Autora narrando
Após uma noite inteira em claro, chorando, Clary arrastou-se até a faculdade. Para os outros, aquela parecia ser apenas mais uma segunda-feira comum, mas para ela, tudo estava errado. As palavras dos professores ecoavam distantes, sufocadas pela dor imensa que dominava cada parte do seu ser. A dor era a única coisa real naquele momento, pulsando incessantemente em seu corpo, em sua mente, em seu coração.
Quando a manhã finalmente chegou ao fim, Clary seguiu para o consultório onde trabalhava. O dia parecia tranquilo, quase monótono, até que, inesperadamente, o inconfundível par de olhos que assombrava seus pensamentos entrou pela porta. Aqueles olhos que ela conhecia tão bem, os mesmos que a faziam perder o fôlego em memórias dolorosas, agora estavam diante dela, reais, presentes.
Ver Nathaniel ali foi como um golpe duplo: seu coração disparou, uma mistura de alegria e agonia. Por um lado, tudo dentro dela gritava para se afastar, para evitar mais sofrimento. Mas, ao mesmo tempo, uma parte profunda e desesperada queria apenas estar perto dele, nem que fosse por mais alguns segundos.
Nathaniel a viu, e por um instante, uma confusão de sentimentos o atingiu. Ele sentiu-se mal por tudo que haviam vivido, por todo o sofrimento que causara, mas também havia um alívio inegável em vê-la de novo, mesmo que fosse em circunstâncias inesperadas. Ele estava ali por causa das dores de cabeça constantes, mas jamais imaginou que acabaria no consultório onde Clary trabalhava.
-- Em que posso ajudar, Senhor Banks? - a voz de Clary saiu firme, educada, mas seus olhos traíam o turbilhão de emoções que ela tentava esconder.
Ambos sabiam que aquela conversa simples, rotineira, estava carregada de tudo o que haviam sido, de tudo o que ainda eram.
-- Não me chame assim, Clary. - ele diz, levando a mão à cabeça, enquanto uma nova onda de dor o atinge, mais intensa que antes.
-- Vamos até minha sala. - ela sugere, notando o desconforto dele.
Clary o conduz até sua sala e, assim que chegam, ela começa a examiná-lo com atenção.
-- O que você está sentindo? - pergunta, a voz suave, mas profissional.
-- Dorde cabeça, muito forte - ele responde, os olhos semicerrados.
-- Você se alimentou direito hoje? Dormiu bem? - continua, mantendo o tom cuidadoso, demonstrando a médica dedicada que está se tornando.
-- Não comi, não dormi. Passei a noite bebendo. - confessa, observando-a com um misto de admiração e cansaço.
-- Não é de se estranhar que esteja com dor. Já ouviu falar em ressaca? - ela esboça um sorriso leve e entrega a ele uma receita, junto com uma caixa de remédio. - Tome isso, vai ajudar.
-- Alguma pergunta, Senhor Banks? - finaliza, olhando-o nos olhos com a seriedade de quem cuida.
-- Sim. - responde Nathaniel. Clary balança a cabeça em sinal de que ele pode continuar. - Podemos tomar um drink esta noite? Prometo que será só para conversar.
-- Não, acho melhor não, Nathaniel - diz ela, embora seu coração esteja implorando para que aceite.
-- Clary, nós merecemos essa conversa, por favor. - ele insiste, tocando suavemente seu rosto, como costumava fazer.
Clary hesita, sentindo a relutância pesar sobre seus pensamentos. No fundo, sabe que eles realmente precisam dessa conversa. Depois de alguns segundos de silêncio, ela cede.
-- Te pego na sua casa às nove? - pergunta Nathaniel, a esperança brilhando em seus olhos.
-- Perfeito. Vou esperar. - responde com um sorriso suave.
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Meu doce Desejo
RomanceClary Rossi e Nathaniel Banks cruzaram-se no início da juventude, ela com 16 anos, ele com 18. Não sabiam ainda o que era o verdadeiro amor, mas acreditavam, com a pureza da idade, que o sentiam em cada olhar, em cada sorriso. Havia, porém, um obstá...