Capítulo - 3

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⚠️Alerta de gatilhos: Depressão e suicídio.

3642 palavras.
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Tinham um cheiro agradável, um cheiro agridoce com grama molhada. As flores mais lindas que consegui encontrar no nosso quintal; eu as colhi e levei para dentro de casa.

Lembro-me de colocá-las em um vaso pequeno com água sem cloro, como tia Nancy aconselhou. Assim o fiz e levei até ela, na esperança de agradá-la. Abri a porta do quarto e fiquei feliz quando a vi acordada. Ela estava olhando para a janela. Os cabelos ruivos estavam acima dos ombros; ela havia cortado, pois não paravam de cair. Estava pálida, pois dificilmente saía de casa para pegar um sol e havia emagrecido drasticamente pela má alimentação.

— Olha, mamãe! Trouxe essas lindas flores para você! — Mostrei o vaso com as flores coloridas para ela.

Mesmo assim, eu a amava, um amor inocente de um garotinho para sua mãe.

Ela virou a cabeça em minha direção e lembro de ver aquele olhar confuso e vazio; as olheiras eram aparentes nela.

— Quem é você? — Ela perguntou com a voz rouca.

Aquilo me fez soluçar e recolher o vaso de flores. Olhei para ela, igualmente confuso.

— Mamãe, sou eu. O Daniel, seu filho. — Expliquei.

— Filho? — Ela estreitou os olhos. — Você não é meu filho, meu precioso Daniel está morto, ele foi devorado por um monstro terrível.

Eu tinha 7 anos na época, e aquilo foi chocante demais para mim. Deixei o vaso de flores cair e se estilhaçar no chão. Isso chamou a atenção da minha tia, que foi correndo até o quarto e me tirou de lá.

Tia Nancy me contou que, desde que nasci, ela ficou desse jeito. Possivelmente depressão pós-parto. Ela desenvolveu isso quando descobriu que o meu suposto progenitor nos abandonou no dia do meu nascimento. Desde então, ela achava que eu estava morto e não lembrava de mim. Eu era só uma criança, e aquelas palavras me destruíram por dentro.

Lia Kanver, minha mãe, cometeu suicídio um ano depois e foi sepultada no cemitério da antiga cidade onde vivíamos. Lembro-me da minha tia me abraçando, em prantos, dizendo que ela tentaria ser uma boa mãe para mim e que eu nunca estaria sozinho, pois tinha ela e Elise para cuidarem de mim.

Mamãe... como eu queria ter te conhecido melhor... nós dois seríamos uma família tão linda...

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Acordei com o despertador apitando às 6:00 da manhã. Abri meus olhos e me sentei na cama devagar, tentando processar o que acabou de acontecer, o que eu acabei de sonhar. Senti minha cabeça doer muito, uma quentura horrível pelo corpo e um gosto amargo na boca.

Peguei meus remédios que ficam na cômoda ao lado e tomei com água. Estão aqui justamente para isso e vão evitar que algo grave aconteça. Ter pressão alta tão novo é desgastante; só imagino quando eu estiver velho e isso piorar.

Enfim, hoje é a missa de domingo e eu não tenho tempo para pensar nisso. Sonho com a minha mãe desde o enterro dela e já não me abala mais; estou acostumado. Porém, não vou mentir que não sinto falta dela. Até onde eu lembro, ela sempre foi triste e nunca deu um sorriso de genuína felicidade. Me pergunto se, tivesse conseguido se curar... como seria nossa família junto com tia Nancy e Elise. Seríamos mais felizes? Será que ela seria uma boa mãe? Como seria nossa relação? Bem, é uma coisa que eu nunca vou saber.

Lua Sangrenta: O Despertar VL 1Onde histórias criam vida. Descubra agora