A Enseada

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A enseada próximo a casa do vovô Nilo, era um lugar paradisíaco, no qual eu adorava passar o fim de tarde.
Naquele ambiente pacato, alguns casais gostavam de fazer piquenique ao pôr do sol, realmente tudo ali parecia muito romântico, como no filme férias de amor. mas quem sou eu para falar de romance? A velha garota de 20 anos, que ainda não sabe o que é sofrer e nem amar.
O primeiro romance que tive, não sei se o posso considerar desta forma, foi quando um garotinho da escola, o Ângelo, me pediu em namoro.
A gente dividia o lanchinho na hora do recreio, íamos para o carrosel da escola e eu me despedia todos os dias quando ele ia embora.
Mas éramos tão crianças e vivíamos tão contentes, que ambos esquecemos que éramos namoradinhos, e continuamos a nossa amizade.
Porque na verdade, a gente nem sabia o que era isso, apenas sobre o que era ser feliz.
No fundo eu poderia dizer que sinto falta de amar, alguém que eu nem sequer conheço, pois o amor, parece ser tão lindo, sim! Sentir falta de algo que nunca experimentei é algo que faz parte da minha vida, acredito também que não sou a única a me sentir dessa forma, quem nunca sentiu vontade de provar algo que nunca sentiu ?
Lembro-me quando fui para a primeira festa da Universidade, todo mundo estava experimentando bebidas alcoólicas e na nossa casa não somos chegados a álcool, apenas o meu pai, e quando ele bebe fica insuportável! Mas a minha curiosidade naquele dia falou mais alto do que o meu senso do certo e o errado, eu precisava beber aquela coisa que todo mundo experimentava, e eu tenho certeza de que se a mamãe me ouvisse contando algo assim, diria:
- Você  não é todo mundo!
Eu não sou mesmo! Foi por causa disso que muitas vezes escapei de trilhar caminhos desonestos.
Naquele dia na Universidade, a galera provava algo chamado "Cuba Libre" era uma bebida a base de rum, limão e cola, não importava se ela tinha um gosto ruim ou não, a galera estava ali para dizer que era uma delícia e que eu precisava experimentar já que eu tinha mais de 18 anos e que eu estava entrevada para as coisas da vida.
Beber aquela coisa, para mim não foi nada agradável, preferia muito mais beber apenas a coca-cola, pra quê estragar algo que é tão delicioso?
Aquela sensação não foi das melhores, meu corpo parecia que iria se espatifar no chão a qualquer momento, a minha cabeça estava tão zonza que me causou muito enjôo, a minha vontade era de ficar rindo por horas de qualquer coisa que alguém contasse;
Mas a minha dúvida foi sanada, então concluo que o amor pode valer a pena ou até mesmo não, depende das expectativas que colocamos sobre ele e das experiências que passamos através dele.
Sentar na areia, me fazia se sentir viva, ali naquele lugar eu não pensava mais em carreira, dinheiro ou fama, eu apenas observava as gaivotas que saiam a procura do seu ninho e as tonalidades do céu que oscilavam do mais forte tom vermelho até o mais suave tom de lilás, era magnífico observar o sol com o mais iluminado raio, que permeava as nuvens e dava sua última luz para aquele dia esplêndido. As luzes dos barcos que descansavam sob o lindo lago que nessas horas coalhava-se em um puro e brilhante tom de prata. As altas montanhas onde parecia que o sol estava se abrigando e  que faziam com que a enseada parecesse um grande balde com água.
Ali era realmente uma obra divinal, não havia como negar!
Enquanto admirava toda aquela natureza exuberante, deixei cair o meu relicário, o único que continha a foto da minha vó Margarida, uma foto rara que beirava a década de 1900, a vovô era linda de cabelos ondulados e curtos, um chapéu de aba larga com flores, um vestido muito bem composto de  rendas e frufrus, e um belíssimo brinco perolado... que sorte o vovô teve de encontrar uma jovem tão linda e que cuidou tão bem dele por todos esses anos!
Passei horas cavando a areia da enseada a fim de encontrar aquela peça tão valiosa para mim, já era por volta de  meio dia, e nada do relicário, então me dei conta que seria melhor voltar para o casebre do vovô e me dar por vencida.
