Capítulo Único

1.3K 189 36
                                    

05 de dezembro de 2022  16h (horário de brasília) – Estádio 974, Doha, Catar.

Era decisivo. Mata-mata. Ambos sabiam exatamente o que aquela partida significava um para o outro; o que ganhar aquela partida significava um para o outro. E significava tanto...

De um lado, a Seleção das seleções, a pentacampeã mundial, indo até o outro lado do mundo em busca da tão aguardada sexta estrela. Do outro, uma seleção pouco reconhecida e com poucas chances de vitória, determinada em dar alegria à sua nação através do futebol. O que esses times poderiam ter em comum com tamanha distância entre si?

Eles. E sua mortal paixão, tanto pelo futebol, quanto um pelo outro. E esse sentimento com certeza não ficaria de fora dessa partida decisiva.

04 de dezembro de 2022, 22:55h – Concentração da Seleção Sul-Coreana, Catar.

Ansiedade fazia o corpo do Son ter espasmos e o seu coração acelerar. Suas mãos geladas e molhadas pelo suor também denunciavam que sua agitação tinha um motivo claro: enfrentar dentro de campo o homem que mais amava.

Essa não era uma experiência completamente nova, ainda se lembrava da partida de poucos meses antes. Agora, porém, tudo era diferente. O ambiente, a cobrança... Era a Copa do Mundo, afinal.

A quem ele queria enganar... Era a saudade o maior dos seus ansiogênicos. E ele sabia disso. Sabia de tudo, na verdade. Sabia que conhecer Richarlison tinha sido o divisor de águas da sua vida; sabia que passar tanto tempo com o outro durante as temporadas na Europa havia trazido o péssimo, péssimo costume e a acolhedora sensação de tê-lo sempre por perto; sabia que estava em uma posição onde não poderia correr para o tão conhecido apartamento em Londres buscando o abraço quente do amado;

E se não bastasse tudo isso, não poderia, acima de tudo, contar para ninguém que amava o camisa nove da Seleção Brasileira. Se sentia sozinho ali, no meio do campo, tarde da noite, sentado e contando estrelas. Já havia perdido suas contas... Não fazia sentido algum fazer a tarefa sem que Richarlison estivesse junto, mas não tinha opção alguma.

Não poderia ter contato com ele. E o contato vindouro, o do jogo do dia seguinte, este ele ansiava com sentimentos ambíguos. Torcia para que não, mas, caso alguém chegasse ali tão tarde o veria de forma deplorável, de pijamas com adultíssimas ovelhas estampadas, pernas cruzadas, postura relaxada para frente e nas mãos gramas arrancadas pela ociosidade.

Seu amor diria que estava fofo, como sempre.

Sinceramente. Heungmin rolou os olhos e sorriu só de pensar. Sentia tanto a sua falta. Mas também sentia o peso de ser o craque do seu grupo, o capitão, o líder de um grupo com a ambição de chegar até as quartas de final. Era assim tão errado se quisesse apenas fazer uma ligação?

Tirou o celular do bolso, rolou os ícones até chegar no contato de Richarlison. Passou alguns minutos poucos encarando o ecrã e se questionando em muito. E se alguém visse ou ouvisse algo? instintivamente olhou para os lados, mesmo sabendo que toda a equipe já havia se recolhido já algum tempo, além de ser pouco provável alguém no campo tao tarde.

Se perguntava também se o camisa nove estaria ao angustiado quanto ele estava naquele gramado frio e vazio...

04 de dezembro de 2022, 22:30h – Hotel Westin Doha, Doha, Catar.

Inquieto, bufando de tempos em tempos, pés balançando freneticamente. Richarlison rolava na cama grande e fofa. Nunca havia deitado sua cabeça em travesseiros tão chiques e macios, ele diria. Será que o Son também estaria achando isso? Será que ele daria uma daquelas gargalhadas espalhafatosas, sua marca registrada, quando ouvisse os comentários que tinha ara fazer sobre toda a sua experiência desde que chegou ao país?

Duas Almas e Uma PartidaOnde histórias criam vida. Descubra agora