𝓺𝓾𝓮𝓼𝓽𝓲𝓸𝓷𝓪́𝓿𝓮𝓵

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É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.

— | Clarice Lispector | —

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O expediente havia acabado há pelo menos três horas atrás, e Mikasa só tinha conhecimento de tal fato por conta de Jean. Este, vendo o estado catatônico constante da sua colega de trabalho, a puxou delicadamente pela mão visando levá-la ao cantinho deles, não muito longe do trabalho. Fez questão de tentar trazê-la para o mundo real outra vez, mesmo que não entendesse por completo o motivo da Ackerman estar dessa forma.

Anoiteceu, então.

O Kirschtein passou a andar pelas ruas, com um destino específico em sua mente, enquanto sentia a mulher abraçada em seu braço direito. Ambos seguravam suas respectivas bolsas, apreciando a movimentação das demais pessoas, usufruindo do ar puro que Eldia proporciona.

Chegaram no bar após alguns minutos. Não tardaram em pedir duas garrafas de cerveja juntamente a uma porção de fritas. Pelo que o homem pôde perceber, isso animou Mikasa minimamente, pois instantes depois uma conversa aleatória começou a fluir entre eles, como sempre acontecia quando saíam para beber.

Naquele momento, a Ackerman agradeceu mentalmente pela presença do amigo. Jean sabia fazer as escolhas certas mesmo sem precisar dizer uma palavra sequer. Inevitavelmente, a comparação vinha em sua mente, porque a pessoa que amava fazia questão de se manter distante, ou na pior das hipóteses, é fruto da sua mente, sequer existe.

— Acha que sou louca? – o questionamento saiu num sussurro. Contudo, Jean ouviu, ainda que a música ambiente estivesse relativamente alta.

— Todos nós somos loucos, Chanel – ele sorriu complacente, ao passo que Mikasa riu da resposta – Mas se quer saber, você ainda é bem normal pro meu gosto, ainda não saiu cantando alguma música da Mariah Carrey pelas ruas ou tentou pular num lago.

— Consigo controlar meus níveis, de vez enquanto – deu de ombros, enquanto mexia no cabelo da nuca – E você sabe que eu detesto as músicas dela.

— Urgh, um crime contra a humanidade, senhorita Ackerman.

— Meus tímpanos pedem arrego toda vez que você coloca aquelas músicas – levou o copo de cerveja à boca – Okay, falando sério agora. Amanhã é sábado, minha mãe mandou uma mensagem pedindo que eu fosse até lá para almoçar com eles. Já te disse que não gosto dos meus parentes, não é?

— Ah sim, com certeza. Todas as vezes que resolvemos beber, você deixa explícito o quanto os odeia e quer jogar todos num rio perto da casa da sua mãe.

— Como se já não bastasse o fato bizarro de morarem na mesma rua, fazem questão de se reunir todo final de semana. Já faz uns três anos que deixei claro pra minha mãe que não quero aparecer lá. E justamente hoje ela me chama. Seria uma premonição?

— Por que uma premonição?

— Ela nunca gostou do Eren. Na verdade, foi ela quem começou a dizer que ele não passava de uma invenção minha. Acha que faço isso…porque perdi meu pai ou algo assim. Não costumo dar ouvidos a ela. Bom, pelo menos não costumava, agora…

— Pensa que ela está certa?

— É difícil chegar a uma conclusão. Minha cabeça ultimamente está doendo mais que o normal – Mikasa encostou a cabeça no braço, usando a mesa como apoio – Uma coisa é fato: estou exausta com tudo isso já.

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