prólogo

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          O mestre soltou uma gargalhada divertida:

  - Por que você quer saber saber isso? - perguntou, enquanto desligava o forno.

  - Não sei, estamos conversando há uma hora e até agora não aprendi nada... Eu lido com mortes todos os dias, é normal ter essa dúvida - respondeu o detetive. - já que você entende dessas coisas, achei que deveria saber.
  - qual é a sua pergunta exatamente?
  - o que é o céu e o inferno?
O sorriso do velho fechou de uma só vez. Ele apertou os olhos e olhou bem para o detetive.
  - É isso? É essa a sua pergunta? - disse o sábio.
  - É...
  - realmente, estou espantado... Para mim é difícil de acreditar que um homem, que parece ser tão inteligente, venha me importunar com uma pergunta tão infantil. Você não é inteligente, é um menininho bobo que não consegue encontrar na Natureza a solução para as suas próprias questões - o mestre o olhava com desprezo. -
Eu achava que pela sua fama você era um homem com um mínimo de sabedoria, mas vejo que me enganei. Você é só mais um estúpido.
  - o que você está me dizendo? - perguntou Antônio o detetive.
  E o mestre continuou:

  - desculpe, mas estou decepcionado. Você não passa de um tolo inerte, uma vergonha para os que trabalham com você, não um detetive. Eu devia deixá-lo aqui falando sozinho e ir embora. Aliás, você é quem deveria ir embora , ficar quieto em um lugar que não estorve ninguém com essa sua estupidez!
  
    Nesse momento, o detetive mordia os lábios e sua raiva era tamanha que mal conseguia olhar a face do velho.

   - o que foi? Dói ouvir a verdade , não é? - falou o sábio - mas, em mim, também doeu quando percebia que você era esse idiota que você é. Um incompetente que não consegue solucionar um simples assassinato.
Não deveria ter te ajudado. Você não tem autocontrole algum, por você ser essa lesma que você é, esse ser desprezível. A culpa é sua! Da sua incapacidade!
   
    Um ódio súbito percorreu seu corpo e, já não suportando mais a raiva que sentia do velho, sua mão partiu de encontro à faca, em cima da mesa. Enquanto ele a levanta, o mestre olhou fortemente nos seus olhos e disse:
   
    - isso,meu filho, é inferno!

    O detetive, num impulso repentino, deteve o curso da arma, soltando-a, e percebendo que o sábio arriscava sua vida para dar-lhe essa lição, abaixou a cabeça lentamente, coberto de arrependimento e vergonha.
 
  - perdão, agora eu compreendo - disse o detetive, que mal podia pronunciar uma palavra, abismado com o que estava ao ponto de fazer.
 
  O velho, conhecedor do Zen, sorriu e disse:

  - isso, meu filho, é o céu !

O Artífice um detetive, um monge Budista e um Assassino Onde histórias criam vida. Descubra agora