Capítulo II

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Já passava das 19h quando Camila finalmente chegou em casa do conservatório, suas aulas acabavam às 17h30, mas Camila sempre passava do horário. A maior parte das vezes, o motivo de seus atrasos se deviam à sua dedicação em estudar, mas algumas vezes, sua condução atrasava e a próxima só passava uma hora depois. Hoje era um desses dias em que seu ônibus resolveu lhe pregar uma peça.

- Mais um dia que a Mimi perde a sobremesa por chegar depois do jantar. - Sophia, a mais nova, comentou ao ar para que sua irmã mais velha ouvisse, provocando-a.

Sophia chamava a irmã carinhosamente de "Mimi" desde que se lembrara, e por coincidência, foi a primeira palavra que verbalizou. Era o diminutivo do diminutivo do nome de Camila, que fazia de conta que odiava o apelido, mas no fundo, sentia o coração aquecer sempre que lembrava que foi a primeira pessoa a quem a irmã chamou quando ainda era um bebê de colo.

Estava prestes a ir para o seu quarto guardar seus pertences e tomar um banho rápido antes de jantar, mas Sinuhe, sua mãe, lhe parou no meio do percurso, repreendedo-lhe com o olhar. Ela sabia que levaria uma bronca por mais um dia não conseguir acompanhar sua família no jantar, e mesmo que dessa vez não fosse culpa dela, também sabia que na maioria das vezes abria mão desse momento para se esforçar além do que seus pais aprovavam.

- Filha, sei que esse sonho é importante pra você, mas não deixe que isso tire os poucos momentos que temos reunidos. - cruzou os braços abaixo dos seios e a encarou nos olhos. Não queria ser rude, mas sentia que precisava ter essa conversa com a filha.

- Eu... sei. Desculpa.

Por um momento, Camila se distraiu com o cheiro delicioso de frango assado, purê de batatas e arroz à grega que vinha da cozinha, sabia que sua mãe nunca guardava as sobras do jantar na geladeira até que todos tivessem se alimentado. Sentia-se mal por fazer ser tão frequente sua ausência à mesa de jantar, mas sua insegurança quanto à sua profissão era tão grande que muitas vezes a colocava acima do que tinha de mais importante: sua família.

- Vou me esforçar para chegar mais cedo e jantar com vocês todos os dias. Prometo. - retirou a mochila das costas e a apoiou no chão, antes de puxar sua mãe para um abraço aconchegante e demorado.

- Tudo bem, confio em você. - respondeu com a voz abafada enquanto abraçava a filha mais forte - Agora já pro quarto tomar banho, e depois, jantar.

Camila sorriu e assentiu com a cabeça ao se soltar dos braços de Sinuhe, apanhando sua mochila do chão e seguindo para o seu quarto antes de fechar a porta e jogar seus pertences na cadeira da escrivaninha. Começou a se despir e de repente lembrou-se da composição de Lauren, que recebeu de Allyson antes da aula. Decidiu que seria rápida no banho, pois dessa forma, daria tempo de jantar e voltar para o quarto o quanto antes para ler com calma.

...

Haviam muitas coisas que Camila esperava encontrar em uma composição de Lauren, e havia se preparado psicologicamente para várias delas ao longo do dia. Achava que descobriria uma possível paixão de sua amada, ou até mesmo que, através das entrelinhas, descobriria algo sobre ela que não fazia ideia. Sentia que conhecia pouco da garota, apesar de prestar muita atenção em seus passos, movimentos, risadas e gestos quando a via. Tudo o que sabia sobre Lauren era o que observava, ouvia e sentia. Nada muito raso, mas nada tão profundo. Esperava finalmente encontrar algo assim àquela noite, e assim foi feito.

Correu os olhos pelos primeiros versos da canção, acompanhando com a ponta do dedo indicador. Por mais puro que fosse esse sentimento, sentia-se engraçada por estar com o coração acelerado só de saber que sua paixão da faculdade também tocara aquele papel em algum momento, e que aquela era sua caligrafia. Riu sozinha de sua própria bobagem, mas logo viu seu sorriso sumir aos poucos à medida em que absorvia a composição.

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