Nunca saia sozinho

Capítulo 8: Baratas

Parece um crânio humano.
     As palavras de Matheus me assustaram na hora. Eu me viro para o buraco.
     - O quê?
     - Eu tô falando sério.
Ele realmente não estava mentindo. Eu olhei para o lugar onde ele estava apontando e vi um rosto de uma caveira. Um arrepio subiu pelas minhas costas. Nesse momento escutei sussurros vindo de dentro da casa. Pensei que era Gary.
      Meu coração começou a bater mais rápido. Olhei para a janela da casa e vi uma iluminação. Mas uma iluminação que parece ser de velas. Olhei pela janela e vi uma pessoa grande e de capuz saindo pela porta. É Gary, eu tenho certeza. Mas então eu vi o motivo da iluminação. Eram duas velas. Junto com elas tinha cerca de cinco animais mortos.
     Se realmente foi Gary, por que ele ia acender aquelas velas? O Grito de Matheus cortou os meus pensamentos.
     Corri para perto do buraco.
      - O quê foi?
      - Tem baratas subindo em mim.
Era só isso?
Olhei mais atento para dentro do buraco e vi o braço e as duas pernas de Matheus pretas. Eram baratas subindo em cima dele. Ele não parava de gritar. Entrei em pânico. Não tinha como eu ajudar ele, eu tinha que ficar ali em cima. Matheus começou a tossir de tanto gritar.
      Seu corpo já estava complemente coberto de baratas. Comecei a querer vomitar. Então Alice chegou com a corda.

     Alice me entregou a corda. Olhei de volta para o buraco e vi Matheus tossindo. Mas nenhuma barata em cima dele. Uma ilusão? Mas Matheus também viu. Óbvio que não era. Joguei a corda lá em baixo do poço e amarrei em uma árvore.
     - Pode subir.
Matheus se segurou na corda e com a única para boa, tentou de equilibrar enquanto eu e Alice puxava a corda. Matheus subiu a superfície e se sentou no chão. Sua perna realmente estava machucada. Um ferimento provavelmente feito por causa que ele caiu em cima de uma pedra. E ao redor do corte, estava roxo.
      - O quê foi falar pra minha mãe?
      - Que você estava fugindo do Gary e caiu.
      - Até parece que ela vai acreditar.
Gary é  conhecido pelos adultos como um "Exemplo de menino". Apenas para as outras crianças que ele era conhecido como o "Diabo".

Ficamos sentados ao lado do buraco por um tempo. Então eu lembrei do crânio humano que Matheus disse ter visto dentro do buraco.
     - Ei.
     - Sim.
     - É verdade que tem um crânio humano lá dentro?
     - Crânio? - Alice respondeu assustada.
     - Não. - Matheus disse.
     - Como não?
     - Não tem. Eu apenas confundi.
     - Você tá mentindo.
     - Não estou.
Ele tava. Como ele contundiu um crânio humano? Talvez realmente tinha outra caveira de um animal lá dentro, mas mesmo assim isso parece muito estranho. Afinal, eu acho que também vi.
     Matheus tentou se levantar algumas vezes mas não conseguiu. Estávamos ficando desesperados. Gary ainda podia estará atrás da gente, e agora a perna de Matheus está acabada. Matheus começa a chorar.
     Alice se levanta e anda até o buraco. Olha para o fundo e começa a tirar algumas fotos. Não sei por que ela está fazendo isso. Me lembro da foto que ela me mostrou na casa da árvore. Ainda estava confuso, não tinha visto nada nela. Pelo menos, nada de estranho.
     Matheus pede o celular de Alice.
     - O quê você vai fazer?
     - Eu vou ligar para a minha mãe.
     - Mas o que você vai dizer?
     - Não sei, só sei que quero sair dessa mata.
Ele começa a digitar os números no telefone. Assim que o toques começam, no terceiro, a ligação trava. Nenhum som é escutado do outro lado da linha. Ficando confusos, ali tinha sinal. Afinal, estávamos perto da cidade. Depois de alguns ruídos, Matheus tenta desligar. Mas sem sucesso. Mas então uma voz é escutada no outro lado da linha. Era uma mulher pedindo ajuda desesperada.

Me deixa em paz, seu demônio.

Essa foi uma das frases, depois desse, foi apenas mais ruídos. Mas então outra frase foi escutada:

O demônio está em você, precisamos tirar ele. RÁPIDO.

Esse, desta vez era de um homem.

Continua. . .