part one.

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TW!! cenas e citações de automutilação explicita na história INTEIRA. Leiam com cuidado e respeitem os seus limites :)


Remus Lupin tinha cicatrizes. Dezenas. Centenas. Ele não se lembra de um momento que ele se olhou no espelho e sua pele estava limpa, lisa, como as das outras pessoas. Eram brancas e pálidas, quase translúcidas. Algumas eram inchadas e escuras, que demoravam para deixam a cor vermelho quente. 

Ele tinha tantas cicatrizes

Algumas eram em lugares comuns, como braços, coxas, panturrilha e ombros. E outras, eram em lugares quase que constrangedores. Como por exemplo a sua maior cicatriz, que ia de suas costelas e terminava em seu quadril direito. Ou a que cortava o seu peitoral ao meio. Ou a que passava pelo seu rosto, da sobrancelha até a bochecha. 

Suas cicatrizes desenhavam seu corpo inteiro. 

Incontáveis. Infinitas.

E, por muito tempo, ele realmente odiou elas. 

Porém, Remus não sabia que um dia ele poderia pensar algo contrário daquilo.

Que um dia, talvez, ele não se importasse se teria uma a mais.

Se iria sangrar.

Se iria doer.

Então, bom, uma cicatriz a mais não faria diferença naquele momento, não é?

* * *

A primeira vez foi quando Remus tinha oito anos, talvez nove. Era madruga e Remus havia acabado de se transformar novamente, aquela transformação havia sido horrível. Ele ainda podia ouvir os uivos do lobo no fundo de sua mente e um choro interminável dentro de si.

Sua mãe, Hope, cuidava de seus ferimentos, que estavam ficando cada vez mais graves, com aquele mesmo olhar de sofrimento de sempre. Ela nunca dizia nada, sempre em silêncio, como se palavras pudessem machucar Remus. 

Mas, as vezes, ele gostaria de ouvir um "sinto muito", ou qualquer coisa que pudesse sarar sua mente.

O lobo de Remus estava ficando cada vez maior e mais forte. Daquela vez, ele havia quebrado uma das tábuas que ficavam presas na porta do porão, onde se transformava. Ele sabia que no dia seguinte, seu pai provavelmente ficaria furioso com ele. Não com Remus diretamente, mas com o lobo. Mas, bom, convenhamos, é basicamente a mesma coisa. Remus era o lobo, de um jeito ou de outro.

— Quando isso vai acabar? — Remus pergunta, olhando para os olhos de sua mãe enquanto ela cuidava de um corte profundo em sua coxa. 

Sua mãe funga, e ele fica com medo dela desabar ali mesmo. Ela olha para cima e passa a mão úmida e suada pelo cabelo loiro escuro de Remus. Ela não estava sorrindo, mas também não parecia querer chorar. Suas expressões eram sempre assim e as vezes Remus gostaria de conseguir entende-las.

Ela não diz nada, como sempre, mas Remus não poderia ficar com raiva com ela. 

O sol tinha acabado de nascer quando a mãe de Remus havia terminado de cuidar de seus ferimentos. Ela o botou na cama, embora Remus não estivesse com sono. Ela lhe deu um beijo e fechou a cortina e a porta do quarto, em silêncio. O pai de Remus, Lyall, provavelmente já havia ido trabalhar, mas Remus nem sabia se ele havia chegado em casa de noite. Era assim desde que Remus havia sido mordido, mas ele aprendeu a não se importar com o vazio daquela casa.

Remus nunca conseguia dormir depois de uma transformação, mesmo que estivesse cansado. Uivos e gritos e choros ecoavam pela sua cabeça e era como se mais alguém estivesse naquele quarto, como se o lobo ainda estivesse esmagado dentro de si. De repente ele sentia alguma dor aguda passar pelo seu corpo mas ele simplesmente não conseguia se afetar por aquilo, gritar ou fechar os olhos com força. 

CICATRIZANTE, wolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora