As mãos eram firmes. Pareciam sair de todos os lugares. O fogo que no começo parecia pequeno, já crescia em uma velocidade assustadora. Mais gritos, mais gritos. Alguns de crianças, outros de Mulheres. Senti minha perna queimar, foi então que caí encima do fogo. Gritei até minha garganta doer, o fogo subia nas minhas pernas e nas minhas costas. Ao mesmo tempo, as mãos daquelas coisas impediram minha visão ao redor. Uma mão acabou de impedir meu grito de socorro. O fogo continuava a subir no meu corpo. Com muita dificuldade, me levantei, minha roupas estavam queimando junto com minha pele. Tentei correr, mas estava sentindo minhas pernas fracas, no meio daquela luz fraca causada pelo fogo, olhei para baixo e vi minhas pernas. Estavam pretas com carne saindo e estava doendo muito. Soltei mais um grito. Caí no chão me debatendo. Uma mão toca em meu ombro. Olho pro lado ainda gritando. Era o padre.
- Joe, o que houve? Eu escutei seus gritos.
- FOGO.
Minha voz já estava fraca. Olhei na sala, nada, apenas escuro. Era óbvio que era uma ilusão. Mas. . . Parecia tão real. A dor, os gritos. Tudo era muito real.
- Não tem fogo. Você estava se debatendo no chão.
Coloquei a mão no rosto. Olhei para o padre com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Saiu como um tiro. Eu não sabia mais o que fazer.
- Eu estava sentindo mãos me segurando. E vi também fogo. Eu vi fogo bem ali.
Apontei exatamente onde o fogo estava. O padre olhou para o lado e me disse com uma voz baixa e séria.
- E o que mais você viu?
- Nada, apenas isso.
- As vozes, como elas eram?
- Eram. . .
Minha mente estava ainda em choque. Mas conseguir lembrar.
- Eram vozes de crianças e algumas eram de Mulheres também.
- Crianças e mulheres?
- Sim.
- O que elas diziam?
- Diziam. . .
Lembre, lembre, lembre.
- Pediam para eu não matar elas.
O padre olhou pra mim com os olhos fixos ainda. Então ele me mandou ir para casa.
Eu não queria ir sozinho. Nem pensar. Não quero estar sozinho nunca. Muito menos depois disso. Mas então saí da igreja e olhei para o lado. Pedro. Pedro ainda estava fumando. Corri até ele e falei:
- Tá bom então, você ganhou.
Ele me olhou confuso.
- Ganhei o que?
- Eu quebrei a regra das nove horas. Eu quebrei. É verdade. Por favor me diz o que devo fazer agora.
Pedro jogou o cigarro fora e se levantou.
- Já era meio óbvio pela suas reações quando eu perguntava isso. Depois daquela sua fala naquele dia que eu estava em sua casa também te entregou. Mas agora tenho sua confirmação. O que te fez mudar de ideia e me falar?
- Eu estou vendo coisas, pelo menos eu só via elas, mas agora estou sentindo. Eu vi fogo na igreja e senti que meu corpo estava sendo queimado. Realmente estava doendo. Muito. Você me mostrou aquelas notícias e me disse que eu ia ficar que nem eles se eu não fizesse nada. Então o que eu devo fazer agora?
Pedro parecia estar aguardando aquela minha inciativa muito tempo. Pois ele logo abriu um pequeno sorrisinho. O que me deixou bastante desconfortável. Parecia que de alguma forma ele não acreditava em mim, só fez aquilo tudo pra me assustar. Meu Deus, será que é isso? Será que ele pensa que estou ficando louco de verdade?
- Vou ser bem direto com você. Eu não sei o que fazer.
- Oi?
- Exato, eu nunca vi alguém que saiu depois das nove, pelo menos, não vivo.
- Então se você não sabe o que fazer, por que fez aquilo tudo? As notícias, e o resto?
- Por que eu também quero descobrir a merda do passado dessa cidade. Vários casos de crimes realmente estavam acontecendo aqui, e quando cheguei aqui, me falaram que era algo sobrenatural. Não acreditei, até ver algumas coisas estranhas.
- Você viu?
- Sim, quando cheguei aqui, eu tinha um gato. Eu deixei ele fora de casa umas 22:40 da noite. No dia seguinte, ele voltou. Mas parecia assustado. Ficou mais agressivo, não queria ficar mais no colo, não comia, não bebia água. Não queria mais ficar fora de casa, apenas ficava dentro do quarto miando muito alto como se estivesse machucado. Então, quando voltei da rua, meu gato sumiu. Não achei ele em lugar nenhum. E então, alguns dias depois, a cabeça dele apareceu em baixo da minha cama. Foi horrível. Depois disso, comecei a ver uma menina correndo com meu gato sem a cabeça no colo pela rua a noite.
- É uma menina que parece estar suja de sangue?
- Sim. Você já viu ela?
- Sim.
- Então estamos no mesmo barco.
- Mas o que você vai fazer agora?
- Eu queria ver mais da cidade. Mas não achei nada, não sei nem por onde começar.
- Eu sei de um lugar que você devia começar.
- Qual?
Lembrei da casa abandonada. Do poço, da caveira que tinha visto lá dentro, do homem encapuzado que vi dentro da casa. Podemos começar lá. Ou pelo menos ele começa, eu não encosto mais lá.
- Quem foi os outros Dois amigos que você disse que estavam na mesma situação que você?
Desculpa Matheus e Alice, mas ficar de castigo é o menor dos nossos problemas.
- Sim, meus dois amigos, Matheus e Alice.
- Três pessoas quebraram a tal regra das nove.
- Sim.Me senti mais aliviado, ficar prendendo isso tudo comigo ia me matar alguma hora. Pedi para Pedro me levar para casa. Ele me levou e me deixou na frente da calçada. Deu tchau e foi embora. Olhei para minha casa e respirei fundo. Enquanto estava caminhando em direção da porta, senti um cheiro muito forte de carniça. Olhei para atrás de uma árvore que tinha ali no meu quintal. Uma menina de cabelos pretos estava ajoelhada segurando algo em seu colo. Um gato sem a cabeça. Ela olha pra mim e solta um sorriso e se levanta. Ela começa a andar com o corpo do gato na minha direção.
Continua. . .
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Nunca saia sozinho
Mystery / ThrillerAs pessoas não são como parecem ser. Joe é um adolescente de 12 anos. Ele mora em uma cidade aparentemente muito feliz. Mas todos os moradores dessa cidade seguem uma regra: NÃO É PERMITIDO QUE NINGUÉM SAÍA DE CASA DEPOIS DAS NOVE HORAS DA NOITE. M...