"Solidão: um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada".
- Josh Billings.
(...)
Quando Aristóteles disse que o homem era um ser social, propenso a viver em grupos e a se integrar em uma coletividade, ele, certamente, não esperava que algo desse errado no meio do caminho e nascesse um humano com, literalmente, zero capacidade de se enturmar.
Prazer! Esse sou eu.
Type Thiwat Pawattakun, o "forever alone", o "solitário", o "antipático".
Aparentemente a exceção ao pensamento do filósofo grego.
Fui rotulado de diversos nomes ao longo da vida, alguns mais pesados que outros. Mas, as características "isolado" ou "antissocial" nunca deixaram de fazer parte de nenhum deles. Talvez fosse culpa minha, o menino quieto demais ou traumatizado demais, que se escondia no fundo da classe e fingia ter um amigo imaginário pra desabafar, havia se tornado muito frio para cultivar qualquer tipo de amizade. Tinha criado uma barreira em volta de mim mesmo, sabia disso, e nem todos estavam dispostos a derrubá-la.
Ninguém, na verdade. Me pergunto se algum dia haverá uma pessoa com paciência para destruir as muralhas que me cercam. Por enquanto, nada de interações duradouras que não fosse com objetos inanimados, gatinhos de rua ou alguns míseros colegas, daqueles que dá pra contar nos dedos de uma mão só.
A parte dos gatinhos? Melhor não espalharem por aí,
Acabaria com a minha pose de garoto mal.
Ah! Aliás esse é outro que eu tenho o privilégio de ter, lindo não? Conquistei essa fama depois de ter socado o filho do diretor no terceiro ano do ensino médio por quê que ele me chamou de "frutinha". Infelizmente, esse "apelido" de bad boy me acompanhou até a faculdade.
Oh! A faculdade... um paraíso para os populares e o inferno para os perdedores.
A que grupo eu pertenço? Aos dois, eu acho. As pessoas parecem gostar mais de você quando sabem que é capaz de chutar uma bola em direção à rede ou de quebrar alguns narizes. No caso da última situação acho que é por quê se sentem protegidas, ao invés de intimidadas. Isso me garante fama? De um jeito distorcido, sim. Me garante amigos? Definitivamente não.
Eu sirvo para ajudá-los a bater no valentão do time oposto ou para meter uma rasteira no grandalhão que marca o capitão, impedindo-o de chegar ao gol. Contudo, não sirvo para ser convidado para as festas nos fins das partidas ou para usufruir das entradas gratuitas nos clubes da cidade.
"Chamar o Thiwat? Está louco? Já viu a forma que ele olha pra todo mundo? Vai arranjar confusão pra gente!"
"... com aquela cara de que pode nos matar a qualquer segundo? Tô fora".
Pérolas que escutei por detrás das portas do vestiário. É por essas e outras que eu, aparentemente, possuo o dom de afastar as pessoas. Precisa xingar alguém? Chame o Type. Precisa de companhia para sair? Oh, não. Não chame o Type. Ele pode matá-lo se disser algo errado.
Eu não os culpo. Entre a cara fechada e os insultos na ponta da língua não posso ser considerado uma companhia em potencial. Os únicos que tiveram coragem suficiente para tentar uma amizade comigo, fora dos campos, foram Champ e No.
Techno já me conhecia desde a época da escola e havia aprendido a conviver com o que ele chama de minha "personalidade assassina". Champ se aproximara aos poucos, usando No como escudo, e depois de descobrir nossa afinidade mútua pelos videogames arriscou passar por cima da fama que me precedia.
Enfim...
Na maior parte do tempo eu não sinto tanto, vivo minha vida como dá, sou autossuficiente. Apesar de não estar rodeado de pessoas.. tenho sempre o futebol como arma de distração e um par de meninas bonitas também.
Sim! O lado bom de ser jogador e ter fama de mal eu não contei, não é? Garotas! Claro! Elas parecem enfeitiçadas por homens que sabem correr atrás de uma bola e usar de sua força. Isso me garante muitos números de telefone, algumas fodas aqui e ali, mas que sempre deixam minha cama vazia no dia seguinte.
Então você gostaria de algo mais duradouro? Não. Talvez. Eu não sei.
É só que ás vezes durante as datas comemorativas me faz falta ter alguém do lado. Geralmente esses dias importantes são passados com a família e com alguém especial. Eu, nesse momento, não tenho nem um e nem outro. Meus pais? Cuidam de um resort e não tem muito tempo para visitas e é óbvio que não tenho uma namorada. Por isso, estou fadado a passar essas comemorações sozinho.
Como é o caso de hoje, por exemplo...
O que motivou esse monólogo todo? Uma garrafa de cerveja, um cupcake da padaria da esquina, nele estavam fincadas um par de velas da bela e a fera, que em minha defesa foram as únicas que encontrei no mercado, e minha sala de estar vazia.
Conseguem adivinhar que dia é?
Se você disse meu aniversário..
Bingo!
Já pode jogar na loteria, vidente do ano.
Emocionante, né? Afinal, todo mundo ama essa data.
Hah! Quem dera.
O único presente que ganhara, uma camiseta, fora dividido por Champ e No, que aliás foram os únicos a me parabenizarem presencialmente. Alguns "felicidades" e "tudo de bom, bro" foram mandados pelo LINE, mas só depois que a página da universidade postou lista de aniversariantes do mês.
Não que fizesse qualquer diferença.
Aqui em casa? Não veio ninguém;
Uma vídeo chamada? Muito menos!
Uma surpresa? Sonhe!
Não que eu esperasse algo diferente. Por isso, resolvi me dar uma "festa".
Tal qual aquele ditado: "Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai a Maomé". Não é assim que se diz? Ou será que é o contrário?
De qualquer maneira, essa é a razão pela qual estou, nesse exato momento, sentado no tapete de frente para a TV, com o bolinho de chocolate posicionado sob a mesa e a garrafa de bebida entre as pernas, enquanto acendo o isqueiro e faço uma concha com a outra mão para manter a chama de fogo queimando.
Velas acesas? Acho que é parabéns pra mim então...
Rá, Tim, Bum, Type.
O pedido ao apagá-las?
Acho que é não estar sozinho no próximo ano.
A chama se foi,
Só restou a escuridão do cômodo.
Amanhã é um novo dia!
(...)
Notas da autora:
Como prometido, estou repostando os capítulos da Fanfic. Alguns devem ter visto pelo Twitter que eu perdi os antigos, já escritos. Então, possivelmente, teremos alguns capítulos escritos de forma diferente da anterior. Tentarei meu máximo para manter a essência da história.
Espero que gostem de qualquer forma. Muito obrigada a todos que acompanham!
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Time Travel// TharnType
FanfictionType sempre fora solitário. Não possuía muitos amigos. Por isso, sempre passava seus aniversários sozinho. Prestes a completar 22 anos o que Type pede, ao assoprar as velinhas, é que tenha alguém com quem compartilhar seu cupcake no próximo ano.