16 A Decisão de Maurício

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Dona Vera abriu a porta de casa. Era cedo ainda. Mal havia dormido aquela noite, e não fora por falta de sono. Perdera a hora do café e a água agora já fervia no fogão, esperando-a.

- Entra, Laisa - disse, à garota, que também aguardava no limiar da porta. 

 Maurício, que sequer pregara o olho, havia mandado recado à amiga de Joseline, que viesse o mais rápido que pudesse, pois desejava lhe falar.

- Senta aí, menina - disse Vera. - Meu filho quer conversar com você, mas acho que essa conversa pode esperar enquanto eu passo um café, não é? - Ela olhou repreensiva para o filho, como que dando a entender que ele desse um tempo daquele assunto.

- Nada disso, mamãe. Essa conversa é urgente - disse Maurício. - Laisa, senta aí, por favor.

Laisa assim o fez. Sentou-se no sofá bem arrumado e limpo, enquanto aguardava. Confusa já nem era mais a palavra que a definia. Ela simplesmente não entendia o que Maurício queria, chamando-a uma hora daquelas no dia seguinte ao seu casamento com Joseline. Ele não devia estar em lua de mel? 

- Maurício, o que...

Ela se interrompeu. O senhor Ernane entrou na sala. Ambos os homens ficaram em pé, de frente para ela, enquanto a olhavam como se ela escondesse dentro da bolsa algo muito perigoso e radioativo. Ou como se ela soubesse de alguma coisa verdadeiramente terrível.

- Laisa - Maurício se pronunciou novamente. - Eu preciso que você seja sincera comigo agora.

- C-Claro... - ela se sentia praticamente acuada e não estava entendendo nada.

- Você se lembra de quando veio até mim, me contar que achava que Joseline podia estar me traindo?

Ela se lembrava, claro. Sua tentativa patética de fazê-lo desconfiar de Joseline não saía de sua cabeça. Maurício simplesmente fechara os ouvidos para qualquer coisa que ela poderia ter a dizer. E ela havia voltado para casa se sentindo um verme inútil, a mais mal-amada das criaturas.

- Eu me lembro - respondeu, morrendo de medo de que ele voltasse a esculachá-la.

Maurício trocou um olhar sério com o pai. E então se virou para ela.

- Pois então. Eu quero que me conte exatamente tudo o que sabe. O que ela te contou, o que você já viu acontecer. Tudo! Não ouse esconder nenhum detalhe de mim.

Laisa franziu a testa. Maurício enlouquecera? 

- Eu... ela não me contou nada. Eu não sei de nada. M-Mas por quê?

- Como não sabe de nada?? - Ele vociferou e Laisa estremeceu. Jamais o vira tão bravo. - Você veio até aqui e me disse claramente que achava que Joseline estava me traindo. Ou eu escutei errado??

- Eu disse isso, mas... foi uma suposição. Eu não vi nada realmente. Apenas a flagrei comprando pílula do dia seguinte na farmácia, mas ela me garantiu que a pílula não era para ela, e sim para uma colega do trabalho. Foi apenas isso... - a voz dela vacilou, estava com medo do olhar dele. - Desculpe, eu não quis denegrir a imagem da sua esposa, Maurício.

Ele a fitou por um momento e então suspirou, passando a mão pela testa vincada e suada. Depois, se sentou no sofá diante dela e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos nos joelhos.

Laisa entortou a cabeça e semicerrou os olhos. Havia algo ali. Ela olhou do filho para o pai e percebeu que os dois tinham a mesma expressão no rosto: a de alguém que estava bravo por ter sido passado para trás.

Seu medo começava a desaparecer. Mas ela precisava ter certeza. Endireitou a coluna e perguntou:

- Aconteceu alguma coisa, gente?

MoreauOnde histórias criam vida. Descubra agora