Não tinha como encontrar uma jóia tão pequena naquela quantidade enorme de areia.
Eu poderia passar horas e horas ali apenas observando, mas logo teria que voltar para cozinhar algo para eu e o vovô Nilo comer.
Desde que saí da cidade para cuidar do meu avô, tenho experimentado sobre o quão maravilhoso é poder viver em meio a natureza.
O caminho para a casa do vovô é repleto de guanandis, grama verde e sombra fresca.
Além da presença de pássaros difíceis de encontrar na cidade, e o cheiro das frutas recém colhidas das pequenas chácaras cercadas por madeira de eucaliptos.
o que eu poderia pedir mais por tudo isso?
Toda aquela natureza tinha a mão do Criador, e mesmo que eu tivesse toda a grana do mundo, ainda não teria metade do que recebo de graça quando dou uma caminhada como essa aqui no vilarejo.
Quando eu contei a Helione que estava prestes a viver longe de todos, como uma caipira, ela riu de mim. Pois tanto eu quanto a Helione éramos acostumadas a nos divertir em casa com os amigos, ao som da Jovem guarda é claro!  para compartilhar da nossa juventude.
No dia da festa, Helione passava a tarde comigo no nosso dia de spa: creme Nivea no rosto e pepino nos olhos, bobs para enrolar o cabelo, bastante laquê,  Mel, aveia, leite, para esfoliar a pele... a gente fazia uma total vitamina e ficávamos belíssimas para a noite.
Pouco antes da festa começar, a mesa já estava repleta de coca-cola, batata frita, canapés e muita pipoca! A galera se esbaldava ao som da Celly Campello.
Mesmo após o término do curso, Helione ainda insistia em fazermos umas festinhas de vez em quando, e a gente se divertia a bessa.
Exceto quando Helione inventava de trazer meninos para tentar me paquerar.
Eu não queria ninguém para atrapalhar os meus estudos naquele momento e ainda continuo sem saco para esse tipo de coisa.
Eu tinha uma vida muito bem cronometrada: Acordar, ler a bíblia, me alimentar, socializar e estudar, e portanto não encontrava razão alguma para um relacionamento, parece que a  Helione se achava sempre no direito de meter o dedo na minha vida e opinar se eu deveria ou não permanecer solteira.
Era muito desagradável quando de repente chegava um garoto com muitos assuntos para o meu lado, qual é! Eu só queria curtir a festa!
Aos poucos eu ia me desfazendo do garoto e pedia licença para ir ao banheiro e era assim que eu nunca mais retornava para aquela conversa enfadonha.
Para ela, eu estava sendo injusta comigo mesma e precisava me tratar. Ela achava absurdo querer abandonar esta minha vida, pois a nossa juventude estava sendo muito bom de se viver.
Mas quando soube do meu vovô, senti que deveria abandonar essa antiga vida, para que pudesse ser luz na vida do meu querido vozinho.
Talvez para mim, eu estava muito feliz. Recém graduada, pensando em morar em São Paulo e até quem sabe viver o meu primeiro romance. Mas ao receber a notícia do internamento do vovô, eu não poderia deixa-lo preso ali naquele lugar cinzento e sombrio, ninguém lembrava do vovô, apenas a mamãe, embora fosse necessário aquele tratamento, o Dr Maciel permitiu que ele voltasse para casa se houvesse a ajuda de um familiar para o acompanhar dos remédios e das consultas, e eu era a única solteira da família, e entendia bem da área da saúde, eu precisava tirar ele de lá e o fazer viver!
A mamãe e a Matilde, não quiseram me acompanhar nesta aventura.
Primeiro porque vir pra cá exigia ter que cuidar do meu avô, e a minha mãe mal podia sair de casa, por causa do meu pai, o Sebastião, pois para ele a minha mãe deveria ser exclusividade, e todos os dias teria que deixar a casa impecável e as roupas totalmente engomadas, para que quando ele chegasse do trabalho, pudesse usufluir do benefício de ter uma esposa empregada.
