I - Prólogo

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Meu corpo e mente cansados. A tontura de um grande deserto coberto de radiação era como um encosto demoníaco. Ansiava quase todos momento por um gole de água norueguesa.
Lábios ressecados, olhos sedentos por um minuto de sono e pele em extrema agonia escaldante. Caminhava naquele grande deserto a quatro luas. Ainda morava em mim esperanças de que talvez chegasse em uma cidade arruinada. Com sorte, acharia vestes, água e talvez comida enlatada. Na noite anterior eu havia visto faróis ao leste, e então, mudei a rota para segui-los. Talvez esta visão tenha sido fruto de uma mente enfadada, amargurada e impulsiva.

Ficava aliviado em ter uma máscara para evitar efeitos radioativos, mas as mudanças decorrentes desta catástrofe eram mais que aparentes. Céu alaranjado e nublado era o que mais me assustava nas noites de lua minguante. Naquela época, os xamãs e ciganas popularizaram um mito. Ninguém sabe como começou a ser espalhado, mas era capaz de arrepiar até o mais viril dos homens. Eles diziam que em noites de luas minguantes, Espreitadores da Penumbra observavam a sua alma cautelosamemte enquanto você estivesse dormindo. Se estivesse com sorte, ele não cortaria sua garganta lentamente, observando você se engasgar com seu próprio sangue. Esta lenda junto ao sibilar da areia e o silêncio eterno daquele deserto faria com que nem mesmo os maiores heróis de guerra dormissem em paz.

Há relatos de pessoas que sobreviveram aos Espreitadores da Penumbra. Eles dizem que se existisse qualquer outra coisa pior que isso, eles o fariam apenas para esquecer o trauma que os perseguem. Eu mais um breve esperava que eu fosse esquecer esta desventura que eu, infelizmenten experimentava. Aos poucos anoitecia e devia providenciar algum abrigo. Agora já fariam cinco luas de caminhada quando o meu relógio de bolso avisasse que era meia noite. Procurei qualquer local para dormir em paz, se é que fosse possível. Subi em uma elevação montanhosa e procurei por algum lugar. Vi uma cordilheira ao norte. Parecia ter dois ou três quilômetros de extensão. Me aproximei o suficiente e procurei por rachaduras na parede; se eu achasse, poderia ser caracterizado um homem de sorte extrema.
A raiva começava a pulsar junto com meu sangue, antes de estabilizar meus batimentos ao ver uma entrada de caverna. Adentrei aos poucos e me deitei em uma das paisagens mais bonitas que eu havia visto em semanas. Uma espécie de clareira de ametistas, que iluminavam suavemente aquele que um dia perdeu qualquer fé na humanidade. Eu. Pela primeira vez, pude apreciar em seu melhor estado o céu atômico. Fiquei preso naquela vista por horas. Tais como as pessoas pretendiam esquecer os Espreitadores, eu nunca pretendia esquecer aquela paisagem. Quando amanheceu, eu levantei-me e tentei achar alguma fonte de água. Meu cantil havia secado três luas atrás. Na noite anterior, bebi a minha urina em ato de desespero.
Sem sucesso, voltei até a clareira. Pensando em vender pra algum mercador excêntrico, peguei algumas ametistas. Estava esperançoso. Aquela simples demonstração de natureza me fez feliz novamente. Determinado a achar algum lugar, coloquei minha mochila nas costas e segui meu caminho ao leste. Parecia que a cada dia a radiação ia se afastando dos céus e ele ficava limpo como nunca antes visto. Continuei a caminhada e avistei uma cidade de longe. Este pequeno momento foi o suficiente para me encher de esperança. Acelerei o passo e ela parecia real, tangível, completamente maravilhosa em seu pior estado: Arruinada.

Ela ainda estava distante de mim. Quilômetros de distância. Visto que poderia demorar para chegar até lá, baixei as espectativas. Depois de algumas horas, cheguei até a cidade. Se assemelhava a vilas no oeste dos Estados unidos na década de 20. Tudo devastado. O silêncio era ensurdecedor. Sombras de pessoas eram visíveis no chão. Esse fenômeno é comum em cidades devastadas por bombas atômicas, quando essas pessoas morrem e são pulverizadas pela mesma. Lembro que fiquei horrorizado quando vi sombras atômicas em Hiroshima e Nagazaki em uma excursão do meu colégio. Tinha apenas 13 anos. Saber que pessoas morreram por ganância de poderosos políticos era assustador e não passava pela minha cabeça.

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