Capítulo 5 - Pista de Patinação

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        Maya acordou com o celular despertando. Dormira rapidamente e não se lembrava de ter sonhado com nada, mas ainda se sentia cansada. Trocou-se e desceu para tomar café antes de encontrar Victor. Felizmente, não encontrou um único rosto conhecido no café da manhã. Gostava de fazer suas refeições na presença de Monteiro, mas se sentiu aliviada de não ter sido chamada por ele naquele dia.

        Quando finalmente encontrou Victor, descobriu que ele ainda carregava a expressão desanimada de quando esteve no teatro. Só não sabia dizer se ainda era pelo motivo misterioso da noite anterior ou por mais uma noite em claro ao som da sinfonia de Monteiro.

        – Vamos trabalhar no solário hoje? – Ela perguntou, na tentativa de animá-lo.

        – Claro.

        Maya não sabia ao certo o que havia acontecido para deixá-lo naquele estado. Era perceptível que ele não estava bem. Nunca foi do seu feitio assumir uma personalidade misteriosa e séria. Mas ela temia perguntar o que tinha acontecido. Teria ele visto o mesmo que ela? Se sim, não tinha certeza se queria ouvir da boca dele. Tornaria tudo aquilo real e ela não poderia continuar com o plano de fingir não ter visto nada.

        Ela não queria fazer parte daquilo. Primeiramente, tudo o que sabia sobre a vida pessoal de Igor era contra sua vontade. E nada daquilo era da conta dela, mas mesmo assim não deixava de incomodá-la. A mera presença dele era desagradável para ela, e agora ela sentia que foi levada a ser cúmplice de um dos pecados nojentos dele sem que pudesse fazer nada a respeito.

        Para além de preocupar-se com Victor, também haviam as mensagens de Henrique que ela não abriu ao acordar por ter que se apressar para tomar café.

        Chegaram ao solário e logo encontraram uma mesa que fosse próxima o suficiente da piscina para que pudessem se beneficiar dos risinhos alegres dos que a usufruíam, mas não ficasse debaixo do sol.

        Sentaram-se, dispuseram os notebooks na mesa e começaram a trabalhar. Apesar do barulho que os cercava, o silêncio entre os dois deixou Maya desconfortável. Ela tentou focar-se no trabalho, mas não conseguiu por muito tempo.

        – O que aconteceu ontem?

        Victor não olhou para ela, mas ela sabia que ele a tinha ouvido. Suas sobrancelhas franzidas mostravam que ele se esforçava para parecer estar focado, mas não estava.

        – Eu só quero saber se você está bem.

        – Eu não posso falar sobre isso – Ele a interrompeu.

        – Eu o vi também – Maya soltou, na expectativa de analisar a expressão dele. Quando Victor finalmente a encarou, soube que de fato era sobre Igor – Fui atrás de você quando saiu do teatro – Maya continuou – o encontrei no cassino.

        – Eu fui ao chá de bebê do filho dele! – Victor soltou, como se tivesse com a frase entalada em sua garganta – Eu vi a mulher dele grávida! Isso, isso não pode estar acontecendo. Quer dizer, está acontecendo. Mas eu não queria saber. Agora eu não consigo parar de pensar na esposa dele e...

        – Eu sei – Maya disse ao colocar uma de suas mãos sobre a mão de Victor que tamborilava nervosamente sobre a mesa. Quando ele parou de agitar os dedos, ela o soltou.

        Maya não havia ido ao chá de bebê, mas lembrava-se da ocasião. Sentia-se aliviada por saber o motivo do mau humor de Victor, mas não sabia dizer como se sentia em conversar sobre um assunto delicado como esse com ele. A esposa de Igor era muito presente na vida deles porque praticamente todas as festividades da Ivory contavam com sua presença. E, consequentemente, todos acompanharam a sua gravidez e nascimento do primeiro filho. Era uma esposa dedicada e amorosa, ao menos para os olhos dos observadores.

60 Dias em Alto-Mar - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora