2. (Não) quero ser.

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- Eu quero ver! Eu quero ver o Phor!

- Mas, você tá vendo.

O barulho de sussurros me perturbam, de repente.

- Não assim. Eu quero chegar mais pertinho, pode?

A névoa do sono se desfazendo com o constante soar de vozes.

- Devagar.. Tharu.

Acho que nunca dormi tão pesado assim, estranho!

- Ele tá dodói?

Eu não reconheço essa voz.

- Não, só tá muito cansado!

Essa parece que já ouvi em algum lugar. Mas, onde?

Um pouco incomodado pela constante falação e bastante curioso para saber o que estava acontecendo, desisto de me aconchegar no soninho gostoso de antes. Tendo que me esforçar um pouco mais que o normal, abro minhas pálpebras e pisco um bocado de vezes para focar a visão. Como de costume meu olhar vai primeiramente para o criado ao lado da cama, verificando no relógio antigo se não estou muito atrasado para a faculdade. Todavia, dessa vez o que se projeta à mim não é o móvel velho e desgastado, mas, sim, um suporte de madeira maciça muito bem envernizado.

Quando meu olhar é desviado para o lado oposto, em confusão, e recaí sobre a pessoa de cabelos negros, é que tudo volta a minha mente.

Não era um pesadelo, afinal.

Eu estava realmente num lugar que não era minha casa.

Com um homem que, aparentemente, era meu marido?

Oh, merda!

- Phor! Bom dia! - Uma voz aguda exclama. No meu campo de visão, há um garotinho sorridente.

O mesmo do celular de ontem?

E da porta?

Creio que sim.

Antes que eu pudesse raciocinar, o menino tinha saído do colo do outro e sentado-se ao meu lado. 

- Você tá melhor agora, Phor? - Ele agora estava agarrado a mim, com a cabeça levantada para me encarar.

Estaria melhor se você parasse de me chamar de pai.

E parasse de me abraçar.

É muito aterrorizante.

- Áhn... Tô..Eu acho. - Empurrei a testa do menino com a ponta dos dedos para afastá-lo.

- Tharu, por quê você não deixa seu pai terminar de acordar primeiro e enquanto isso busca Tyla pra gente tomar café? Não quero que cheguem mais atrasados. - O garotinho assentiu, descendo do colchão e caminhando para fora.

- Como você está? - Tharn, perguntou se virando pra mim.

- O quê aconteceu? Por quê eu apaguei? O que você fez? - O encarei acusatoriamente, ele tinha dito que me deixaria ir embora. 

- Eu não fiz nada. Você desmaiou, amor. E me deixou quase em pânico de tanta preocupação. Pedi pra Phugun ficar aqui com você e às crianças. Eu corri pra buscar o doc, sorte que ele estava no restaurante do Champ. - Ele passava uma toalha molhada nos meus braços, tentei pará-lo, mas ele apenas se soltou do meu aperto e continuou a limpar. 

Não disse nada e ele prosseguiu.

- Pelo menos sua cor está voltando, ficou tão pálido que achei que viraria um fantasminha.

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