Uma criança solitária | Capítulo Um

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Era uma cidade comum, com ruas e vielas, com casas e grandes prédios, com comércios e grandes empresas. Subdividida por áreas, a zona rural e a cidade; a parte em que moravam os milionários, e também que moravam os ricos, a classe média e os pobres.
Um jovem rapaz morava na grande Sálvia, uma cidade montanhosa que possuía na maioria das vezes um clima agradável, nem tão frio, nem tão calor. É claro que existia os dias atípicos em que a temperatura caia ou aumentava, fazendo alguns surtar e outros agradecerem. A maior parte de sua população eram estudantes e por ser a maioria deles jovens, a cidade se tornou conhecida por ser baladeira e por suas grandes plantações de café. A cidade era dividida em cinco partes, a Sálvia Maior onde se encontrava os ricos e milionários, Sálvia Menor onde se encontrava as grandes plantações de café e também era a moradia de grande parte da população com classe média, Salvia Externa onde ficava as sede de grandes empresas, Salvia Interna onde ficava a maioria das faculdades e também era a moradia dos estudantes e de algumas pessoas da classe média e o Interior de Sálvia onde ficava a população pobre.
Abner, sofreu desde muito pequeno, foi largado por seus pais desde muito novo, tão novo que não conseguia sequer se lembrar da fisionomia ou da voz de ambos. Foi obrigado a crescer com seus tios, na Sálvia Menor, ele era muito grato por ter sido acolhido por seus familiares, apesar de ser destratado constantemente por seus primos.
Sua tia, Júlia, conta que quando os seus pais o abandonaram, tinha meses de idade, dizia que seus pais não se davam bem e eram de mundos completamente diferentes, mas ela não conseguia entender porque. Ela só sabia que eles viveram um romance avassalador, mas começaram a brigar constantemente, o que levou o pai de Abner a ir embora, sem ao menos saber que a mulher que deixaria estava grávida. A sua mãe quando descobriu que estava grávida, ficou morando com a Julia e seu esposo até que teve o bebê e a implorou em lágrimas para criar a criança.
Ela disse que a mãe de Abner dizia que ninguém poderia descobrir que estava grávida, nem seus avós, nem seus verdadeiros tios, ninguém. O maior desejo de Maria, a mãe de Abner, era que ele tivesse o poder de tomar as próprias decisões de sua vida.
Júlia, a única amiga que Maria tinha, disse que não queria aceitar, não poderia criar um filho que não era dela. Mas Maria, deu uma ótima recompensa financeira e como estava desesperada na época por causa de uma alta dívida antiga que seu marido fizera, teve um novo olhar da situação, vendo como uma grande oportunidade.
Júlia e seu esposo, tinham uma vida financeira boa, mas que já estava ficando apertada, pois já tinham três filhos em idades similares e escolas e cursos eram caros. No caso de Abner, foi bancado desde muito cedo por sua própria mãe, que além da recompensa financeira que deixou com Julia, deixou uma pequena fortuna para bancar todas as roupas, brinquedos, comida, cursos, escola, faculdade e até para dá entrada em algum apartamento de classe média. Por isso, Júlia aceitou, que tudo que precisaria fazer era dar amor e educação a Abner.
Júlia e seu Esposo, além de terem muito caráter, eram muito gratos a Maria, por ter pago a dívida que estava assombrando a família deles. Estava tão ruim a situação, que homens estavam visitando a casa dos Alimitas e ameaçando-os de morte. Por consideraram que Maria salvou suas vidas, cuidaram de Abner com muito amor e carinho e não ousaram tocar no dinheiro que sua mãe deixara para Abner, mesmo sendo tanto dinheiro que mesmo que o chefe da família Amilita trabalhasse a vida inteira, não iria conseguir conquistar.
Tudo que Abner tinha de sua mãe, eram algumas cartas que ela deixou para ele e que seu nome era Maria. Ele não sabia sobre a sua aparência, e nem sobre o lugar que morava, não sabia sobre seus verdadeiros familiares, quer dizer, o que sabia sobre seus familiares foi o que sua mãe deixou na carta que era o mesmo que Julia contava.

     “Querido Abner, quando descobri que estava grávida de você meu
coração raiou de tanta felicidade, ser mãe sempre foi o meu maior
sonho. Por isso, amei você desde o primeiro segundo que descobri
que estava dentro de mim.
Sua mãe precisou tomar uma decisão extremamente difícil, talvez você
            me odeie pelo resto de sua vida por isso.
Mas na minha cabeça era a melhor decisão que eu poderia tomar, para
proteger você.
            Querido, seus avós são pessoas difíceis de lidar, tão tradicionais
que chegam a ser opressores. Vivemos em um local, difícil cheios de regras
e crenças que poderiam acabar com sua vida. Seus avós são tão cruéis                 ao ponto de matarem o próprio neto.
Por isso, mamãe preferiu abrir mão de criar você, do que perder você para
o resto da vida. Mamãe sabe que você pode me odiar, mas saber que você
está seguro, bem e vivo é muito melhor do que qualquer coisa.
Julia foi uma amiga que fiz na faculdade, ela sempre foi uma pessoa honesta e
tenho certeza que cuidará muito bem de você, sei que nada vai substituir o meu amor e o meu cuidado. Mas como disse, preferi tomar essa decisão que parte o
meu coração sabendo que você existe do que te perder para sempre.
Vendi todas as jóias que ganhei, por toda a minha vida, e dei a Júlia para cuidar     de você. Então fique tranquilo, que nunca será um peso para ela, assim como    deixei dinheiro suficiente para você até terminar a faculdade e iniciar a vida adulta. Também dei uma boa quantia para ela.
Por favor, mesmo que me odeie, aceite o dinheiro que deixei para você. Talvez se pergunte porque não fugi com você. Não fugi porque seus avós são extremamente
poderosos e eles nos achariam em qualquer lugar que tivéssemos do mundo, e mataria você e eu.
Sobre seu pai, ele não sabe da sua existência, mas ele não tem culpa alguma disso se ele soubesse que tem você com certeza seria o ótimo pai como nos filmes.
Eu amo você, mais que tudo nessa vida. Eu sempre vou amar você, sempre!                               
                                                                                                               Sua mãe Maria ”

