Existem certos momentos em que somos praticamente obrigados a ocultar nossos sentimentos como uma forma de autodefesa. Nunca pensei que um dia precisaria ser assim; sempre considerei uma estupidez viver com medo da rejeição e da mágoa. Mas agora, isso se tornou a única opção que me resta. Estou tão mergulhada na confusão das minhas próprias emoções que não sei como sair. A cada dia que passa, cada hora, fica mais difícil.
Sinto uma exaustão profunda e não consigo parar de contar os dias para tirar esse ser de dentro de mim. Olho no espelho e me sinto gorda, como se meu corpo não me pertencesse mais. As atividades físicas, que antes eram parte da minha rotina, agora foram reduzidas a meras lembranças. Meu foco no trabalho também não é o mesmo e isso me preocupa. Estamos na reta final do projeto das franquias e eu me sinto como uma criança perdida em um parque de diversões, sem saber para onde correr.
Nesse momento, Yuna bate na porta vagarosamente e entra segurando um monte de papelada. Ela esboça um largo sorriso ao me ver, colocando os papéis sobre a minha mesa. A encaro: sua saia jeans curta, jaqueta preta de couro e botas pretas fazem dela um ícone de estilo. Seu olhar é de pura preocupação e pressinto que ela quer falar algo sobre mim.
– Tá — respiro fundo e largo o mouse — o que foi? — sou totalmente direta.
Yuna se inclina sobre a mesa, apoiando as mãos em cima dela.
– Você tá bem? — pergunta, analisando meu rosto pálido — Olha pra você! Está mais séria que o Malcom, acho que ele tá te contagiando com o humor seco dele.
Um sorriso involuntário surge nos meus lábios.
– É a gestação, está me deixando louca. Essa criatura está me deixando louca — desabo, sentindo o peso das palavras.
— Imagino... Todo mundo fala sobre a maravilha que é estar grávida, mas ninguém menciona os efeitos colaterais.
— Exato! E eu me sinto enorme — respiro fundo, tentando conter a frustração.
— Isso não é verdade! Você é a grávida mais magra que conheço — ela ri, tentando animar o ambiente.
— E você é a japonesa mais americana que conheço. Que roupas são essas? — digo com um sorriso travesso.
— Você gostou?
— Não, eu amei! Obrigada por servir à América
— Cala a boca — ela ri de volta — Mas preciso voltar ao trabalho, infelizmente, nem todas nós temos a sorte de engravidar do sobrinho do dono da empresa — seu tom provocativo é quase uma provocação divertida.
— Sai daqui — lanço uma tampa de caneta em sua direção enquanto ela sai desfilando pela sala. Respiro fundo e volto ao que estava digitando. Porém, um e-mail estranho chama minha atenção. Ao abrir, percebo que se trata de uma mensagem do ginásio informando que minhas aulas foram totalmente canceladas.
— Isso deve ser um erro — digo para mim mesma enquanto releio as palavras várias vezes até ter certeza: foram canceladas e as mensalidades não serão mais pagas.
Mordo meu lábio inferior para não surtar. Levanto-me bruscamente e vou até a sala do Malcom sem nem pensar em bater. Felizmente, ele está sozinho.
— Oi — ele fala descontraído
— Que merda você fez, Malcom? Você cancelou minhas aulas?
Ele mantém-se calado por um momento, apenas balançando-se na cadeira com um ar despreocupado.
— Você tá muito brava pra quem um dia não queria fazer aula. Deveria agradecer — ele responde com um sorriso irônico.
— porquê você fez isso?
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Consequência Do Nosso Ódio (Terminado)
HumorUma Noite Uma noite é suficiente pra mudar uma vida. Julie é uma mulher de seus 25 anos em busca de uma oportunidade de reconhecimento no seu trabalho, uma mulher que apesar de ser completamente desastrada, é focada nos seus princípios. Porém ela v...