ANTOLOGIA DO HORROR

HORING

Desde que a velha havia se mudado para as proximidades do vilarejo, três crianças sumiram misteriosamente, um caçador que afirma ter visto algo terrível naquela floresta ficou louco e uma peste negra se espalhou pelo local. Uma chuva de gafanhotos devorou as lavouras de arroz e as gestantes não tinham mais leite para amamentar seus filhos. O vilarejo estava morrendo de fome e a culpa era da velha bruxa, diziam os moradores.

- Deus, dê-nos força para continuar. Somos pecadores, mas nos arrependemos de nossos pecados... – Orava o padre na pequena igreja situada no centro do vilarejo de Horing. Entre seus fiéis estavam mulheres com crianças magras nos colos, homens e jovens.

- Padre, nossa vaca leiteira morreu ontem durante a noite. Ela estava velha, já quase nem dava leite, mas o pouco que produzia era destinado a minha filha pequena. Meu marido saiu para caçar há três dias e ainda não voltou, preciso de ajuda – suplicou uma camponesa com um bebe no colo quando a cerimônia acabou.

- Minha filha, também tenho pouco, infelizmente só posso lhe dar isso. Ore e peça a Deus para que traga seu marido são e salvo com carne para alimentar você e sua criança – Disse o padre, quando voltou de seus aposentos no fundo da igreja com uma pequena garrafa cheia de leite.

Os tempos estavam difíceis. Poucas pessoas se arriscavam a entrar na floresta que envolvia o pequeno vilarejo para caçar. O último homem que entrou voltou insano.

"O diabo está lá, eu o vi, o diabo mora naquela floresta e ele irá pegar todos nós", gritava o caçador quando apareceu depois de dez dias perdido. O homem foi encontrado morto dois dias depois, pendurado em uma árvore com uma corda no pescoço.

Agora, a notícia de que outro pai de família se arriscara a caçar naquela floresta preocupou o padre. Observando-a do alto da torre da igreja, parecia aterrorizante. À noite, podia se ouvir os uivos e os barulhos do vento nas árvores. Aquilo não era um bom presságio.

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- Nós iremos e voltaremos antes do anoitecer. Peço que fiquem dentro de suas casas, orando para que Deus tenha misericórdia de todos nós – disse o padre às mulheres e senhores que ficaram.

Ele havia tomado aquela decisão depois de que a mesma camponesa que lhe pedira leite há alguns dias trás voltou em prantos para dizer que seu marido ainda não havia voltado da caçada.

O padre reuniu os melhores homens do vilarejo e entrou na floresta quando o sol nasceu.  "Uma pessoa pode caçar alimento para manter o vilarejo inteiro em vinte dias, se ele está naquela floresta iremos encontra-lo. Vivo ou morto", disse aos homens antes de partirem.

Com o auxilio de dois cães farejadores e um pedaço de trapo que pertencia ao homem desaparecido, o grupo entrou na floresta. Eles andaram, andaram e não encontraram vestígio algum do caçador.

- Ele desapareceu e nós devíamos fazer o mesmo – disse um dos homens. – Ele deve ter sido atacado por algum lobo ou uma matilha, vocês conseguem ouvir os uivos à noite? – respondeu o outro.