Graças ao dinheiro deixado pela mãe, Abner sempre teve tudo o que queria, ele tocava três instrumentos, falava duas línguas fluentes e ainda era faixa preta em lutas marciais e muito bom em futebol. Por causa disso sempre teve um ótimo suporte, ia e voltava dos cursos com motorista, tinha roupas e brinquedos muito bons, além de um quarto especial para ele.
Os três filhos de Júlia não conseguia entender, porque Abner vivia muito melhor do que eles; porque Abner tinha motorista e eles tinham que ir para os lugares com a mãe; porque Abner podia fazer mais de três cursos ao mesmo tempo, e eles só podiam fazer um curso por vez; porque Abner tinha um quarto só para ele, enquanto eles tinham que dividir um longo quarto. Afinal, Abner era o adotado, e por mais que Julia tentasse explicar a diferença entre eles, não conseguia e o ciúme e a inveja deles por Abner eram inevitáveis. Eles destrataram Abner a vida inteira;quando iam brincar não deixavam Abner brincar com eles. Quando Júlia levava os quatro para as festas, fingiam que não conheciam Abner. Quando iam jogar videogame, não permitia que Abner jogasse. E era assim para todas as situações, menos para quando Julia estivesse presente, porque ela sempre ensinou seus filhos a tratarem Abner como um irmão.
O que os três filhos não imaginavam era que Abner desejava ter tudo o que eles tinham, o amor e o calor de uma mãe biológica. Abner insistia em fazer vários cursos, porque neles poderiam fazer novos amigos e sair um pouco da solidão. Toda vez que Abner entrava no carro com o motorista, ele visualizava da janela do carro, Julia colocando os três filhos no carro e colocando cinto neles, às vezes rindo, às vezes brigando, mas sempre com muito amor e Abner desejava esse amor. Toda vez que Abner entrava em seu grande quarto, desejava dividir o quarto com os três meninos, porque era o único que tinha o quarto no primeiro andar da casa; tantas noites que Abner foi dormir encolhido, porque tinha medo de estar sozinho em um único andar.
Apesar de Julia criar Abner como criou os filhos, dando a mesma educação, as mesmas lancheiras e sempre ia dá um beijo ao final de cada noite. Júlia não conseguia dar o amor de uma verdadeira mãe, simplesmente porque não era a mãe dele.
Abner cresceu muito solitário, mas sempre se manteve muito ocupado, desde muito novo ele sabia que podia fazer cursos. Conforme foi crescendo, trocou os cursos pelos trabalhos nos cafezais, com o mesmo objetivo de ocupar a sua mente e de ficar o máximo de tempo possível longe dos três irmãos.
Ele sabia que tinha dinheiro até para pagar a sua faculdade, e se administrasse bem, para dar uma boa entrada em uma casa. Mas, ele preferia trabalhar e continuar juntando dinheiro para seu futuro e para o futuro de sua futura família. Foi um dos conselhos que sua mãe deixou em uma das cartas que tinha escrito e deixado para ele.

“Querido Abner, você provavelmente já está crescido ao ponto de ler e
entender o que está escrito nessa carta. Por isso quero tratar de assuntos muito
importantes. Infelizmente mamãe não pode te criar, mas fiz questão de escrever sobre isso para você.
Você é homem e um dia encontrará uma boa mulher para casar, mas meu querido, escolha sua mulher como escolher um bom carro para comprar. Não utilize paixão na sua escolha, utilize somente a razão. O amor é algo que se constrói com o tempo, não existe amor à primeira vista, não existe paixão que segure um relacionamento até que a morte nos separe.
Querido, trate de se certificar que ela goste das mesmas coisas que você, e tenha a mesma visão de mundo que a sua. Porque se não tiver, ela não será uma boa mulher para você e nem você será um bom homem para ela. Seu pai e eu brigamos bastante, porque nossa visão de mundo e criação eram totalmente diferentes.
Mas meu filho, se prepare para sua esposa, assim que tiver a oportunidade de trabalhar, faça isso. Mamãe deixou uma boa quantia para você viver, mas precisa se preocupar desde cedo com a família que vai formar, e se preparar financeiramente para ela. Por isso trabalhe e junte seu dinheiro, não gaste em excesso.
Sobre sua faculdade, você tem livre escolha sobre o que deseja cursar, mas meu filho, preciso te orientar, nunca abra mão da faculdade. Nos dias em que vivemos hoje, quem não tem faculdade, não consegue evoluir muito na vida, e para você que será um belo homem, precisa se preocupar com você e com a família que um dia irá desejar formar.
Eu sempre vou te amar, sua mãe Maria”

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Olá! É um prazer ter você por aqui, estou super animada, porque é o primeiro livro que escrevo.
Pode ir me dando feedback da história?
Estou bem animada, por finalmente ter começado. Espero que goste e fique por aqui.

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