part two.

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Remus sempre achou que nunca se apaixonaria. Que era algo exclusivamente para princesas dos poucos contos de fadas que leu. Que era algo para pessoas bonitas e interessantes e irreais. Seus pais nunca estiveram apaixonados ao seu ver, ninguém no mundo amava alguém a não ser a si mesmo, ou as vezes nem isso. Essa sua percepção não havia mudado quando Remus chegou em Hogwarts, ele ainda era o menino cruel e triste que se transformava em lobisomem nas luas cheias e cortava seus braços. Ele nunca havia amado ninguém e nunca viu ninguém apaixonado. 

Mas então todos os seus amigos cresceram no terceiro ano. Eles começaram a ficar obcecados com garotas e beijos e Remus não entendia aquilo. Por longos dois anos todos só falavam de namoros e primeiros beijos, ele não conseguia acompanhar e realmente não se importava. Sirius e James entravam em uma competição de quantas garotas queriam ficar com eles, mas com o tempo James se fixou em Lily Evans e Sirius pareceu só não se importar mais. Aquilo foi bom, tudo havia voltado as normalidades. 

Até que foi a vez de Remus. E ele nunca soube o momento exato que aquilo aconteceu. 

Porque, de repente, tudo sobre Sirius Black parecia tão bom. E ele nunca soube o momento em que se apaixonou por seu melhor amigo. 

Para Remus, a paixão deveria ter algum tipo de aviso antes de simplesmente invadir a sua vida e mexer com a sua cabeça. Isso evitaria muitas coisas, com certeza, noites mal dormidas, sentimentos confusos e desejos vergonhosos. O problema era que o amor não era uma matéria de exatas, não tinha uma razão ou uma formula para se resolver. Na verdade, Remus nem ao menos se considerava uma pessoa de exatas, apesar de ser bom com números. 

Se apaixonar parecia ruim e vergonhoso o suficiente para Remus, seus pais não pareciam se gostar e ele não tinha mais nenhum exemplo marcante o suficiente de relações românticas, então, sim, parecia terrível se apaixonar. Mas o maior problema daquela situação era o fato de Remus ter se apaixonado por Sirius Black. 

Remus sempre achou Sirius peculiar. Estranho e irritante, mas ao mesmo tempo interessante ao ponto de deixar Remus com frio na barriga. Aos catorze anos ele começou a notar uma série de padrões de ações, sentimentos e pensamentos que ele tinha em relação a Sirius. Ele ria de piadas ruins de Sirius e sorria ao se lembrar de momentos que tiveram juntos, por mais simples que fossem. Começou a querer ficar mais horas de seu dia com ele e forçava toques de seu dia-dia, apesar de não gostar de ser tocado na maioria das vezes, como encostar os ombros ou as pernas, o que deixava Remus em êxtase. 

Por algum tempo, ele julgava esses padrões como algo completamente comum e nem um pouco suspeito, apenas um carinho exagerado pelo amigo. 

Até que Remus começou a se sentir tão estranhamente bem perto de Sirius e seus pensamentos voavam quando ele olhava para Remus diretamente. Seus lábios pareciam tão macios e Remus sentia vontade de tocar em seu rosto e se afogar em seus olhos. 

Então ali ele soube que aquilo definitivamente não era comum. Nem um pouco comum.  

Remus até mesmo cogitou que aquilo possa ser algo relacionado a puberdade, mas a maioria dos garotos pareciam estar sentindo aquelas coisas por garotas, não pelo seu melhor amigo. De qualquer maneira, Remus não teve muitos problemas em aceitar o fato dele ter se apaixonado por um garoto, mas sim por Sirius Black. 

O fato de Sirius mexer tanto com Remus não parecia certo, simplesmente não parecia. Então Remus se dedicou por muito tempo na missão de achar o que Sirius Black tinha de tão especial. 

Bom, o único erro de Remus foi achar que a essência de Sirius era apenas um detalhe. 

Mas não era. 

Porque Sirius Black era feito de detalhes.

Aquele mesmo sorriso. O cabelo escuro que ele nunca cortou e as roupas pesadas. O cheiro que nunca mudou, que podia ser reconhecido a metros de distância. O jeito de acender o cigarro e o fato dele gostar de acende-lo com um fósforo. O abraço. A lealdade e o jeito dele ser real. O fato dele ser tantas coisas, mas ao mesmo tempo ser só uma. 

CICATRIZANTE, wolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora