O que o futuro nos guarda?

Capítulo 3- Planilha

Tord encarava a planilha a sua frente, balançando a perna nervosamente para cima e para baixo. Aquilo tudo estava uma bagunça, não entendia nada. Como fazia falta um secretário em sua vida.
- Isso aqui é uma bagunça total! Eu nem sei onde é essa reunião!
Jogou o tablet na mesa com raiva, demoraria horas para conseguir organizar aquilo enquanto fazia suas outras obrigações. Seus últimos secretários eram soldados, não estavam acostumados com aquelas  plataformas e o novo ambiente muitas vezes não os agradavam. Chegou a ter um bom secretário no começo da carreira, mas ele era o antigo secretário de seu avô e sofreu tamanha lavagem cerebral que não aceitava ser comandado por Tord e depois de um tempo transformou sua vida em uma bagunça antes de enlouquecer e se jogar de uma janela pois tinha levado tantas pancadas  na cabeça que não tinha mais muita capacidade de pensar racionalmente.
Apoiou o braço na mesa e logo sua cabeça na mão, passando pelo cabelo de frente para trás, fechando a mão em punhado de fios e os puxando com certa força, mas não o suficiente para realmente doer. Quebrava a cabeça pensando no que poderia fazer para sair daquela situação bagunçada e finalmente poder vivenciar um dia tranquilo e organizado em sua vida. Durante este seu surto de raiva, se lembrou de algo que poderia mudar aquela situação de uma vez por todas.
Thomas já trabalhara com algumas coisas. Se lembrava bem de que era professor de música e que durante o tempo que esteve desempregado trabalhou como secretário de um psicólogo que o atendeu durante quase um ano enquanto ainda estava na Inglaterra. Se lembrava de perguntar como Thomas estava se saindo e ouvir milhões de elogios sobre sua organização e dedicação. Ele seria a melhor opção que tinha no momento e mesmo que não  quisesse dividir o mesmo espaço que ele todo dia durante o dia inteiro, teria que fazer esse sacrifício por ter sua tão amada e desejada organização.

Se levantou rapidamente com o tablet em mãos, saindo de sua sala a passos rápidos, indo em direção ao novo quarto de Thomas. Bateu na porta três vezes, anunciando seu nome em alto e bom tom. O dono do quarto autoriza sua entrada e pede para que o líder use sua digital, pois não queria se levantar para abrir a porta no momento. Tord revira os olhos, pensando em como aquele homem podia ser preguiçoso.
  Entrou no quarto a passos curtos, analisando o ambiente com calma. Nada fora de lugar, o cômodo se mantinha cheiroso e limpo, igual como lhe foi entregue a alguns dias atrás. Sorriu sabendo que tinha escolhido a pessoa certa.
                  -  Deitado a essa hora? O que está fazendo?
    Perguntou se aproximando da cama, encostando o joelho no colchão e se sentando lentamente aos pés de Thomas, que segurava um mapa da base nas mãos.
                     -  Estou olhando os caminhos, tentando decorar para não me perder quando decidir andar sozinho. Já me perdi uma vez, pelo menos estava com Edd- Explicou dobrando o papel novamente e o deixando de lado. Se arrastou até a ponta da cama, chegando mais perto do líder- e você? O que quer comigo?
                       - Quero a sua ajuda com uma coisinha- entregou a planilha nas mãos do homem, que a analisou com desconforto ao ver tamanha bagunça junta- Preciso que você organize isso para mim. Acha que consegue?
Perguntou como um desafio. Thomas sorriu desafiador, queria algo para fazer naquele momento.
                         - Você acha que eu sou o que? Claro que eu consigo. Mas isso vai demorar um tempo, pelo menos uma hora, talvez mais. Tem algum caderno para me emprestar?
   Tord sorriu, concordando com a pergunta, indo pegar um caderno extra em sua sala. Quando lhe entregou, junto de uma caneta, Thomas logo começou a separar os compromissos, um a um, por horário e importância.  Eram realmente muitos compromissos e anotações espalhadas, não seria uma tarefa fácil. Disse para Tord que poderia voltar ao seu escritório, lhe passou os próximos compromissos que teria nas últimas horas e avisou que assim que acabasse iria até sua sala para lhe entregar a planilha pronta. O líder concordou, se retirando do quarto por fim, deixando o mais velho terminar seu trabalho.
Tord seguiu até sua sala, se sentou em sua poltrona e continuou seu trabalho, esperando impacientemente pelo outro homem. Era difícil não ter todos seus compromissos anotados. Por outro lado, não sentia a ansiedade de já saber o quão corrida seria sua semana toda vez que ia ver quantas tarefas lhe restavam no dia. Como esperado, Thomas demorou por volta de uma hora e meia para finalizar o seu trabalho. Suspirou fundo cansado, esticando as costas por fim e ouvindo seus ossos da coluna estalarem pelo grande tempo que a deixou curvada- Se ele for me pedir outra vez para eu fazer isso, acho bom que me dê uma mesa- pensou se levantando da cama, pegando a planilha eletrônica e fechando seu caderno. Saiu do quarto sem pressa, se lembrando do caminho do mapa que passara o dia decorando. caminhou pelos corredores pedindo informações vez ou outra para algum soldado próximo e logo encontrou a porta do líder. Nem lhe podia restar um pingo de dúvida de que estava no lugar certo, pois uma grande placa dourada que dizia "Lider Vermelho" escrito em letras bonitas estilo "Times New Roman"  se encontrava no alto da porta vermelha. Riu antes de bater- Muito modesto- pensou, por fim batendo na porta e anunciando sua chegada.

        - Passe, está aberta- gritou Tord do lado de dentro, mudando seu semblante sério assim que avistou os olhos do amigo- Oh! Thomas é você, realmente demorou em, espero que esteja perfeita.
Porta legal, quase não achei de tão discreta. Se não fosse por um soldado ainda estaria dando várias voltas pelos corredores desse labirinto infernal de concreto- Disse rindo- E não se preocupe, dei tudo de mim nesta coisa, estava tão horrível que tive arrepios, não podia fazer menos do que deixar perfeito.
                                  Se gabou de seu trabalho entregando a planilha para Tord.
          - Não tenho dúvidas disso. E sobre a porta, quem quis assim foi meu avô, está desse jeito desde que ele tomou posse do poder e liderança da Red Army. Como posso dizer, ele sempre foi um homem muito "humilde".
   Disse ironicamente, fazendo as aspas com a própria voz. Thomas concordou e completou.
               - Era um homem deveras modesto.
    Tord riu.
               - O velho ainda vivo- disse analisando o trabalho de Tom. Levantou a vista para elogiá-lo e percebeu que parecia desconfortavél, talvez por ter assumido que o velho líder estivesse morto. Não sabia se aquilo era desrespeitoso de alguma forma na base- Relaxa, não precisa ficar tenso. Aliás, isso aqui está muito bom, quanto você quer?
     Tom arregalou os olhos surpresos, não esperava um pagamento.
                 - Eu não quero nada, não precisa me pagar.
                 - Como não? Você levou uma hora e meia para fazer isso e você não trabalha para mim, pelo menos não ainda. o mais justo a se fazer é pagar pelo teu serviço. Aceite pelo menos cem dólares, eu quero te dar.
  Insistiu Tord, porém Tom não parecia disposto a aceitar aquela quantia de dinheiro.
                  - Mais do que cinquenta não aceito.
                                   
      Tord então se deu por vencido, aceitando lhe dar apenas cinquenta dólares pelo trabalho muito bem feito. Pegou sua carteira de couro sintético vermelho e tirou a nota de lá, estendo-a para Thomas que pegou meio relutante, ainda achando dinheiro demais. Colocou a nota no bolso direito e assim que viu Tord se endireitar em sua grande cadeira vermelha para voltar a trabalhar, fez menção de sair. Indo até a porta se lembrou do diálogo anterior que teve sobre o exército. Pensaria mais sobre aquilo, talvez fosse uma boa ideia se alistar. Antes de sair, Tom tem sua atenção voltada a Tord outra vez que o chama.
                      - Thomas, sem querer ser indelicado mas... Você está desempregado? Ou o seu trabalho tolera home office e você vai continuar trabalhando normalmente?
     Perguntou.
                        - Não, não tolera. Eu ainda dou aulas de música. Mas de qualquer forma a escola ia fechar e eu ia perder o emprego ainda esse mês então nem fui atrás, só pedi as contas adiantado quando cheguei aqui. Mas por que quer saber?
   Questionou intrigado.
                        - Curiosidade- Respondeu- Agora pode ir, procure algo para fazer e qualquer coisa me chame, não mudei de número e sei que ainda me tem ai.
    Deu uma piscadela e pediu para que outro se retirasse e assim o fez.