garantir que logo os dois serão grandes amigos. — Sam comentou de qualquer forma.
— Eu nunca vou ser amigo daquela agressiva — protestou Sean, baixinho.
Freddie olhou para o topo da cabeleira do filho, preocupado. E mesmo que Sam estivesse raivosa com o amigo, ver esse lado dele com o filho derreteu todas as barreiras que ela estava criando até então. Era bonito a maneira como Freddie se preocupava e defendia o filho, ela nunca imaginou como seria Freddie um pai, agora ela tem certeza que ele é um grande pai.
Freddie flagrou o olhar dela sobre eles e se desnorteou outra vez.
— Eu não concordo com isso. Eu, pessoalmente, tive problemas assim na infância. Ou vocês expulsam a garota ou pedirei a transferência de Sean.
— O nome dela é Sara — disse Sam fervorosa, equilibrando a voz.
— O que? — perguntou Freddie, confuso.
— O nome da garota é Sara.
— Aposto como vocês são muito amigas — rebateu Freddie, começando a ficar irritado.
— E claro que somos grandes amigas, eu sou a professora dela, Freddie. São apenas crianças e a Sara não é tão ruim, ela só ficou nervosa... Levar a expulsão por um desentendimento bobo é muito infantil de sua parte.
Freddie estava vermelho de raiva e vergonha.
— Desentendimento bobo? — ele riu seco, cheio de ironia. — Não me espanta a garota ser uma delinquente mirim, olha o tipo de exemplo que ela está tendo.
— Vamos, Freddie, não transforme seu filho num covarde como você é! — explodiu Sam, levantando da cadeira.
A Sra. Poley ficou horrizada com toda aquela confusão e desavenças. Freddie, por outro lado, mantinha-se tranquilo no seu lugar.
— É disso que venho tentando proteger meu filho, Sam. Não quero que o Sean passe a metade do ensino escolar sendo agredido por uma garota malvada.
— O que aconteceu com você foi há muito tempo! Eu sinto muito, tá ok?! Eu fui uma criança malvada e muito burra, mas não compare a Sara á mim. Ela não merece isso. Ela é uma criança dócil e gentil, isso é tão injusto!... E para você é Samantha.
Freddie observou Sam dialogar, estupefato. Era difícil para ele processar como Sam se desculpou após tantos anos, ela parecia arrependida de verdade.
Sam havia mudado tanto...
Ela não era mais aquela garota valentona e egoísta...
Bem lá no fundo, Freddie ficou desapontado porquê sentia que já não conhecia mais aquela mulher.
— Você odeia que te chamem de Samantha — observou ele, fracamente. Sua voz saindo por um fio.
— Há muita coisa que você não sabe mais sobre mim, Benson — Sam disse com desprezo.
Freddie baixou a cabeça na calamidade, parecendo um caracol murcho.
— Sam, eu não falei nada sobre voltar a Seatlle...
— Não precisa nem dar ao trabalho de se explicar, os seus dez anos de silêncio foram o suficiente para deixar tudo muito claro.
A Sra. Poley pigarreou alto depois de algum tempo, chamando a atenção os dois que haviam esquecido da presença dela ali junto deles.
— Bom, acho que perdemos o foco da nossa conversa aqui. Os assuntos mal resolvidos podem ficar para uma outra hora, preferencialmente fora do ambiente escolar.
— Eu não tenho nada a resolver com esse grandíssimo idiota! — Sam gritou, perdendo todo o auto controle.
Foram muitas emoções juntas, e segurá-las ou filtrá-las tornou-se difícil para ela. Ela tinha consciência de que iria se arrepender de agir daquela forma, mas encarar Freddie com um ser que pertencia a ele e outra pessoa não era afável, juntando o fator do amigo nem ter a consideração de avisá-la que estava voltando para a cidade e acusá-la de coisas que aconteceram a quase mil anos atrás, fodeu com o seu controle emocional.
Estava sendo horrível ver ele conseguindo conviver sem a sua presença... Ela teve tantas oportunidades perdidas por se prender a esse sentimento maldito. Podia estar casada agora, ter os próprios filhos, ter uma vida feliz. Contudo, só havia conseguido manter um histórico de relacionamentos vazios e instáveis.
Sam odiava o Freddie! Odiava por ele ter feito ela esperar tanto por um sonho impossível. Por fazê-la sofrer por uma causa perdida. Por fazê-la acreditar que todo aquele engano no elevador fosse se perder no tempo, que o amor deles venceria.
E no final, ela odiava ainda mais o Freddie porque sabia que ele não tinha culpa de nada.
A culpa era toda dela.
Ela quem alimentou os seus sentimentos durante todos esses anos.
Ela não merecia mais isso.
Sam deixou a sala, com Freddie dentro, pois já não havia mais nada para ela lá.
Claire a questionou assim que chegou na classe, notando a mudança na companheira.
— O meu pesadelo. O meu pesadelo voltou a me atormentar!
— Você não fala nada com nada — observou Claire, apreensiva.
— Eu preferia nunca mais vê-lo.
Alguns alunos olharam desconfiados, Claire riu como se estivesse tudo bem, desculpando-se pela atitude da outra professora.
— Sam, não seria melhor você ir embora?
— Por que eu deveria me importar? Ele não se importa, não é mesmo?!
— Eu não estou entendendo. Você esta falando em códigos.
— O Freddie...
— Freddie? O garoto que você odiava, depois passou a gostar, e voltou a odiá-lo?
— E Sean... — Sam ignorou a Claire.
— Sean? O que tem... Oh!... — ela se chocou, entendendo os indicantes que eram as frases.
— Eu não entendo é nada com nada — disse Jorge a Lilica, em uma conversa baixinha.
— Nem eu. O que tem o novato? — ela cochichou de volta.
— Espero que tenham terminado o dever — insinuou Claire aos dois. Eles lançaram olhares insatisfeitos a ela, que retribuiu com superioridade.
— O que vai fazer? — perguntou ela, voltando o interesse a conversa de antes com a amiga.
— Ele quer a expulsão da Sara — Sam informou bem baixo, mudando o rumo do diálogo. Claire quase não escutou a frase.
A secretaria bateu na porta e chamou por Sam, Claire e ela trocaram olhares significativos.
— O que você quer?
— A diretora exige sua presença novamente.
— Diga a ela que não vou aparecer enquanto aquele rapaz estiver lá.
— O Sr. Benson já foi embora com Sean.
A raiva cedeu à insatisfação.
— Ok. Tudo bem.
Sam respondeu um pouco decepcionada, acompanhando Frida até a porta da diretora e entrando no cômodo pela terceira vez naquele dia, batendo o próprio recorde desde a época de estudante.
— A senhora deseja falar comigo? — perguntou Sam, observando uma séria Sra. Poley.
Sam sentiu os músculos endureceram de estresse.
— O Sr. Benson tomou a sua decisão e decidiu pela transferência do filho — disse ela, ríspida. Sam ergueu uma sobrancelha. — Aparentemente, não deseja que o filho experencie o mesmo que ele num ambiente escolar agressivo. Por isso, tomei a decisão de eliminar o mal pela raiz.
— Isso não é justo! A Sara não fez nada de mal, ela é uma criança...
— Não me refiro a Sara — ela a encarou e Sam pode ver chamas de fogo ali — É você! Estou te demitindo Srta. Puckett.
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Dê uma Chance
FanfictionSam e Freddie se separam, e cada um leva a vida do seu jeito. Sam começa a vivenciar os problemas adultos, sem ter noticias do seu velho amigo desde o fim do colegial. Freddie resolve dar um basta na relação com a Sam, seguindo com sua vida. Spencer...