Dona Vera abriu a porta de casa. Era cedo ainda. Mal havia dormido aquela noite, e não fora por falta de sono. Perdera a hora do café e a água agora já fervia no fogão, esperando-a.
- Entra, Laisa - disse, à garota, que também aguardava no limiar da porta.
Maurício, que sequer pregara o olho, havia mandado recado à amiga de Joseline, que viesse o mais rápido que pudesse, pois desejava lhe falar.
- Senta aí, menina - disse Vera. - Meu filho quer conversar com você, mas acho que essa conversa pode esperar enquanto eu passo um café, não é? - Ela olhou repreensiva para o filho, como que dando a entender que ele desse um tempo daquele assunto.
- Nada disso, mamãe. Essa conversa é urgente - disse Maurício. - Laisa, senta aí, por favor.
Laisa assim o fez. Sentou-se no sofá bem arrumado e limpo, enquanto aguardava. Confusa já nem era mais a palavra que a definia. Ela simplesmente não entendia o que Maurício queria, chamando-a uma hora daquelas no dia seguinte ao seu casamento com Joseline. Ele não devia estar em lua de mel?
- Maurício, o que...
Ela se interrompeu. O senhor Ernane entrou na sala. Ambos os homens ficaram em pé, de frente para ela, enquanto a olhavam como se ela escondesse dentro da bolsa algo muito perigoso e radioativo. Ou como se ela soubesse de alguma coisa verdadeiramente terrível.
- Laisa - Maurício se pronunciou novamente. - Eu preciso que você seja sincera comigo agora.
- C-Claro... - ela se sentia praticamente acuada e não estava entendendo nada.
- Você se lembra de quando veio até mim, me contar que achava que Joseline podia estar me traindo?
Ela se lembrava, claro. Sua tentativa patética de fazê-lo desconfiar de Joseline não saía de sua cabeça. Maurício simplesmente fechara os ouvidos para qualquer coisa que ela poderia ter a dizer. E ela havia voltado para casa se sentindo um verme inútil, a mais mal-amada das criaturas.
- Eu me lembro - respondeu, morrendo de medo de que ele voltasse a esculachá-la.
Maurício trocou um olhar sério com o pai. E então se virou para ela.
- Pois então. Eu quero que me conte exatamente tudo o que sabe. O que ela te contou, o que você já viu acontecer. Tudo! Não ouse esconder nenhum detalhe de mim.
Laisa franziu a testa. Maurício enlouquecera?
- Eu... ela não me contou nada. Eu não sei de nada. M-Mas por quê?
- Como não sabe de nada?? - Ele vociferou e Laisa estremeceu. Jamais o vira tão bravo. - Você veio até aqui e me disse claramente que achava que Joseline estava me traindo. Ou eu escutei errado??
- Eu disse isso, mas... foi uma suposição. Eu não vi nada realmente. Apenas a flagrei comprando pílula do dia seguinte na farmácia, mas ela me garantiu que a pílula não era para ela, e sim para uma colega do trabalho. Foi apenas isso... - a voz dela vacilou, estava com medo do olhar dele. - Desculpe, eu não quis denegrir a imagem da sua esposa, Maurício.
Ele a fitou por um momento e então suspirou, passando a mão pela testa vincada e suada. Depois, se sentou no sofá diante dela e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos.
Laisa entortou a cabeça e semicerrou os olhos. Havia algo ali. Ela olhou do filho para o pai e percebeu que os dois tinham a mesma expressão no rosto: a de alguém que estava bravo por ter sido passado para trás.
Seu medo começava a desaparecer. Mas ela precisava ter certeza. Endireitou a coluna e perguntou:
- Aconteceu alguma coisa, gente?
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Moreau
RomanceJoseline é uma moça simples do interior do Tocantins, cuja família vive uma realidade humilde e sofredora. A pobreza, no entanto, não a impede de ser feliz; ao contrário, ela está noiva de seu grande amor, Maurício, um rapaz simples como ela, e os d...