𝐀 𝐃𝐀𝐌𝐀 𝐄 𝐎 𝐕𝐀𝐆𝐀𝐁𝐔𝐍𝐃𝐎 - Richarlison.

٬ @. 𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐈.

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— 20 de julho de 2020, 22h34min.
Richarlison POV.

No momento, deveria ser umas 22h. Eu estava dentro do avião particular do time brasileiro que iria jogar nas Olímpiadas, lá em Tóquio. Pensar que eu estaria indo para o outro lado do mundo soa muito esquisito pra mim ainda. É claro que eu já moro em outro país e tudo mais, mas tudo isso é... Foda pra caralho.

Eu estava sentado ao lado de Antony, que parecia estar em um sono profundo. Queria até conversar com ele, mas com certeza eu seria xingado até a minha vigésima geração se acordá-lo, então deixei ele quieto. Peguei o meu celular e abri o Instagram: apareceu para mim uma postagem de vôlei. Meio aleatório isso acontecer. Eram de duas meninas loiras, provavelmente pulando para bater na bola ou coisa do tipo. Eu só sei o básico de vôlei por causa de uma pessoa: ela.

Depois que a Rafaela se foi, parece que eu não consegui mais me envolver com ninguém. Toda a mulher que eu pegava, nunca ia além de apenas uns beijos. Eu não conseguia sentir nada por ninguém; só por ela. Eu até imagino como ela deve estar, mas será que ela se lembra de mim? Que ela ainda, ao menos... Ainda sente algo? É tão esquisito pensar que eu continuo tendo o mesmo sentimento desde o primeiro dia que a gente se conheceu. O amor é uma merda.

Voltei a realidade, e fiquei encarando aquela postagem. Enquanto olhava, acabei de me lembrando de algo: poxa, terá vôlei feminino, não é? Acho legal esse tipo de visibilidade, e isso até acabou atiçando minha curiosidade. Fechei o Instagram e abri o Google, e em seguida, pesquisei: "Time brasileiro de vôlei feminino Tóquio 20".

Lá apareceu um monte de coisa meio confusa sobre o vôlei, tipo posições: levantadoras, oposta, oposta/ponteira, ponteiras, centrais e a líbero. Eu só entendia a função de líbero dali, apenas porque era a posição que Rafaela sempre ia nas partidas. Fui olhar os nomes: Macris, Roberta, Tandara, Rosamaria... Fui olhando, até que cheguei no nome: Rafaela. Meu coração deu um pulo.

"O Brasil será representado no feminino pelas levantadoras Macris e Roberta, a oposta Tandara, a ponteira/oposta Rosamaria, as ponteiras Natália, Fernanda Garay, Gabi e Ana Cristina, as centrais Carol Gattaz, Carol e Bia e a líbero Rafaela Guimarães."

A Rafaela. Ela ainda tá jogando vôlei, e vai participar da mesma Olímpiada que eu. Eu tenho a chance de encontrar ela lá. Eu-

— Ei! Tu tá bem, irmão? — Meus pensamentos foram interrompidos pela voz do Gabriel Martinelli, que estava andando pelo corredor do avião.
— Hm? Quê? Ah, eu tô bem sim. Quê 'qui tu tá fazendo acordado? São quase 23h.
— Ah, e você acha que eu vou conseguir dormir tão facilmente com uma Olímpiada em 2 dias? — Ele falou com um tom ansioso, e olhou para Antony desacordado ao meu lado. — Eu queria estar que nem esse daí.
— É, compreensível. Esse aqui tá dormindo desde a hora que sentou. Não sei como ele consegue dormir tanto num avião.
— Por que "num avião"? Tu tem medo de dormir em avião?
— Tá me estranhando?
— Haha, não, não. Desculpa.
— Mas me responde, o que tu tá fazendo acordado? Não tem nada pra fazer nesse avião além de... Dormir.
— Eu tava indo no banheiro né, mané. — Martinelli riu, e apontou para a porta do sanitário no fim do corredor. — Daí quando eu passei por você, eu vi tua cara de assustado. Aconteceu algo?
— ... Não. 'Num é nada, só vi um negócio, é... No twitter do Choquei.
— Pff, no Choquei, Richarlison? Aí é foda.
— Vai mijar logo, Gabriel.
— Ok, ok... Desculpa interromper o seu momento de aprendizado. — Ele ironizou. Confesso que fiquei meio irritado, mas pelo menos, a desculpa deu certo.

Voltei a olhar a tela do celular depois que Martinelli seguiu o seu caminho. Eu tenho a chance de reencontrar ela de novo. Mas será que ela sabe que também estou indo? Foi coincidência demais eu ter lembrado dela de uma maneira tão intensa e descobrir que eu vou ver ela de novo. Ou pelo menos, tentar. Eu quero dar o meu melhor no futebol para, além de vários motivos óbvios, ver se a Rafaela me nota. Respirei fundo, e notei que meu rosto estava meio úmido. Passei a minha mão em minha bochecha, e senti água: sim, eu estava chorando. Nunca pensei que eu iria ter essa oportunidade de vê-la; não quero perder essa chance.