A Matilde, minha irmã, estava realmente ocupada em sua vida acadêmica, e utilizava todas as horas que lhe restara para preparar receitas que estava aprendendo durante os jornais.
Recebi um telefonema do Dr. Maciel, sobre o estado de vovô, que estava padecendo solitariamente de problemas psicológicos devido a sua idade.
Aquele centro de internação o deixara enclausurado, já fazia quase um mês, que o vovô Nilo não levantava da cama do sanatório, se alimentando por sonda, em uma tristeza infinita.
Mal respondia as respostas do Dr Maciel e se negava a tomar algumas medicações, e por isso foi necessário o uso de calmantes, para deixa-lo mais relaxado.
Desde que a vovó Margarida se foi, o vovô não tem lidado com tanta responsabilidade, e aos poucos começou a adoecer, desde então a sua vida tem sido presa naquela clínica sombria, a mando do seu primeiro filho, o Ernesto, que estava muito preocupado com a sua indústria têxtil, pois os tempos estavam difíceis, e ele não queria dividir a sua atenção com aquele senhor que um dia tanto zelou pela sua vida.
Eu era a única moça de família que estava nas condições de cuidar de um senhor de idade, e por este motivo decidi largar tudo, para cuidar dele e faze-lo o homem mais feliz desta terra.
O vovô passava horas sentado no jardim, em sua velha cadeira de madeira pura, que ele mesmo elaborou na sua juventude. Ela era dobrável  e ao meio continha um tecido de retalhos coloridos, acredito que isso tenha sido obra da minha falecida vovó, pois tinha um toque feminino e aconchegante.
Havia um enorme vazio em seu olhar, e embora eu tentasse puxar qualquer assunto, ele nem sequer me respondia com um " Olá".
Aquele jeito cabisbaixo, começou a me afetar, não suportava encontra-lo naquele jardim olhando para o escuro e ouvindo o rádio, havia algo nele, no qual eu não conseguia entender... Talvez o medo de ir embora fizesse parte da sua depressão.
Eu estava começando a compreender o quão valioso era o amor marital, mesmo que as experiências visíveis que tive com a mamãe e o papai não tivesse sido das melhores.
Mas quando há harmonia e cumplicidade, o amor se torna provisão e abrigo para os dias mais tristes.
Ao observar o meu vovô tão triste daquela forma, entendi que o amor é  muito mais do que simplesmente deixar a casa impecável para quando o outro chegar, era muito mais do que engomar as roupas e muito mais do que ser uma empregada. O amor era o responsável por preencher um grande espaço no coração. Era aquele que aquecia as noites frias e escuras da vida, era aquele que poderia fazer alguém levantar do mais terrível estado e fazer
Saltar de felicidade.
Este é o amor.
Enquanto arrumava o nosso pequeno casebre, encontrei algumas lembranças do vovô. Eu não cheguei a conhece-lo antes de vir para cá, pois a minha casa não era no mesmo Estado que ele, e era impossível para mim viajar, já que estava concluindo o meu curso de Enfermagem.
Eu sentia no meu coração, que chegaria o dia de vê-lo, e mesmo a mamãe dizendo que eu já o conheci quando eu era bebê, não tinha como recordar do seu rosto e nem mesmo saber a sensação de abraça-lo.
Eu queria me sentir mais perto dele, mas havia um bloqueio que eu deveria quebrar para que este vínculo fosse efetuado.
Em cima da cama havia vários papéis amassados e apenas um intacto, dei várias voltas antes de pegar aquele papel para ler, eu não sabia se era o correto naquele momento, mas eu precisava conhece-lo e ele não contribuía.
Em cima da cômoda, havia também uma antiga caixa com diversas fotos, mas eu estava incomodada, pois ele poderia me ver a qualquer momento tentando bisbilhotar as suas coisas e isso seria muito desagradável, então peguei apenas um dos papéis amassados e levei para o meu aposento.
O meu quarto não tinha nada de especial, era apenas um pedaço de chão com paredes de barro, um alto colchão feito a base de palha socada, envolvida por um lençol bem aconchegante de algodão, um vaso de água ao lado do colchão   e uma vitrola que ficava em cima de um banco de madeira bem no cantinho da parede.
Eu já estava muito feliz por ter esse espaço só para mim, ali seria o meu lugar de aconchego sempre que eu tivesse um dia muito desgastado.
Já era noite, e eu precisava pensar no que iria fazer para o jantar, tomei um banho muito delicioso depois daquele passeio majestoso na enseada e fui para a cozinha.
Lá não tinha refrigerador para guardar os alimentos, então procurei por alimentos no velho armário daquela cozinha antiga, composta por: Um calendário do ano passado, uma mesa com uma linda toalha bordada, uma flor que jazia murcha do tempo, um retrato antigo que parecia ser do vovô e da vovó  Margarida.
A sensação que eu tive era que aquela cozinha não estava sendo cuidada desde a morte da sua esposa.
A louça estava muito suja, e nela já habitava inúmeros insetos asquerosos que rastejavam sob os pratos de alimentos, além das quantidades de moscas minúsculas que me deixaram bastante nauseada por algum tempo. Sob a mesa havia um jornal com vários rabiscos no passatempo, eu imagino o quanto a solidão foi terrível para ele.
Nesta hora começo a pensar no quão bom deve ser amar alguém de verdade e poder contar com ele para tudo o que for necessário, o pior é quando temos que deixa-lo, quando nada vai bem, quando tudo parece preto e branco, quando tudo se torna cinzas.
A cozinha do vovô transparecia tristeza, um sentimento acabado, um desprezo total por aquela área, eu me senti mal, estava sendo afetada pelo exício do amor.
Senti uma enorme condolência pela perda tão eminente do amor da sua vida.
Encontrei ao lado do fogão, uma pequena saca de batatas e um pouco de milho, nada estava novo, mas era o suficiente para esta janta.
A mamãe me disse que o vovô gostava de cultivar algumas coisas, e acredito que as batatas e os milhos, foram antes desta terrível depressão que o afetou.
A minha experiência sobre a dor, era algo tão mesquinho e superficial, que cheguei a sentir vergonha de mim mesma. O que o meu vovô sentiu ao ver o amor da sua vida indo embora? Porque parece que ele ainda sofre. Mesmo que já  tenha passado bastante tempo.
Preparei purê de batatas, e milho cozido e o convidei para o jantar.
Vovô permaneceu estático por algum tempo, ouvindo a rádio que anunciava a venda das primeiras televisões de cores que deveria custar um rim.
Eu pensei em juntar uma grana, para comprar uma tv dessas.
O vovô iria ficar feliz em assistir tv, depois de tanto tempo ouvindo apenas a rádio.
Decidi sentar-me ao lado dele e ficar em silêncio por um momento, para que ele entendesse que não precisava passar por tudo aquilo sozinho, ele tinha a mim e eu tinha a ele.
Após alguns minutos entrei para cozinha e comecei a jantar solitariamente, pois o meu velho estava triste demais para se alimentar naquele momento.
Passando-se pouco tempo ele veio e se sentou em silêncio.
Os olhos do querido velho, brilhou ao olhar para aquela mesa simples e deliciosa, e pela primeira vez ouvi a sua voz me dizer " Obrigado."
Após o jantar, o dia anoiteceu por completo, então perguntei ao meu velho se gostaria de um belo banho.
Ele se negou, porque estava com vergonha de que eu o visse desnudo.
Eu já havia premeditado que isso iria acontecer, e preparei a caixa d' água que ficava nos fundos do casebre, a fim de permitir que ele tomasse um banho satisfatório naquela noite.
Peguei um pequeno banco na cozinha e o auxiliei a entrar naquele pequeno reservatório de água, disse a ele que não precisava tirar a roupa, que o retirasse após a entrada no reservatório, e assim ele fez.
Após o banho ele sentou novamente na sua cadeira preferida de balanço e ligou rádio, e assim eu já podia descansar, vendo o meu vovô perfumado, penteado e satisfeito.
Agora era a hora de entrar no quarto e ler aquela folha de papel que estava toda amassada e rabiscada.
Relutei por alguns segundos, pedi perdão a Deus por estar invadindo o espaço do meu vovô. Mas eu precisava entender o porquê dele se sentir tão triste a ponto daquilo afetar o seu psicológico e tirar a sua alegria de viver.
Então comecei a balbuciar quase susurrando o que estava lendo.
" Querida e doce Margarida.
Porque os tempos se passaram tão rápidos?
Foram tempos tão bons que viviamos juntos.
Você me completava em tudo! Nunca mais terei flores novamente colhidas por você e posta na minha mesa.
Nem experimentarei novamente aquele frango que você cozinhava com tanto gosto.
Você se foi para longe de mim, mas as nossas memórias permaneceram aqui para sempre.
Prefiro fechar os olhos e imaginar que você está aqui comigo, porque nada mais me importa."
Aquelas palavras foram tão dolorosas para mim, que me fizeram chorar por um longo período de tempo.
Eu precisava me conter, pois o meu velhinho logo logo estaria com sono e eu precisava deixar a cama impecável para que ele pudesse ter um completo descanso.
Troquei o forro da cama, retirei todos os papéis que faziam parte dos sentimentos do meu vovô.
Engomei as suas roupas e coloquei todos os papéis encima da escrivaninha.
Vovô adorava incensos e aquele quarto estava infestado de incensos naturais coletados de plantinhas que ele costumava coletar.
Havia um feixe ressecado pelo tempo, envolvido por linhas de costura, liberando uma fumaça cheirosa, que me fazia querer permanecer ali por um pouco mais de tempo.
Lembrei-me de um vescículo da bíblia em que diz que as nossas orações sobem como incenso, e ainda outro diz que os anjos colocam pertinho de Deus uma grande quantidade de incensos juntamente com as orações daqueles que o clamam.
Ah se o vovô soubesse como é maravilhoso abrir o coração para Deus nesses dias em que ele vem vivendo, queria tanto vê-lo sorrir novamente!
Deus, por favor, me ouve nesta noite, acalma o coração do meu querido velho, é triste encontra-lo desta maneira.
Tenho certeza de que a vovó está em boas mãos, porque Tu és o Senhor da vida.
Eu ti amo muito!
Amém.
Ele entrou no quarto e o seu olhar percorreu toda a cama, eu tenho certeza de que ele estava a procura das cartas.
Então apontei para o local onde havia deixado.
Ele apenas soltou um grunhido "rhm"
E fez silêncio.
Eu deixei claro de que não mexi naqueles papéis, mesmo sabendo que era mentira.
Então ele se deitou, se cobriu e logo descansou.
Naquele momento do seu descanso, eu consegui visualizar um homem que estava começando a se sentir mais tranquilo, e eu estava feliz por fazer parte desta serenidade.
Ao voltar para o meu aposento, comecei a imaginar formas de como fazer com que vovô se sentisse mais feliz, algo como a vovó Margarida fazia todos os dias " Colocar flores sob a mesa".
A minha mente logo se iluminou ao lembrar da enseada.
Lá havia varias conchinhas do mar, eu poderia pegar todas e fazer artesanatos para o vovô enquanto ele tivesse nos atendimentos do  Dr Maciel.
Também me lembrei da cartinha em que ele escreveu para vovó Margarida mencionando o frango delicioso que ela preparava.
Bom... Eu não sou a melhor chefe de cozinha, mas eu posso tentar oferecer o meu melhor.
Depois dessa incrível noite, fui para o telefone falar com a minha mãe, pois imagino que para ela o dia não estava tão feliz assim.
- Oi mãe, que saudades que estou da senhora!
- Oi filha! Também estou sentindo muita falta sua, sempre que estamos juntas o dia passa muito rápido, além de que você sempre me ajudou a limpar essa bendita casa que suja a cada 20 minutos por causa da fuligem que saí da padaria e eu não aguento mais! O Fernando não para um minuto de beber, a Matilde quase não olha pra minha cara, será que estou invisível por aqui?
- Mãe, eu imagino o fardo que a senhora vem carregando, a senhora precisa esparecer, ir ao parque com as amigas ou até mesmo fazer parte das oficinas da igreja. Lembra do clube do bolo a tarde? Porque não participa?
