PROMESSAS

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Virgínia - Mansão Verger, quarto de Damian Verger.

O silêncio é opressivo. Damian Verger está acostumado a silêncios quando sua mãe Margot não se encontra - normalmente é algo que ele gosta muito.

Os momentos em que ele tem total liberdade em casa, contemplando os porcos treinados da fazenda ou desenhando monstros em seus momentos sombrios de silêncio, são alguns dos mais pacíficos de sua vida. Por mais que ele ame suas mães e queira que elas voltem a se dar bem, ele não trocaria esses momentos de paz por nada.

Mas isso é diferente. Esse silêncio é raivoso, eriçado como um gato coberto de estática. As bochechas de Damian estão pegajosas de lágrimas, e ele pode sentir mais querendo sair atrás de suas pálpebras fechadas. Ele odeia estar chorando, principalmente porque mamãe Alana acha que é uma manipulação da sua parte quando ele faz isso. Damian é capaz de conter as lágrimas, então, quando ele as deixa transparecer, é para ser público. Quando ele chora ou é por medo ou é por raiva, medo seria o caso agora.

Deixe-o explicar o que está acontecendo; há algumas horas atrás suas mães saíram da casa para conversar, como hoje é domingo não há nenhuma servente presente, ou seja, Damian está sozinho ou, pelo menos, deveria estar.

Ele soluça, colocando o copo de água na mesinha e franze a testa quando ouve uma batida. A batida fica mais forte desta vez.

Estaria tudo bem se a batida fosse na porta, mas não era, a batida vinha da janela de seu quarto, ele esta sozinho e ele sabe que não a trancou. Ele vai até a janela e puxa silenciosamente o trinco da armação antes de abaixar um pouco para observar por entre as frestas.

- Sim?

Silêncio. E então uma voz arrepiante.

- Boa tarde, Alana está?

Era ele de novo, fazem alguns dias que isso vem ocorrendo, todo dia, desde a quinta-feira, às 13 em ponto, um homem vem ao seu quarto e pergunta se sua mãe esta.

Damian não é corajoso o suficiente para abrir a porta seja ela a do seu armário, banheiro, quarto ou, nesse caso, a janela.

Ele respira fundo e fecha os olhos, contando para se acalmar como mamãe já havia ensinado.

- Me desculpe, senhor, mas já disse a você, você veio ao quarto errado.- Ela diz o mais educadamente que pode.

Ele sabe que não seria sábio deixar o homem entrar, ele ainda recorda dos riscos que vinham de fazer uma promessa.

Ele ainda lembra do que mamãe havia contado sobre não fazer promessas que você não pretendia ou era capaz de cumprir. Margot havia contado o que aconteceria se ele cometesse esse erro, contou que o diabo em pessoas viria bater em sua porta e pedir por aquele que não cumpriu sua parte do acordo, caso você fosse rude com ele, então ele levaria a sua no lugar. Damian não seria rude e muito menos pagaria por uma promessa que ele não fez.

- Uma pena, mas você tem certeza?- O príncipe do inferno perguntou novamente. Como ele vinha perguntando à 3 dias, ele realmente não desiste fácil.

- Sim senhor, eu tenho certeza, o senhor está no quarto errado.- Sua respiração prende quando o demônio solta uma leve risada. Seu ar só retorna quando a sombra se afasta da sua janela e desaparece sem deixar rastros.

Ele para e olha para os lados, precisa de algo para defesa, se aquele realmente for o diabo então iria continuar a voltar até que tivesse o que veio buscar.

Damian passa o resto da tarde trancado no quarto, mesmo quando sua mãe retorna ele não sai, ele pode amar as mães, mas se uma delas vendeu a alma, então elas que paguem o preço e o deixem em paz.

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