Limão

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Quando Klara abriu os olhos naquela manhã, tudo parecia calmo. Não havia o usual barulho na cozinha de seu pai e seu irmão conversando, também não havia o corpo de um certo cachorro entre seus pés.

Muito calmo.

Calmo até demais.

E foi assim que ela soube que tinha algo errado.

Klara se levantou rapidamente e tropeçou quando um de seus pés ficou enroscado entre as cobertas. O baque surdo que seu corpo fez ao se chocar com o chão provavelmente foi alto, ela concluiu ao notar a bola de pelos correndo até ela.

-Inferno! Perdi hora, Rufus. - A negra reclamou para o vira-lata caramelo enquanto se levantava do chão.

Klara alcançou o celular sobre a escrivaninha e xingou baixo ao constatar que havia, de fato, perdido hora. Após segundos de raciocínio -completamente lógico, diga-se de passagem- Klara decidiu que tinha duas opções:

1- Correr para chegar à tempo de entrar para a primeira aula.

2- Se arrumar e chegar na segunda aula.

Claro que Klara escolheu a segunda.

Correr para a escola era algo muito clichê adolescente e ela não se prestaria a esse papel. Então Klara tomou seu banho, colocou o uniforme e prendeu o cabelo no topo da cabeça.

E não, ela não fez um coque solto. Você achou mesmo que ela faria algo tão clichê?

Ela fez um coque muito bem-feito e gastou 15 minutos arrumando o baby hair.

Dã.

Klara colocou seu lanche na mochila e saiu de casa. A escola era no bairro, mas demorava alguns poucos minutos para chegar. Ela preferiu apreciar suas músicas favoritas enquanto caminhava até lá e suspirou olhando para as nuvens no céu. Tudo completamente pacífico e calmo. Um dia tranquilo, era o que ela idealizava enquanto apertava o interfone da secretaria da escola e explicava que havia perdido hora. Ela até ouviu um sermão da inspetora sobre não se atrasar e assinou um termo de aviso. Mas nem isso tirou o seu bom humor.

Seria um dia muito bom.

Até ela se sentar no banco do corredor ao lado da secretaria e ouvir a voz dela.

-Bom dia, cérebro. -Klara revirou os olhos e olhou para o lado, encontrando ninguém menos que Thainá.

-Era um dia bom até eu ter que olhar pra sua cara logo cedo. -Klara murmurou e cruzou os braços, Thainá apenas riu.

-Seu bom humor pela manhã é contagiante!

-Só de olhar para você dá vontade de voltar para casa.

-Esquentadinha.

Klara encarou Thainá de baixo acima, pronta para rebater, a resposta na ponta da língua, até ver um hematoma roxo na bochecha esquerda da mais alta.

-Uau, o Felipe realmente te fez um estrago. -Klara deixou escapar e Thainá desviou o olhar.

-Então você ouviu o que aconteceu. Já aviso que ele está bem pior que eu.

-Uau, ela brigou, nossa isso sim é uma coisa pra se ter orgulho, tal como Neandertais. -Klara zombou e Thainá revirou os olhos.

-Diz que me odeia, mas tenho certeza de que sabe toda a fofoca. Não sabia que nerds tinham tempo para serem fofoqueiros também.

Klara arregalou os olhos e encarou Thainá que estava de braços cruzados e olhando para o lado oposto.

-Bom, se você não quer que eu saiba, não venha brigar na rua da minha casa. -Klara cruzou as pernas e revirou os olhos.

-Você é vizinha do Felipe? -Thainá voltou a encará-la.

Azedo como MelOnde histórias criam vida. Descubra agora