1. House of rising sun

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Instintivamente Hua Cheng passou a língua pela própria boca, circulando-a. Seu objetivo não era exatamente deixá-la molhada, mas como a própria palavra, eximia-se o sentido do ato. Agira em voz de seus mais primitivos desejos. Sua língua não buscava encontrar a boca que a enclausurava, mas sim o dorso suado, levemente brilhante e desnudo na janela à frente.

Seu corpo, em resposta aos milhares de pensamentos impudicos que lhe roubavam a lógica, respondera de forma quase imediata: uma ereção incômoda. O tão sutil e costumeiro salivar que dançava no céu da boca só tornava mais óbvio o quanto aquele homem mexia consigo.

Se havia uma coisa pela qual valia a pena perder o sono, essa coisa era única e exclusivamente ver o vizinho da frente em sua rotineira insônia, ocupando as noites com pinturas, exercícios físicos, danças desritmadas, bebidas e cigarros baratos.

Se havia alguém pelo qual Hua Cheng admitia e ansiava perder o sono por, esse alguém era Xie Lian.

Aquilo, o despudorado ato de espionar o vizinho tornou-se rapidamente seu maior vício e também seu motivo de maior tesão. San Lang não admitiria aquilo facilmente, mas nas últimas três vezes que saíra com alguém, era em Lian que havia pensado.

Xie Lian era como uma espécie de afrodisíaco que o tornava selvagem, quente e necessitado. E por mais errado e egoísta que fosse transar com um cara pensando em outro, não é como se conseguisse evitar. O vizinho, com seus sorrisos doces, olhar gentil e jaqueta jeans, tomara totalmente seu subconsciente, reclamando-o para si como um paraíso perdido e particular, enchendo-o de gemidos, investidas, roçadas, beijos e mordidas.

Era como se seu lado primitivo agora pertencesse completamente ao rapaz, e não é como se fosse reclamar. Xie Lian era sua maior fantasia e era também o único ídolo capaz de cria-las.

Mais uma madrugada começava. Era terça, talvez quarta-feira dado o horário. O pintor estava sem camisa, passava os dedos nervosamente e de forma furtiva sob a grande tela branca à sua frente. Hua Cheng supôs ser um pedaço de carvão, e possivelmente um novo desenho.

A noite estava quente, o vizinho havia posto uma espécie de faixa ou lenço, daquela distância não dava para dizer exatamente o que, para impedir que o cabelo lhe caísse à frente dos olhos, era marrom e quase se perdia no castanho desbotado de seus fios. Hua Cheng se perguntou como seria encher a mão ali e puxá-los com força.

Ele suspirou, arrepiando os próprios cabelos e abriu alguns botões da camisa rosa que usava. Escolhera a tonalidade por que de certa forma, acreditava que combinava consigo, não só fisicamente. Mas em aspectos mais profundos.

Lera que o rosa era uma faca de dois gumes. O vermelho sendo estridente e picante, voraz, misturado com o branco que é imaculado, puro, inocente e casto, criava o rosa, que consequentemente cortava para ambos os lados.

De certa forma, combinava consigo e com Xie Lian. Talvez aquele era o limite entre fantasiar e vivenciar algo, e ele estivesse começando a passar dos limites. Quem é que se importava? Não ele, decididamente. Em sua fanfic mental, o rosa era a junção dos dois, e por isso, a tonalidade rosácea deveria ser respeitada.

Hua Cheng que nunca havia pensado em coisas do tipo, se viu pesquisando sobre cores ao ver, noite após noite, por meses a finco, Xie Lian trabalhando em uma tela que era basicamente uma mistura espontânea de cores. "Por que o rosa é predominante?" foi o que o motivou a pesquisar a história do cor-de-rosa na internet, e consequentemente acrescentou novos tons ao seu guarda-roupas.

Curiosamente, encontrou várias pinturas de George Rommey*, que usava predominante o rosa para retratar a dualidade em sua musa, Lady Hamilton*, muitas vezes mostrada como seguidora do deus Baco, o deus do vinho nas obras.

Vinho.

Xie Lian sempre tinha uma taça ou uma garrafa de vinho que tomava nos lábios quando pintava.

Se não era o destino lhe mandando um recado sobre apreciar mais a cor e seu vizinho, quase uma divindade (sempre regada à vinho), bem, San Lang não saberia dizer o que era.

Todos os seus pensamentos se perderam quando o Xie deu-lhe o golpe final. Deixando o lápis ou pedaço de carvão de lado, ainda de costas, ele se espreguiçou longamente. Os músculos do corpo esguio e alto sobressaltando no brilho suado do pintor. Ele se virou, como se ouvisse as preces silenciosas do mais novo, e caminhou até a janela.

Primeiro, o vizinho apoiou as mãos grandes no batente da mesma, inclinando o corpo para frente de olhos fechados, inalando profundamente o ar gélido da fina névoa que começava a se formar na densa madrugada. Deixou que o vento movesse seus fios rebeldes e úmidos, sorriu, evidenciando ainda mais a doçura e a sensualidade de seu rosto, e então abriu os olhos.

Ele olhou para os lados, certificando-se que estava sozinho, tendo a certeza que todas as janelas ao redor estavam com as luzes apagadas e que apenas ele, a sábia e inspirada coruja pintora, estava acordada tão tarde.

Então, endireitou o corpo. Ainda de frente para a janela, em seu show pessoal e safado, ele levou as mãos até o cós da calça. Abriu o botão devagar, ainda olhando para fora, como se olhasse para si, como se soubesse que Hua Cheng estava ali, no escuro, na surdina, bancando um personagem dos dramas sombrios de Alfred Hitchcock*, analisando sua vida detalhe por detalhe, implorando por mais.

O zíper desceu numa lentidão agonizante, tão cruel que fez com que San Lang arfasse e engolisse em seco pelo menos duas vezes. Xie Lian sorria, fitando a noite serena, a solidão criada pelo negrume intenso e breu constante, e então, finalmente, com ambas as mãos, desceu o jeans pelo quadril, escorregou-os pelas pernas e voltou à tela.

Sua luz acesa, de acesso tão livre e espontâneo, como se apreciasse ser assistido, como se quisesse ser visto tanto quanto Hua Cheng queria vê-lo. Agora de cueca boxer branca, marcando não só o volume de tamanho considerável cujo qual o Hua adoraria encher a boca, mas também o traseiro cheinho e bonito, onde adoraria desferir dezenas de tapas e muitas mordidas.

Àquela decididamente seria uma longa noite. Não que o estudante estivesse reclamando. Teria muitas doses de café para acompanhá-lo na faculdade na manhã seguinte, e enquanto isso, havia um belo tubo de lubrificante e uma esperada ereção entre suas pernas que precisavam de atenção imediata.

Mais uma noite ansiando por Xie Lian, mais uma noite acordado apreciando a obra de arte que era aquele homem.

xx.

Continua

Despudorado cor-de-rosaOnde histórias criam vida. Descubra agora