Primórdios - A vingança de Sor'uth

Vodos

BABILÔNIA - 1772 a.C

Fazem 3.628 anos desde a criação de Eridu, primeira cidade humana criada e habitada pelos Primórdios, onde começaram a transmitir conhecimento para sua criação no Planeta Terra, desde então mais cidade foram criadas, cada vez mais modernizadas, sendo a invenção da escrita o maior marco para a humanidade até o momento.

O terceiro Primórdio a ser criado, Vodos, havia decidido permanecer na Babilônia enquanto seus irmãos, com exceção de Aranys, haviam retornado para a Terra Primordial ou estavam em outros planetas do Multiverso.

Os irmãos observam a Babilônia da sacada do palácio do Rei Hamurabi, ambos com as mãos elegantemente apoiadas sobre a mureta de proteção.

- Os Humanos realmente fizeram um grande avanço, mesmo após termos deixado de fazer basicamente tudo por eles.

- Não fazíamos tudo por eles, irmão, apenas precisamos ensiná-los tarefas básicas, como agricultura, por exemplo, sem a nossa ajuda eles já estariam extintos há milênios.

- Osharus e Dandra ainda não conseguem entender o motivo de os humanos não terem sido criados com a sabedoria e conhecimentos de alguns dos outros seres que criamos, devo confessar que as vezes me pego tendo as mesmas dúvidas.

- Uma civilização precisa ter sua história, suas próprias conquistas, precisam cometer erros para que possam aprender com eles e não cometê-los novamente, cicatrizes e marcos conquistados por conta própria, se simplesmente fizéssemos tudo por eles, como disse, eles deixariam de dar os próprios passos e, caso eu lhes concedesse sabedoria e conhecimentos muito maiores do que tem, não haveriam motivos de orgulho de ambas as partes, sem contar que os humanos não saberiam lidar com alguns tipos de conhecimento.

Neste momento um servo do Rei Hamurabi se aproxima, curvando-se e pedindo desculpas por interrompê-los.

- O Rei pede respeitosamente para vê-los o mais rápido possível, ele os espera no salão principal.

Aranys agradece com um sorriso no rosto, ambos seguem então até o encontro do Rei, que está acompanhado de seus homens de confiança, parecem estar tendo uma discussão acalorada sobre o aumento da criminalidade e com ela tem sido prejudicial não só para a população quanto para o próprio reinado de Hamurabi, os irmãos são anunciados e adentram o salão, o que faz com que todos ali se curvem e levantem em seguida.

- Meus tão poderosos deuses, me faltam palavras para descrever a culpa que sinto por ter que incomodá-los em um momento privado, mas já não sei o que fazer para combater o aumento significativo da criminalidade em meu reino, sei que estou pedindo muito, mas já esgotei minhas ideias.

Aranys volta seu olhar para seu irmão e faz um movimento positivo com sua cabeça dando a ele o poder de decisão.

- Bom, caro Rei, suas leis são eficazes, mas passadas de maneira verbal, o que cria espaço e oportunidade para erros, falácias e mudanças em favor de uma das partes, creio que este seja o maior motivo de sua justiça não ser tão eficaz, vocês humanos aprenderam a escrever há 1.428 anos e eu sinceramente não vejo motivos para que essas leis ainda não estejam escritas, isto faria com que não só esta geração, como todas as que ainda estão por vir, tenham uma fonte confiável para guiá-los nas tomadas de decisão de cunho jurídico.

Aranys sorri orgulhosa de seu irmão e volta seu olhar para os humanos, que trocam olhares confusos e envergonhados entre si, os irmãos se retiram em meio ao silêncio e, no caminho, trocam comentários.

- Eu não posso acreditar como tantos Humanos juntos não conseguiram chegar na conclusão mais simples e plausível, mais um problema humano resolvido por nós.

- Tudo bem, reconheço que, as vezes, nós precisamos pensar por eles, mas precisa reconhecer que pelo menos se esforçaram desta vez.

Os Primórdios seguem seu caminho em meio a risadas.