Vagando Sem Rumo

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Lavínia

No fundo eu sempre soube que tudo estava lindo demais para ser verdade, aquele homem tão lindo que eu sempre admirei e era fã, estar apaixonado por mim parecia surreal e era mesmo. Não posso dizer que me arrependo de ter me envolvido, mas estava doendo muito... Eu queria tanto que fosse real o que vivemos nos últimos meses, mas encontrar sua ex namorada tão a vontade no flat dele e ele incapaz de me dar uma justificativa plausível para isso, havia me quebrado por dentro... Eu até poderia ter ouvido sua explicação, se ele tivesse falado algo que fizesse sentido, mas ele estava estático como um menino que é pego no flagra por seus pais, fazendo algo que não devia, e mesmo depois dos insultos que aquela mulher proferiu em minha direção, ele não foi capaz de colocá-la para fora, então fiz o que o resto da minha dignidade permitiu, saí de "cena" para deixar os dois a vontade...
Saí correndo sem pensar em nada, não me lembrei do meu celular nem da minha bolsa, saí descalça e para piorar começou a chover... Eu só queria sumir, e abrandar o buraco que se abriu em meu peito no momento em que saí daquele flat.
Andei por horas sem rumo e acabei em uma praia, fiquei por muito tempo chorando e olhado pro mar, de certa forma isso me acalmava, o dia não demoraria a chegar, eu estava molhada e sentia frio, então busquei abrigo em um quiosque qualquer e acabei adormecendo exausta pelo desgaste emocional das últimas horas, acordei com o sol em meus olhos, a noite havia passado e a chuva também, eu sentia o corpo pesado, provavelmente ficaria resfriada, mas nada era pior do que a realidade que aos poucos voltava em minha memória...
Algumas pessoas já começavam a chegar para curtir um dia de praia e eu resolvi voltar a caminhar, ouço alguém me chamando longe, não queria ver ninguém, mas a voz masculina insistia em me chamar, comecei a andar mais depressa, mas estava fraca e acabei caindo e ele me alcançou...

_ Lavínia... Graças a Deus! Estavamos preocupados...

Era Cris, ele me pega no colo e me leva até seu carro...

_ Eu não quero ir Cris, me deixa aqui eu quero caminhar... Eu não quero ver ninguém... Eu não quero ver ele... Eu quero sumir...

Eu volto a chorar compulsivamente, e Cris me olha com compaixão.

_ Calma Lavínia, a Talita está preocupada com você, estivemos te procurando a madrugada toda, vou te levar para casa dela...

Estou tão cansada que não tenho reação alguma, ouço o telefone de Cris tocar.

_ Oi amor, acabei de encontrar... Ela está muito abatida, penso se não seria melhor levá-la ao pronto atendimento... Ok, vou levá-la para sua casa e qualquer coisa depois vamos ao médico. Beijo te amo.

Eu me acomodo no banco traseiro do carro e apago... Acordo no momento em que Cris tenta me tirar do carro, sou amparada por ele até chegarmos no apartamento, Talita já esperava com a porta aberta.
Talita me abraça e meu choro intensifica...

_ Amiga eu estava tão preocupada com você, Jason esteve aqui na madrugada e me contou o que aconteceu, ele estava desesperado...

Ouvir o nome dele quebra um pouco mais meu coração, não consigo dizer nada... É como se minhas forças tivessem sido tragada do meu corpo e eu não tivesse forças nem para falar...

_ Vocês precisam conversar, tentar entender o que aconteceu Lavínia, você já parou para pensar que talvez tenha sido um mal entendido? O jeito que ele estava quando chegou aqui ontem de madrugada não era diferente do jeito que você está agora...

Suas palavras me tocam, mas tenho medo de acreditar... Minha dor não me permite criar espectativas... Afasto de mim qualquer fio de esperança, não teria estrutura para acreditar e me quebrar novamente.

_ Ele é ator, pode muito bem estar interpretando... Eu não quero vê-lo, Talita se ele aparecer, eu vou embora...

Talita suspira e desiste de insistir e eu agradeço mentalmente, não tenho forças para discutir...

_ Vem, você precisa de um banho quente, você está gelada, eu vou te ajudar...

Ela me leva para o banheiro e me ajuda a tomar banho, a água está quentinha e me traz algum conforto, mas é apenas superficial, por dentro é frio e estou destruída, eu nunca havia sentido algo assim, como é possível que uma decepção amorosa doesse fisicamente... Meu coração doía, e era uma dor física, como um infarto talvez... Talita me ajuda a me vestir e me oferece algo para comer, não consigo sequer olhar para as frutas, pão e leite que ela leva até a cama para mim, meu estômago revira e corro até o banheiro para vomitar... Escovo os dentes e molho a nuca para melhorar o mal estar, e volto para a cama, minha amiga me olha preocupada, me oferece seu colo para eu colocar a cabeça e eu durmo com seu carinho em meus cabelos.
Acordo em algum momento sentindo muito frio, levanto meio tonta e pego algumas cobertas... Minha amiga entra no quarto e constata que estou com febre, ela liga para Cris e os dois me levam ao médico, e como era de se imaginar eu estava ficando resfriada, tomo algumas injeções, soro e voltamos para casa.
Alguns dias se passam e estou melhor do resfriado, Cris me liberou das gravações por um tempo, me sinto mal por atrasar as gravações do filme, mas não tenho condições de gravar com ele, não sei como vai ser agora, preciso de um tempo para quem sabe ficar frente a frente com ele novamente...
Cris e Talita estão na cozinha preparando o jantar e eu fico a maior parte do tempo no meu quarto, não tenho sido uma boa companhia, também não tenho conseguido ficar na presença de casais, me lembra dele e de quando éramos felizes e me causa ainda mais dor.
Ouço a campainha e vozes alteradas, reconheço a voz dele... Um sentimento ambivalente toma conta de mim, sua voz e sua presença me causa dor, mas como dependente químico precisa da droga, meu coração traidor precisa dele... Me obrigo a não abrir a porta e correr para os braços dele, a dor da decepção acabaria comigo depois, quando descobrisse que ele só queria me usar para causar ciúmes na tal Eiza novamente...
De repente a porta abre com força e ele está diante dos meus olhos...

_ Lavínia, a gente precisa conversar...

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