HERMIONE POV
Casa. Essa palavra carregava um tipo de conforto único, explicado somente pela sensação de sentir um abraço de papai e mamãe. Eles tentavam esconder a preocupação com sorrisos, mas no fundo eu sabia que sofriam ao ver sua filhinha com aqueles machucados.
Transferiram meu quarto para o primeiro andar e colocaram uma cama pequena para Dobby.
—Senhor Wendel Granger... Dobby não precisa de uma cama. Dobby costuma dormir em um saco de batatas, já é bastante confortável.
A professora Minerva já havia ido embora, não sem antes fazer dezenas de elogios ao meu respeito e me deixar sem graça. Meus pais, por outro lado, se enchiam de orgulho ao ver que mesmo eu não sendo nascido bruxa, minha dedicação aos estudos gerava resultados excepcionais.
—Nem pense nisso, Dobby. Minha filha já nos contou sobre a forma com que elfos são tratados na sociedade bruxa. Saiba que em nossa casa você é nosso convidado de honra!
Papai conseguiu fazer Dobby chorar de emoção. No início ele ficou preocupado de ter dito algo inadequado, mas eu expliquei que esse era o jeito do Dobby demonstrar agradecimento.
—Precisa de alguma coisa, querida?
Minha mãe, Mônica, estava sentada ao meu lado segurando delicadamente minha mão.
— Um descanso seria bem vindo, mas eu não recusaria alguns biscoitos que o papai faz.
Sorri e pisquei para ele.
—Está decidido, eu leio um livro para você e papai cuida dos biscoitos.
— Mas Dobby quem deveria estar cuidando da Senhorita Hermione...
Minha mãe respondeu.
—Dobby, estamos com saudade de nossa filha. Vamos paparicar ela um pouquinho e você cuida da parte de trocar as faixas e dar remédio, que tal?
—Ouvi dizer que você é um bom cozinheiro. Gostaria de me ajudar na cozinha? Não temos equipamentos mágicos, mas garanto que minha receita de biscoitos de chocolate com canela tem um segredo mágico!
Sussurrei para Dobby:
— O toque mágico são nozes!
Dobby gostou da ideia de ser útil e acompanhou papai.
Mamãe retornou com um livro em mãos.
—Eu sei que você agora conhece realmente magia... Mas quando era criança, esse aqui era seu jeito de se transportar para um mundo mágico!
Ela mostrou a capa do livro. Pinóquio.
—Lembro de você pedir para que uma fada lhe transformasse uma fada também... Você tinha 4 anos... Pelo visto, ela realizou seu desejo. Agora é sua vez de realizar o desejo da mamãe... E ficar boa logo.
Ela se sentou ao meu lado me deixando apoiar em seu corpo, assim como Fred fez, mas de um jeito mais... Maternal. Poderia ser um livro de crianças, mas para meus pais, eu sempre seria aquela menina que antes mesmo de aprender a ler, já tinha livros preferidos que pedia para que lessem para mim toda noite.
E ouvindo a história do filho do marceneiro, dormi em paz.
***
As janelas ficavam sempre tampadas por cortinas, assim Dobby podia circular na casa sem medo dos vizinhos incomodarem. No dia seguinte eu já pude tirar a tipoia mais rígida e levantar da cama sozinha, apenas tomando cuidado para não pegar peso com os braços. Poder usar talheres para comer foi realmente uma sensação libertadora.
Papai e mamãe revezavam no consultório dentista, assim eu sempre tinha um deles por perto, mas foi com Dobby que passei a maior parte do tempo nos dias seguinte. Foi assim que descobri que Dobby não sabe ler.
—Por que Dobby saberia? Dobby aprendeu seu trabalho cedo, Dobby não precisa de um manual de instruções dizendo como fazer algo.
Sei que centauros, sereianos e duendes sabem ler. Nas aulas de História da Magia discutimos isso, mas nunca me passou pela cabeça que elfos domésticos sequer eram alfabetizados.
—Não é só para manuais, Dobby. Ler também nos diverte e nos ajuda a adquirir mais conhecimento!
—Bem... Dobby gostou da história que o senhor Wendel Granger leu para você ontem a noite. Dobby gostou de imaginar um peixe do tamanho de um gigante... E ainda quebrou o navio sozinho!
Ele falava de Moby Dick.
— Que tal fazermos uma troca, Dobby? Você me deixa eu te ensinar a ler e você pode ficar o livro... Assim, sempre que quiser ver essa história de novo, pode pegar o livro e ler! Ou até mesmo enfeitiçar o livro e ele te conta a história.
— Assim como Mônica e Wendel Granger fazem com a senhorita Hermione Granger?
—Exatamente!
Dobby pareceu empolgado e eu também estava. Talvez o caminho para libertar o elfos não seja dando-lhes roupas, mas dando algo pela qual valha a pena se libertar.
O resto da semana passou voando. Nos últimos dias eu pude tirar a faixa, meus braços estavam com algumas cicatrizes, mas nada agressivo demais. Lembrei de Harry e sua cicatriz reconhecida mundialmente no meio bruxo. Ele prefere pensar na cicatriz para lembrar de como seus pais lhe amavam, não de quem lhe deu essa marca. Da mesma forma, as marcas vermelhas que agora seguem meus braços serão usadas para eu me lembrar de como meus pais me amam e mais do que isso, dessa semana divertida que pude dividir e trocar conhecimentos com Dobby.
Papai e mamãe adoraram a notícia de que Dobby estava aprendendo a ler. Até passaram em uma livraria e compraram livros infantis que ajudam crianças a ler para dar de presente para ele.
Dobby chorou de novo ao receber tantos presentes e eu o convidei a passar parte das suas férias do trabalho com meus pais. Eles adoraram a ideia.
No último dia, Dobby já conseguia ler frases completas sozinho. Passamos a manhã lendo. Eu estava com o interessante livro que o professor Dumbledore me emprestou sobre Leis da Magia que regulamentaram a autonomia dos Sereianos e Dobby terminava de ler uma versão resumida de Peter Pan.
Após o almoço, enquanto Dobby levava a louça para a cozinha, mamãe me chamou para seu quarto para conversarmos e estranhei seu tom sério. A última vez que a vi assim foi quando soube que eu não estudaria na mesma escola que ela... E claro, era uma bruxa.
—Hermione, querida, agora que você está melhor, está na hora de termos uma conversa séria. Quem é esse tal de Viktor Krum?
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Nosso segredo - fremione I
FanfictionTudo começou com um jogo. Você sempre adorou jogos e de alguma forma sabia exatamente que jogo prenderia minha atenção... ...Em você.