Capítulo 5 - A batalha com a qual Dashiell sempre sonhou

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Earthan fez uma inspeção minuciosa pelo palácio inteiro tentando descobrir se algum de seus serviçais estava lhe traindo e o resultado final o deixou ainda mais nervoso: não havia o menor rastro, nem mesmo os serviçais que foram torturados atrás de respostas tinham algo a dizer. Era como se aquelas cartas estivessem se materializando ali do completo nada, o que o deixava extremamente irritado. Além disso, os guardas que foram enviados para revirar o reino atrás do primeiro príncipe não tinham uma pista sequer e Preciosa continuava desaparecida. Parecia que tudo estava indo contra ele, não demoraria nada para que todas aquelas notícias fossem parar na boca do povo e aquele pensamento o deixava inquieto. Um rei que não é bom para cuidar do filho é bom para cuidar do reino?

— Majestade — Davy disse após vê-lo surtar andando de um lado ao outro por meia hora — Desculpe lhe dizer isso, mas você está fazendo exatamente o que eles querem.

— E o que eu devo fazer, hein? — ele afundou no trono, irritado.

— O oposto do que eles querem que você faça.

Earthan o encarou confuso, não entendeu onde ele queria chegar. O oposto?

Basicamente, a ideia de Davy era que ele fosse a público e virasse a história a favor dele, antes que o povo ficasse sabendo pela boca de outras pessoas. Omitindo sobre Preciosa — porque aquela criança era mesmo inexplicável — ele queria que o rei contasse sobre como seu filho doente foi sequestrado do palácio por alguém muito poderoso e habilidoso, e então pedir a ajuda do povo para encontrá-lo. Era como matar dois coelhos com uma cajadada só: primeiro o povo ficaria com pena daquele pobre pai suplicante que sofreu um ataque terrível contra sua família, depois o próprio povo iria procurar por ele e as chances de alguém encontrar o príncipe seriam bem maiores. Dois problemas resolvidos.

Earthan não estava tão confiante assim naquele plano. Uma parte dele acreditava que podia dar certo, enquanto outra tinha medo de que as coisas não saíssem bem e ele fosse taxado de insuficiente. Mas no fim das contas, o que poderia fazer? Continuar sendo torturado daquela forma não era uma opção.

Então, em uma tarde cinzenta, o pobre rei de Norwana decidiu encarar seu povo e contar a eles o ocorrido. Entre lágrimas falsas e um grande teatro, tentou comover os espectadores sobre o quanto amava seu filho mais velho e o quanto o queria de volta.

Nem era preciso dizer que o plano de Davy deu certo.

— O que você está fazendo aí? — um dos guardas perguntou.

Davy estava no terceiro andar de um prédio atrás do palanque onde Earthan discursava sobre seu amor aos filhos e ao reino. Lá de cima, ele espiava o povo ao redor do rei, seus olhos atentos a todas aquelas pessoas.

— Se o sequestrador estiver por entre essas pessoas, ele agirá de forma diferente — explicou — Então eu posso persegui-lo e quem sabe descobrir alguma coisa.

O guarda assentiu e comentou sobre o quão inteligente ele era, mas os olhos de Davy continuavam cravados do lado de fora, ocupado demais em sua missão. De repente, ele viu um garoto virar as costas no meio do discurso e sair andando, ele não sabia ao certo por que aquilo tinha chamado sua atenção, mas no segundo seguinte já estava correndo atrás dele.





"Isso é a maior besteira que já ouvi"

Kai balançou a cabeça enquanto pensava, o povo de Norwana era mesmo muito ingênuo para cair naquele conto do pai amável e sofredor. Ele não podia negar que tinha ficado irritado com aquele movimento, não achou que o rei teria coragem de falar sobre aquilo em público, mesmo sendo distorcido daquela forma, agora ele teria que pensar em outro método para irritá-lo.

Reinos de Ouro e Sangue II - O Príncipe do GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora