Neguéba - Rodrigo
Eu não escolhi ser assim, jamais passou pela minha cabeça que iria ficar desse jeito, e se caso eu soubesse os danos que meus "pais" me causaria eu teria me matado bem antes de ter chegado a esse ponto.
Não é fácil ter que lidar com uma voz dentro da sua cabeça, uma outra personalidade dentro do seu corpo, muito menos quando essa outra personalidade troca de lugar sem ao menos pedir sua permissão pra tal ato.
Desenvolvi dupla personalidade com doze anos, lembro que nessa época já estava internado em um sanatório, na verdade fui internado bem antes de qualquer problema psicológico surgir.
Por um lado até me senti aliviado quando fui levado, já não aguentava mais ser espancado e estrupado por aqueles que deveriam cuidar de mim.
A infância inteira foi assim, nunca tive voz pra bater de frente com minha mãe, muito menos com meu pai quando ele era vivo, se bem que, naquela época eu era apenas uma criança, não sabia bem oque estava acontecendo.
Minha mãe me internou com sete anos, segundo ela eu era doente e precisava ficar isolado, puro caô, ela só não queria ter que lidar com os traumas que meu pai me causou, já que ela como a grande filha da puta que é, participava das atrocidades junto com ele.
Ela nunca foi uma pessoa boa, e por isso eu cresci no ódio com ela, dia após dia naquele inferno eu planejava a morte daquela vagabunda, cada forma de tortura passou pela minha cabeça, cada gota de sangue sendo derramada do seu corpo, tudo de ruim que eu poderia fazer com uma pessoa eu imaginei pra ela.
Só que eu fui fraco, pensei que conseguiria fazer isso quando saísse de lá mais falhei miseravelmente nessa missão.
A maldita voizinha dentro da minha cabeça nao me deixava continuar, e sempre que eu chegava perto de finalizar meu ato eu perdia a consciência e a porra da outra personalidade assumia o comando e estragava tudo.
Nilo, uma criança de quatro a seis anos no máximo, era o morador que morava na minha cabeça sem minha permissão, vivia me atrapalhando e me tornando mais fraco e vulnerável perante ao perigo.
Nino surgiu em um momento de fragilidade, eu era apenas uma criança que já não aguentava mais levar choque pra tentar "curar" uma possível doença mental.
Eu não me lembro muito da minha infância, quer dizer, não me lembro de coisas boas, são poucas as memórias que tenho antes de ser levado, e uma desses memórias é um garotinho que viveu em minha casa por um tempo.
Lembro que meu pai havia levado ele pra ficar lá em casa porque ele não tinha onde morar, eu me recordo que quando ele foi lá pra casa, os abusos que acontecia comigo parou, meu pai nao me procurou mais e eu me senti muito aliviado por isso.
Felipe era o nome do menininho, ele era um pouco mais velho que eu e não gostava muito de brincar de carrinho, mais as vezes até que era legal conversar com ele.
Ele foi o responsável pela morte do meu pai, minha mãe me disse que ele tentou abusar dela, e meu pai viu e foi pra bater nele e ele o matou.
Eu não sentia raiva dele por isso, no fundo eu sempre soube que os abusos que acontecia comigo só parou porque começo a acontecer com ele.
O meu ódio por ele foi por ter sido internado por causa dele, Alina, vulgo minha mãe, dizia que um dos motivos pra eu ser internado era por causa do Felipe.
Eu não entendi na época, pra uma criança de sete anos, qualquer coisa que era dita era a verdade.
Então sem antes descobrir o porque era culpa do Felipe eu fui internado e depois disso eu não quis mais saber a real verdade, eu só senti ódio por ele.
Assim como senti de Alina eu senti odio por Felipe e cresci com isso na minha cabeça, a cada choque levado eu jurava pra mim mesmo que iria matá-los independente de qualquer coisa.
Alina ia me visitar no sanatório, e todas as vezes eu me recusava a vê-la, porém era obrigado a ficar ouvindo sua voz dentro daquele quarto trancado.
Era sempre as mesmas coisas que ela falava, era sempre a mesma pessoa que ela falava, era sempre o Felipe o assunto de suas conversas.
Eu realmente não me interessava no seu discurso de vingança, e nunca entendi essa sede que ela tinha por ele, porra, só porque matou o marido dela?
Tá certo que ele era o dono do morro e bla bla bla, mais nunca foi um marido bom, lembro muito bem das vezes que ele meteu a porrada nela e essa idiota o perdoava, uma trouxa, fazia tudo por dinheiro, pelo luxo que ele proporcionava pra ela, nao duvido nada que ele enchia a cabeça dela de chifre.
Quando fiz dezoito anos consegui sair da clínica, depois de passar quase três anos fingindo ser um menino bom e tendo bom comportamento, eu consegui minha tão esperada alta.
Alina concordou em assinar um bagulho lá que dizia se responsabilizar por mim e que eu não era um risco. Pelo menos a vadia serviu pra alguma coisa
Sai daquela clinica com o meu coração cheio de ódio e com um segredo que ninguém além de mim e o psiquiatra sabia.
Só não imaginava que ao voltar pro lugar que eu pensava ser minha casa minha vida voltaria ser um inferno, só que dessa vez eu não deixaria barato, dessa vez eu iria fazer todos aqueles que contribuíram para minha dor pagar, cada um.
Até👋

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Por ele
ActionAquele bom e velho ditado: Não julga o livro pela capa. nem tudo oque vemos é realmente oque acontece. Neguéba vive com o fardo de não ser uma pessoa normal e se condena por isso, seu único desejo é que tudo passe e ele tenha um pouco de felicidad...