Capítulo 3

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Se passaram algumas semanas e eu continuava encontrando com Peter todas as noites.

- Esse é o livro que tem sobre você e a terra do nunca... – Expliquei a ele toda empolgada.

O mesmo parecia impressionado com os detalhes do livro.

Enquanto isso em casa, era sempre a mesma coisa.

- Sua garota desobediente! – Papai rasgou o livro em minhas mãos. – Vê se cresce e pare com essas coisas infantis.

Eu realmente estava cansada, muito exausta de tudo aquilo, a pressão pra ser algo que eu não sou e nem quero ser é péssima. E essa coisa é uma mulher madura e sem sentimentos, ou quando meu pai chama: moça da sociedade.

E assim se passaram algumas semanas. De dia eu me irritava com a pressão e a noite e a aliviada com Peter. Realmente queria que isso iria durar por muito tempo, todavia, as coisas não podem sempre andar como eu quero.

- Essa menina tem doze anos e parece uma criança de sete... – Comentava uma pessoa.

- Pois é. Só anda com os irmãos e esses livrinhos de historinhas. – O mesmo se repete.

Meu pai sempre que ouvia isso me dava um olhar de aviso. Eu só fingia não ter escutado e voltava para meus irmãos e as coisas que me faziam fugir daquilo tudo.

Mas as vezes, fugir não é a melhor opção.

Depois de varias semanas, eu já me sentia acostumada com tudo e nem me importava mais, porém, minha mãe sim.

Eu estava no meu quarto quando ela bateu na porta e entrou.

- Wendy, podemos conversar ? – Ela veio até minha cama e se sentou.

Coloquei meu tricô de lado dando atenção a ela.

- Querida, eu sei que seu pai está sendo duro, mas...

A interrompo. – Ah não mamãe. Veja, não quero falar sobre isso. – Viro meu rosto de lado e cruzo meus braços.

- Eu sei. – Ela passa a mão na minha cabeça carinhosamente. – As vezes os pais eram, mas no fundo só estamos tentando o nosso melhor.

Continuo olhando para o lado, mesmo compreendendo a situação em que ela se encontrava.

- Filha – Ela puxou meu queixo em sua direção – Apenas entende que seu pai só quer seu bem, e que você não é obrigada a agir de uma forma que não seja para sua idade. - Mamãe me deu um sorriso. – Vou a uma festa do chá, não me espere acordada. Te amo. – Ela soltou um beijo e saiu do quarto.

Olhei ao redor do quarto, encontrando um espelho. Dei uma olhada em mim mesma, eu via uma menina, tentei enxergar a futura eu, e consegui, mas eu vi, tristeza...

Joguei um brinquedo qualquer no espelho que o fez se despedaçar em vários pedaços, assim como eu estava. Coloquei as mãos nos ouvidos tentando tampar as vozes das pessoas, tudo que eu ouvi me irritava..

- Chega ! – Disse tirando as mãos dos ouvidos, a raiva fez com que eu deixasse minhas vontades de lado e cedesse.

Joguei todos os meus livros em uma caixa e os empurrei para de baixo da cama. Em seguida sai do cômodo em que estava indo até meu pai em seus aposentos.

- Papai. – Chamo abrindo a porta.

- Diga. – Ele me respondeu.

- Pode me ajudar a mudar de quarto ? – Eu perguntei relutante.

Aquela pergunta fez papai se virar para mim surpreso, e abrir um sorriso de orelha a orelha. – Claro minha filha. Quer saber, amanha eu vou ao carpinteiro e encomendar uma nova escrivaninha pra você. Pode ser ?

- Sim, eu acho que gostaria disso. – Dei um sorriso fraco.

O quarto e os livros já estavam resolvidos, agora só faltava ele.

O desespero de sair daquela pressão fez meus sentimentos tomarem conta da minha razão. Naquela noite eu descontei tudo nele, joguei o peso de meus ombros em Peter Pan.

Peter estava me olhando preocupado. - O que houve Wendy ?

Apertei a barra do meu vestido. - Não é nada... - Eu respondi virando o rosto de lado.

- Tem certeza ? - Ele se aproximou. - Eu posso ajudar você, só me diga qual é o problema.

- Chega Peter Pan - Me levantei - A culpa disso tudo é sua !- Eu esbravejei.

Aquilo o fez recuar um pouco, mas ele logo se levantou também. - Minha culpa ? - Ele estava indignado. E não era para menos.

- Eu te disse pra ficar na terra do nunca comigo. - Relembrou o ruivo.

- Eu sei. Mas se não fosse por ter te conhecido, eu nunca teria enfrentado meu pai e nunca teria que passar por toda essa pressão e não seria tão orgulhosa assim ! - Eu gritei, minha respiração desregular de tanto que eu bufava. Podia sentir a temperatura do meu corpo subir.

- O que quer dizer ? - Peter, ou melhor Peter Pan, tentou encostar em mim mas eu sai da reta antes disso.

- Quero dizer que é pra você sumir da minha vida. - Olhei para baixo e depois para o garoto de novo. - Pra sempre.

Os olhos do rapaz de verde se arregalaram, e em choque ele perguntou: - Está me mandando embora ?

- Isso mesmo. Você tá me atrasando, eu vou crescer e você não, então pra que eu possa evoluir preciso ficar longe você.

Pude ver o nariz de Peter Pan fungar, antes de tirar seu chapéu e dar alguns passos para trais.

- Se é isso que você quer... - Me deu uma última olhada e disse: - Adeus de novo Wendy. Agora eu acho que é pra sempre.

Seus pés se ergueram do chão, começando a tomar voou. – Vou sentir sua falta Wendy.

Foi tudo que eu ouvi antes que ele fosse embora voando em direção a estrela que o levaria para seu lar. E eu, só senti as lagrimas, e a dor de ouvir as palavras "Adeus Wendy" novamente, meus joelhos pesam e eu caio sentada nas escadas com a dor escorrendo por meus olhos. – Me desculpa... – E eu nunca mais iria ver Peter Pan de novo, esse era meu destino, ficar com a sociedade. 

Wendy Darling - Uma continuação de Peter PanOnde histórias criam vida. Descubra agora