- Amanda!!! Eu vou fazer isso de que horas minha filha? Acorda pra Jesus!
- Que tal acordar uma hora antes e preparar as coisas? Assim você fica com o tempo todo livre. Ou então você acorda cedinho e vai com as amigas curtir uma praia. Aqui perto do casebre do vovô encontrei um lugar mágico...
- Pelo amor de Deus, lá vem Amanda com essas loucuras.
- Peraí mãe, deixa eu concluir! Ela vai ser a salvação para a depressão do vovô.
- Tá, me conta.
- Bom! Os fins de tardes daqui são magníficos e tem muitas conchas do mar, pensei em pegar algumas e montar algo pro vovô, descobri que ele ama decoração sob a toalha da mesa, será que ele vai gostar?
- Não sei filha, talvez sim... seu avô anda tão tristinho depois que mamãe se foi, todas as tentativas poderiam nos levar a algo muito bom, você pode tentar.
- Foi exatamente o que eu pensei.
Mamãe preciso ir, tenta fazer o que eu ti disse, cuide de você também, você é incrível sabia? E eu ti amo muito.
- Também ti amo meu coração.

O dia mal clareou e eu já estava disposta a começar um novo dia da melhor forma possível!
Aproveitei que o vovô ainda estava dormindo, para preparar várias surpresas para ele.
Coloquei o meu chapéu de praia, porque hoje o dia estava lindo e eu estava ansiando pegar a maior quantidade de conchas possíveis para fazer uma linda obra de arte.
Mas primeiro precisava passar na feira de quarta, que é muito típico aqui da pacata cidade.
A quantidade de frutas coloridas e brilhosas me encheram os olhos.
Eu peguei algumas quantidades de maçãs para fazer uns bolos bem deliciosos com canela, peguei umas bananas para grelhar e comer com cuscuz, algumas laranjas para fazer sucos e goiabas para fazer doces e tudo por um preço muito baixo, isso sim era ser feliz!
Passei na mercearia para comprar o restante da feira, eu queria muito encontrar um frango para vender, mas essa tarefa se tornou mais difícil do que eu imaginava.
Ali no povoado as pessoas não pareciam tão habituadas assim com alimentos que não fossem " Frutos e frutas do mar."
De onde o vovô tirou a ideia de que vovó fazia frango para ele?
Onde que eu iria encontrar isso? Eu estava ali distante de tudo, e não tinha como me distanciar do vovô por muito tempo.
Por hora este sonho de preparar um incrível guisado virou pó.
Eu precisava de outra receita que suprisse a necessidade de usar a galinha.
Uma coisa que nunca faltaria neste povoado são os pescados.
Aqui encontro qualquer tipo de peixes que eu pudesse procurar e era esta opção que eu precisava usar.
Mas imagina só, uma garota da cidade que nunca nunquinha cozinhou na vida, ter que preparar um peixe para o vovô, eu precisava urgente ligar para a Matilde, ela era a garota da cidade perfeita para me ajudar nesse almoço, até porque ela não larga da tv, sempre está preparando coisas novas, e tanto eu quanto o vovô precisávamos de uma mãozinha neste momento.
Meu avô merecia tudo de bom e do melhor, e eu fico me perguntando como foi que ele passou tanto tempo naquele sanatório? Porque deixaram o vovô lá?
Cheguei em casa e ainda eram 6:00 horas da manhã.
Havia esquecido de comprar cola para fazer o artesanato do velho.
-Boa idéia! Vou fazer um terrário!
Peguei uma jarra de suco de frutas de vidro do vovô, enchi de areia branca, até a metade, coloquei algumas conchas pintadas de esmalte azul e algumas flores brancas que estavam próximo a cerca do nosso casebre.
Era por volta das 8:00 da manhã e eu parecia já ter cuidado de todas as coisas daquela casa, conseguir fazer milagres naquela cozinha, agora ela estava limpa e perfumada, pronta para receber o vovô quando ele quisesse jogar um caça palavras ou quem sabe batalhar um jogo da velha comigo!
Agora me faltava ligar para a Matilde, antes que o vovô acordasse.

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