Estou nervosa. Meus pés não conseguem se manter quietos em um único lugar e estou prestes a contrair uma panarise de tanto roer minhas unhas em nervosismo. Desde que a reunião chegou ao fim, quase todo mundo está trancado naquela sala, decidindo sobre a implementação da minha ideia.
– Fica calma, você foi bem – Yuna chama minha atenção, sentada em seu setor. Ela posiciona melhor seus óculos circulares e depois me sorri amigavelmente. Yuna é uma das poucas pessoas com quem me dou bem nesta empresa. Adoro seu jeito fofo, inclusive seus olhos levemente puxados e o cabelo longo e moreno.
– Você está certa, eu dei o meu melhor – respondo sabendo que independente da resposta, tenho o prazer de dizer que fiz tudo que pude naquela sala. Yuna olha por cima do meu ombro, tensa, e eu me viro imediatamente ao ver meu chefe vindo na minha direção ao lado do seu sobrinho Malcom.
Seus olhos me encaram de forma direta e isso me dá um frio na barriga. Não consigo parar de pensar no quanto ele confiou em mim ao dizer que me daria uma chance para mostrar o quão boa sou. A ideia de uma resposta negativa em relação à minha apresentação é insuportável.
– Julie – ele para na minha frente com sua postura rígida e prepotente. Seus ombros largos, corpo malhado e olhos claros combinam perfeitamente com seu cabelo grisalho, que denuncia o avanço da idade.
– Ah... sim? – quase derrubo o copo cheio de lápis sobre a mesa da Yuna. Ele permanece em silêncio por alguns segundos, me encarando com os braços cruzados e um olhar que não consigo decifrar. Então, um sorriso largo surge em seus lábios.
– Eu sabia que poderia contar com você. Parabéns! Sua ideia foi considerada, na verdade, vamos começar com a implementação na semana que vem e você ficará à frente do projeto, trabalhando com o Malcom – ele fala com entusiasmo na voz. Tento evitar encarar Malcom de um jeito desagradável, mas, com o passar dos meses, fica difícil fingir que a presença dele não me trás uma sensação de desgosto.
– Meu Deus, isso é incrível! Mas acho que deveríamos poupar um pouco o Senhor Maloy; ele trabalha tanto... A ideia foi minha e consigo lidar com tudo isso sozinha.
Vejo Malcom estreitar os olhos atrás do meu chefe e murmurar algo.
– claro que não, eu faço questão; vocês são os meus melhores funcionários. Mostrem o que podem fazer juntos – ele pousa a mão no meu ombro e depois sorri amigavelmente antes de se retirar, deixando Malcom com uma expressão nada agradável.
– Você só foi boa, grande coisa – Malcom diz, acabando com meu momento.
– Não só fui boa como eu detonei! Eu sou da elite agora. Você deveria me dar os parabéns, Maloy.
– Por que será que não fiquei tão surpreendido com a sua apresentação?
– Cuidado, Maloy, a inveja pode te matar. E eu acho que você está com medo de que logo eu seja sua chefe – zombo. Vejo-o engolir em seco e manter uma postura mais rígida, como se minhas palavras não o tivessem atingido.
– Você, minha chefe? Juliana, você precisa parar de sonhar tanto.
– Fica sabendo que quando eu for sua chefe, vou obrigar todos os funcionários a sorrirem uns para os outros pela manhã, só para ver se você muda essa sua cara de poucos amigos. E ah... meu nome é Julie — digo, já aborrecida e cansada de ter que corrigir meu nome toda vez que converso com ele.
Desde a minha chegada há um ano, parece que ele se sente ameaçado, como se temesse que eu tomasse o seu lugar.
– E quando eu for seu chefe, vou implementar um novo código de vestimenta. Não se vista mais como uma prostituta — ele fala calmamente, olhando diretamente para os meus seios. Só então lembro que, devido à correria do dia, acabei ficando com alguns botões desprendidos da blusa.
– Você é um tarado — respondo, tapando com as mãos o que posso.
– Não se preocupe. Já vi seios melhores — ele dá de ombros e caminha para sua sala, sumindo pelo corredor e me deixando ainda mais furiosa.
– Não sei se consigo passar mais tempo com ele sem ser presa por homicídio.
Yuna começa a rir.
– Vocês ainda vão se casar!
– Nem que ele fosse o último homem do planeta Terra eu me casaria com aquele insuportável — digo enquanto caminho até meu setor e me sento, tentando ficar mais calma e manter o foco.
O resto do dia passei trabalhando feito uma doida. Não que eu odiasse; eu amo o meu trabalho. Mas às vezes sinto que preciso de uma folga... tipo um mês.
Quando finalmente chegou a hora de ir embora, começo a arrumar minhas coisas enquanto troco algumas ideias com Yuna.
– Uma flor pra outra flor — Peter aparece me entregando uma rosa perfumada.
– Você é um fofo, obrigada!
– Você acertou em cheio minha cabeça com sua bolsa, mas... meus parabéns, Milayd!
– Peter, deixa ela — Yuna diz revirando os olhos.
– Eu vou te ignorar. Quer carona, Milayd? Parece que vai chover lá fora.
– Eu adoraria!
O clima agradável entre nós volta a morrer quando Malcom reaparece e caminha em nossa direção. Seus olhos vão direto para a rosa em minhas mãos e para Peter, que está encostado na minha mesa.
– Julie, tem algumas contas que você precisa terminar na minha sala.
– Posso terminar amanhã? É que já deu o meu horário...
– Não dá — ele dá de ombros e volta por onde veio. Cerro meus punhos tentando não estrangular ele.
– Sinto muito, amiga — Yuna fala com tristeza genuína nos olhos.
– Acho que ele não está raciocinando direito — digo enquanto vou desfazendo minhas coisas com um suspiro resignado.
– Não acho que comportamento racional seja familiar a ele — Peter comenta, fazendo-me sorrir novamente.
Pego alguns papéis e canetas e caminho pelo extenso corredor até sua sala, que fica bem na ponta. Quando chego lá, Malcom está em sua mesa, concentrado na tela do computador. Sinto-me praticamente estúpida por achar tão sexy o jeito como ele fica focado no trabalho.
Ele aponta para o monte de papelada à sua frente. Respiro fundo e puxo uma cadeira, sentando-me diante dele. Abro meu notebook e começo a digitar enquanto faço alguns cálculos mentalmente. O silêncio é tenso; somente o som das teclas quebra a atmosfera carregada entre nós.
Decido ignorar o calor que sobe à minha face ao pensar em como suas ordens me afetam tanto. Afinal, sou uma profissional competente; não posso deixar suas provocações me desestabilizarem.
Mas ao olhar novamente para Malcom concentrado no trabalho, não posso deixar de me perguntar: até onde essa tensão entre nós pode ir?
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Consequência Do Nosso Ódio (Terminado)
HumorUma Noite Uma noite é suficiente pra mudar uma vida. Julie é uma mulher de seus 25 anos em busca de uma oportunidade de reconhecimento no seu trabalho, uma mulher que apesar de ser completamente desastrada, é focada nos seus princípios. Porém ela v...