GRAVIDEZ

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— Não é nenhuma doença, Tay. Pode ficar despreocupado.

Respiro aliviado. Time também sorri.

— Daqui a nove meses esse mal-estar passa. Parabéns, você está grávido.

— O quê? — Time praticamente grita.

— Grávido?

Tive que repetir, pois não queria acreditar.

— Sim, papais. Você está de 4 semanas. Por isso o incômodo. Nessa fase é normal começar. Olhando a genética de vocês, será um bebê lindo.

— Como funciona para abortar? Dá tempo de abortar? — Escuto Time perguntar ao médico.

O médico troca o sorriso por preocupação e ignora totalmente Time, dirigindo-se a mim. Algo que Time deveria ter feito.

— Tay, a decisão é sua. Você é o gerador de um ser. Mas ninguém pode lhe forçar a ficar com a criança ou não ficar com ela. — Fala olhando para Time — Aqui o endereço de um obstetra e aqui o endereço da clínica de aborto. Nos dois, conte comigo.

Aceno com a cabeça. Time pega o endereço e me leva até a clínica do aborto.

Na verdade, não estou pensando direito. Apenas vou calado no carro, olhando as crianças na rua, no parque. Poderia ser meu filho ali.

— Vamos, Tay. Vamos logo nos livrar disso. Vamos abortar.

Vamos abortar.

Vamos abortar.

Vou abortar.

— Vou abortar!

Solto a mão dele e reajo.

— Vou abortar você, Time. Nosso namoro. Tudo.

Empurro-o com toda minha força.

— Tay, amor. Um filho não estava nos nossos planos.

— Eu não estou nos seus planos, na verdade. Você nem me perguntou. Nem fingiu.

— Tay...

— Eu vou andando sozinho. Sozinho.

— Tay... não é isso, é que...

— Eu não quero escutar... vá fazer o que seja lá que você faz. Eu quero ficar só.

Saio correndo sem rumo. Não quero a companhia de Time.

 

Acordo cedo. Coloco minha roupa de Chef. Ter meu restaurante é minha realização. Mas hoje eu vou abrir à força.

Quando chego e não encontro meus funcionários, lembro que hoje é a festa dos Mafiosos. Festas e bebidas grátis. Ninguém vem trabalhar hoje. Sorrio. Não sou um chefe chato. Os meninos precisam se divertir.

Estou ajeitando os temperos quando sinto alguém atrás de mim.

— Que susto, rapaz — Falo rindo, quando vejo que é Macau, meu estagiário novato.

Ele faz cara de preocupado e coloca a mão no meu peito.

— Desculpa. Farei barulho da próxima vez.

Ele é tão educado.

— Pensei que todos estariam na festa dos mafiosos hoje... sabe como é, bebida grátis, homens bonitos.

— Passo. Canseira da família.

Ele fala sorrindo. Lembro do dia que o contratei como ajudante. Achei que ele não viria. Mas cá está, fazendo-me morder minha língua. Em pleno dia de festa, ele foi o único que veio.

O dia foi tranquilo. Poucos clientes. Eu na cozinha e ele atendendo. No final, foi divertido.

Fechei as portas e fiz um jantar para ele.

— Obrigado — Falo encarando-o.

— Foi um prazer. Mas se tiver dinheiro, eu aceito também. Vou aguardar você esperar seu namorado. Ele está atrasado hoje, né?

Pois é. Meu namorado.

— Ele não vem... Ele não vem nunca mais.

Macau me olha espantado.

Suspiro com as mãos na mesa. Sinto o cheiro da comida do Macau e não sei o que aconteceu. A ânsia de vômito veio, e eu não consegui controlar.

Macau puxou rapidamente o lixo e eu vomitei. Vomitei tudo que comi durante o dia, enquanto meu estagiário segurava meu cabelo.

Depois de tudo, não tinha coragem de olhá-lo. Quando minhas forças voltaram, me encostei nele enquanto ele me limpava com uma flanela.

— Eu estou grávido. E Time não vem nunca mais — falei, chorando.

— Uma troca justa, Tay — Macau respondeu.

Eu o olhei. Nunca tinha pensado assim. Era uma troca justa.

— Eu não planejei isso, sabe. Mas quando vi a reação dele diante da minha gravidez, eu entendi. Ele nunca quis um futuro comigo. Ele não pensou nem por um minuto. Nem por um momento ele pensou em ser uma família. Em ter uma família comigo.

Macau lamentou. Ele sempre quis uma família.

— Você consegue, Tay. Você é nosso chefe querido.

— Eu consigo. Tenho que conseguir. Obrigado.

E os dias passaram assim. Macau sempre esperava Tay fechar com a desculpa de que estava esperando uma carona. Carona essa que era seu motorista, ao qual ele combinava de sempre se atrasar.

Hoje, Macau estava no estoque finalizando quando um amigo funcionário veio correndo, falando que Time estava enfurecido.

— Você está louco, Tay. Eu não quero um filho, amor. Eu quero você. Nossa vida. Mas você insiste nisso.

Tay respondeu, educadamente:

— Eu vou ter essa criança e não se preocupe, não vou lhe cobrar nada.

— Tay, eu quero você, mas não com essa criança.

Tay suspirou. Ele acordou tão indisposto hoje. E ainda teria que lidar com isso.

— Eu quero que você saia e não me procure. Não vou precisar de nada seu.

— Não dou dois meses para você me procurar. Vai sustentar essa criança como? Brincando de dono de restaurante? Isso mal dá para você se sustentar.

— Saia!

Time se aproximou de Tay, sufocando-o.

— Eu quero que você aborte. Ou vai ser pior para você.

Macau, vendo a cena, não esperou. Empurrou Time.

— Tire as mãos dele.

— Olha. Achou alguém para te defender, Tay. Eu fui claro no aviso.

Macau acolheu Tay, que estava assustado.

— Eu estou bem. Só preciso de um tempo. Eu vou para minha sala. Você pode vir comigo, Macau.

— Obrigado por me defender. Mas não faça mais isso. Tay é um alfa forte. Você poderia se machucar.

— Não parece, mas eu também sou um alfa, Tay.

— Ha...

— Eu sou um alfa e vou te defender sempre.

— De toda forma, obrigado. Estou tão cansado hoje.

— Posso te fazer uma massagem?

— Por favor. Estou necessitado.

Macau se posicionou atrás de Tay e começou a massagear seu pescoço, passando levemente as mãos nas costas de Tay. Era uma sensação tão boa. Pela primeira vez, ele sentiu que ali era seu lugar. Seu lobo estava manso. Relaxado.

Quando ele terminou, Tay estava cochilando. Ele ajeitou Tay na cadeira, tirou o sapato dele e colocou seus pés amparados. Nesse momento, Macau sentiu algo. Sentiu um amor infinito. Uma emoção que ele não sabia explicar.

À medida que os dias iam passando, a barriga de Tay crescia. Ele estava absurdamente lindo.

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