3. Louder than bombs

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3. Louder than bombs

Depois de correr pelos paralelepípedos da faculdade, Hua Cheng chegou ao ponto de ônibus completamente ensopado. Trabalhar daquele jeito estava fora de cogitação. Como iria para a livraria naquele estado deplorável? Sentia o corpo suado e frio, gotas travessas escorriam pela clavícula e costas, deixando-o ainda mais desconfortável. O tempo não dava sinais de melhora e os trovões estavam cada vez mais altos e em intervalos menores de tempo.

Precisava ir para casa, tomar um banho e dormir, só isso. Não era pedir muito, assim como boa parte dos desejos que tinha, mas ainda assim, o descanso estava longe da sua realidade. Como um jovem adulto funcional, devia ao menos uma explicação ao chefe, e se o universo tocasse seu coração, talvez deixassem que passasse o resto do dia em casa.

Quase uma hora depois de sua chegada ao ponto, já espirrando e sentindo a garganta arranhar, finalmente embarcou. O ar condicionado do veículo fez com que um frio descomunal tomasse conta do corpo inteiro, causando calafrios por todo o corpo.

Seriam vinte minutos ali, e ele duvidava que seu sistema imunológico conseguisse defendê-lo de tamanha batalha.

Hua Cheng inclinou a cabeça para trás e deixou um gemido rouco escapar sem pudor algum. Movia o quadril devagar, rebolando num ritmo vagaroso e profundo, estocando contra a mão do vizinho que apertava seu membro do jeitinho que ele gostava: firme, apertando a glande, e estimulando-o a mover-se também.

Sentia a língua do outro lambendo cada gota d'água ainda presente no pescoço, os dentes raspando a pele e a boca criando marcas vermelhas que com certeza denunciariam num futuro muito próximo o que haviam feito de madrugada.

Experimentava o peso, o cheiro e o gosto do vizinho na própria carne, e por Deus, ele queria mais daquilo.

Ter Xie Lian acima de si daquela forma, lhe dava tanto tesão que tudo que queria fazer era gemer, implorar e ser subjugado por ele. Queria ser completamente devorado e então, devorar.

O universitário agarrou os cabelos castanhos longos do pintor com ambas as mãos e puxou sem muito cuidado, buscando maior atenção: precisava de um beijo como se sua vida dependesse disso. A pele ardia, o corpo queimava, e Xie Lian poderia fazer o que quisesse consigo, desde que aplacasse sua fome completamente.

Isso, até o despertador do celular tocar, avisando que precisava tomar outro paracetamol, e acordá-lo de um sonho deliciosamente febril. Apoiando os cotovelos na cama, o rapaz secou a testa e fez força para se sentar. Sentia o corpo fraco, dolorido e gelado. Quem diria que uma gripe conseguiria derrubá-lo daquele jeito, hein?

Por um instante, se perguntou se o vizinho notara sua ausência ou se conseguiria sair da cama para comer em algum momento, mas estava zonzo e cansado demais para levar qualquer ideia adiante. Acabou engolindo o remédio e deitando de novo. Que Morfeu lhe abraçasse e desse sonhos tão doces quanto o anterior. Se ao menos no mundo dos sonhos pudesse ter o que queria, não seria tão ruim assim ser consumido pela névoa apática e entorpecida dos remédios.

Três noites haviam se passado e o pintor simplesmente não vira rastro algum do vizinho. Será que estava fora da cidade? A janela à frente permanecia fechada, como se o apartamento estivesse completamente vazio, de portas fechadas para o mundo.

Xie Lian nunca se vira como um exibicionista. Ele era comumente tímido para qualquer tipo de intimidade. Tirar a roupa em público era quase um tabu. Não entendia bem a motivação para continuar se despindo para o rapaz, assim como também questionava o motivo da ausência do outro lhe causar tanto incômodo.

Estava acostumado a se sentir bonito e desejado, ou a sensação gostosa criada pelo olhar perigoso do outro, estava lhe inspirando? Como artista, Lian poderia usar a segunda parte como explicação. Como um indivíduo solteiro e que não sentia tesão facilmente, daria para culpar algum fetiche que estivera escondido até então.

Mas até aí, eram coisas pessoais e deveriam ser debatidas consigo mesmo em algum momento de reflexão. O problema era que: três noites haviam se passado e ele não vira o rapaz nem no ônibus que geralmente pegavam juntos, na rua ou abrira a maldita janela!

Se ao menos tivessem conversado em algum momento, teria pego seu telefone, mas não, preferira observar de longe para não perder o admirador. "Muito bem, Xie Lian!", pensou, enquanto fechava a própria janela, quem era o verdadeiro pervertido ali?

A temporada de chuvas havia finalmente chegado, e completamente ignorante dos delírios que Hua Cheng tinha há poucos metros de si, Xie Lian voltou a se sentir sozinho, coisa que, por incrível que pareça, não sentia desde que começara a madrugar com o desconhecido.

Despudorado cor-de-rosaOnde histórias criam vida. Descubra agora