Capítulo 2 - Motivos Para Não Viver

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Oii! Desculpa pela demora, estava com muitas coisas da escola para fazer. Mas, graças a Deus estou quase de férias!
Acredito que vou ter mais tempo para escrever.
Esta história deve ter mais ou menos três capítulos, então o próximo será provavelmente o último.
Fiquem com o capítulo.
Espero que gostem :)

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POV Ravena

Ando rapidamente pelos corredores da Torre, tentando chegar o mais rápido possível ao meu quarto.

A leve dor do caco de vidro perfurando os dedos e a palma da minha mão me faz sentir uma mistura de desespero e... Raiva.

Raiva de mim mesma.

Raiva da minha vida.

Raiva de tudo.

No fundo... Eu sei que teria sido melhor para todo mundo se eu não tivesse nascido.

A cada passo que dou em direção ao meu quarto, aperto o caco de vidro com ainda mais força.

Sinto um líquido quente pela minha mão, e o cheiro metálico do meu sangue.

De imediato, sinto vontade de me machucar cada vez mais.

Antes de entrar para os Titãs, eu tinha o costume... o vício... de cortar os meus braços. Até hoje, ninguém sabe disso.

Como meu uniforme contém mangas compridas, acho que nem sequer pensaram na possibilidade de isso acontecer.

Por uma mistura de medo (de ser descoberta) e compaixão (não querer preocupar os amigos) acabei parando de me mutilar.

Não foi fácil, e eu diria que depois disso nunca mais voltei a ser a mesma.

Tive várias recaídas que só me deixavam com mais raiva.

No final das contas... Uma vez suicida, sempre suicida.

No fundo, sabia que não podia confiar nos Titãs. Não podia contar para eles. Tudo o que eu não queria era (e ainda é) magoá-los ou deixá-los preocupados comigo. E fazendo isso... Contando a verdade... Isso com certeza iria acontecer.

Suspiro cada vez mais ansiosa, parando em frente a porta do meu quarto. Tentando não pensar muito, entro e fecho a porta atras de mim, sem poder esperar mais tempo.

Ando rapidamente até minha cama, onde sento na ponta.

Devagar, abro a mão e largo o caco de vidro um tanto quanto vermelho ao meu lado.

Observo os cortes profundos em meus dedos e na palma da minha mão. O sangue ainda escorre e eu observo, um pouco hipnotizada, uma gota cair no chão. Em alguns pontos, consigo ver o branco dos ossos por entre a carne rasgada.

Ignoro a fraca dor e levanto as mangas do meu uniforme, parando para, depois de muito tempo, analisar as velhas cicatrizes.

As linhas brancas e algumas até rosa dominam inteiramente meus braços. Mesmo de longe, daria para vê-las claramente.

Memórias dolorosas tomam conta da minha mente, e com uma raiva renovada, volto a segurar o caco de vidro com força.

Estendo meu antebraço e sem pensar muito, arrasto a parte afiada pela minha pele, perto do pulso. Por alguns segundos, observo o sangue surgir.

Com cada vez mais raiva, faço vários outros cortes, um mais fundo que o outro, variando lugares dos dois braços. 

Sinto meu coração bater mais rápido numa mistura de alívio e desespero. Uma súbita vontade de gritar toma conta de mim, o que só faz ter mais vontade de retalhar meus braços.

Quando o sangue para de pingar e começa a secar, olho para o vidro agora completamente vermelho.

A ardência reconfortante dos cortes praticamente esvai minha raiva, mas deixa algo muito pior.

A depressão.

Os dias seguintes se passaram tão depressivos quanto os outros. Quase não saí do quarto e estou evitando os Titãs. Nas poucas vezes que os vi, conseguia identificar um misto de preocupação e pena em seus olhares confusos.

Sempre que tentam vir até mim ou conversar, eu dou um jeito de cair fora. Simplesmente não posso lutar contra isso. Acho que não conseguiria desabafar nem que quisesse.

Mesmo os evitando, consigo sentir suas auras. Eles não são burros. Sabem que tem algo errado, mas não fazem ideia do que possa ser. Não fazem ideia da gravidade disso tudo.

As vezes eu lembro dos momentos mais alegres ao lado deles. Lembro de suas risadas e sorrisos sinceros, e simplesmente me pergunto se valeu a pena.

Se valeu a pena alimentar uma confortável mentira só para ter, pelo menos por um momento, um sentimento bom.

A verdade é que eles não merecem isso. 

Eu só consigo sentir culpa pelo meu claro egoísmo.

Tenho me perguntado se tudo o que eu fiz até agora ajudou-os, pelo menos um pouco.

Eu... queria muito ter a coragem... a capacidade... de contar com eles. Queria saber que tenho a quem pedir ajuda.

Mas... Não tenho. Trigon vai chegar. E quando isso acontecer... Já era.

Os Titãs vão acabar... O mundo vai acabar... e depois dele o universo inteiro.

A única alma que vai permanecer viva junto dele sou eu. Uma espécie de inferno sem fim.

Valeria a pena viver desse jeito?

Eu já nem sei a quanto tempo estou assim. Não consigo me lembrar de um dia específico para o começo de tudo isso. Às vezes, parece que sempre fui desse jeito.

Os dias se arrastam de forma lenta e depressiva, enquanto às noites, o pânico das trevas consome meu coração desesperado.

Mesmo tendo os titãs, nunca me senti tão sozinha.

Aprendi de forma dolorosa que me sentir sozinha rodada de pessoas dói muito mais do que realmente não ter ninguém. Você vê o carinho, o amor que eles têm uns pelos outros e se sente excluída. Se sente em outro mundo, a quilômetros e quilômetros de distância, de algo que nunca poderá alcançar.

No final das contas, não há como eu acabar bem no final.

Não há como algo além da raiva que sinto por eu mesma permanecer. 

Não importa o que eu decidir, minha felicidade já acabou a muito tempo.

Minha vida já acabou a muito tempo.

O que eu posso fazer, é salvá-los.

Salvar meus amigos, salvar o mundo.

Mas para isso... O suicídio seria a minha única opção.

Jovens Titãs - O Único JeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora