Consequência Do Nosso Ódio (Terminado)

35 - os meus erros me levaram a ti✔️

Eu não queria estar em casa no momento em que o Malcom chegasse. Um frio na barriga me acompanhava, e eu me perguntava como reagiria ao vê-lo depois de saber toda a verdade. Como eu conseguiria olhar nos seus olhos sem que a culpa transparecesse? O medo de estragar tudo novamente me fez tomar uma decisão: sair e passar a maior parte do tempo sentada na areia da praia, observando o mar infinito. As ondas se tornaram a trilha sonora do meu momento de desespero, um lamento suave que ecoava minha confusão interna.

Não sei ao certo quanto tempo passei ali. O que sei é que foi o suficiente para que eu chegasse à conclusão de que precisava agir, de que era hora de me libertar dessa situação que eu mesma criei. Não que toda a culpa fosse minha... Sinceramente, o Malcom é o ser mais complicado que conheço. Eu entendo que ele teve um passado difícil, mas quando meu ex-namorado me traiu com uma colega de faculdade, eu não escolhi me esconder do amor ou deixar de acreditar nele.

Em um mundo tão distorcido quanto este, é desafiador encontrar alguém disposto a ficar ao nosso lado. Mas eu ainda acredito no amor — pela forma como eu amo as pessoas.

Neste momento, tudo o que desejo é estar frente a frente com ele e expressar meus sentimentos. Não posso mais permitir que o medo da rejeição me paralise. Esperei por ligações dele ou até mesmo da Sofia, mas quando pego meu celular, não vejo nenhuma mensagem. Isso só pode significar uma coisa: Malcom deve estar bravo ou já concluiu que saí mais uma vez com o Josh.

Com um misto de ansiedade e esperança, volto para casa. A sensação de alívio começa a se instalar em mim enquanto abro a porta vagarosamente. A sala de estar está vazia  — subo as escadas em direção ao quarto dele. Ao abrir a porta, meu peito aperta: ele não está lá.

A ansiedade toma conta de mim, já passou da hora em que ele normalmente estaria em casa. Enquanto desço as escadas novamente, ouço um som familiar vindo de outro cômodo — o som suave de um piano. Aperto os lábios e caminho lentamente em direção à origem da música.

Assim que abro a porta, sou recebida pela imagem do homem pelo qual sou apaixonada sentado em frente ao piano, vestindo uma camiseta branca e calças pretas, tocando calmamente como se aquele fosse seu refúgio habitual. Seu olhar parece triste, como se cada nota carregasse um peso emocional.

Quando ele começa a cantar, reconheço imediatamente a melodia: "Led Me To You", do Christopher. Meu coração acelera; sua voz é envolvente e cheia de nuances emocionais que tocam diretamente minha alma. É impossível não sentir um turbilhão de sentimentos enquanto o escuto.

– do que você está falando amor?
  não achei que isso fosse um favor
  Você sabe que só tentei te amar
  Você disse que se me deixasse por esse mundo
  Eu não estaria aqui quando voltasse
  mas podemos recomeçar?
  Agora apenas me abrace e não vá embora assim
   Porque eu estou prestes a enlouquecer — ele dá uma mini pausa e respira fundo como se a música também o estivesse tocando como está acontecendo comigo

– todos os meus erros me levaram até você
  Lembre-se, você disse que só um tolo poderia se arrepender
Estou desmoronando mesmo sem querer
Mas todos os meus erros me levaram até você
Eles me levaram até você 
Estraguei tudo como podíamos prever
Mas o arrependimento é para os tolos
Agora eu agradeço aos meus erros
Porque eles me trouxeram até você

Ele termina de cantar, e meus olhos já estão repletos de lágrimas. Malcom finalmente vira o rosto e me nota.

– Eu a escutei chegar — diz calmamente, com um sorriso que esconde um misto de alívio e ansiedade. Abano a cabeça positivamente, tentando conter a avalanche de emoções.

– Eu não sabia que você tocava... e cantava — murmuro, admirada.

– Meu pai me ensinou — ele responde, a voz carregada de nostalgia.

– Olha, pra alguma coisa ele serviu, né? — dou um leve sorriso nervoso enquanto limpo as lágrimas que insistem em escorregar pelo meu rosto. Aproximo-me mais dele, parando bem em sua frente, com os braços apoiados sobre o piano. — Você sabe fazer tudo, é incrível.

Ele desvia o olhar por um momento, como se estivesse buscando as palavras certas.

– Nem tudo — seus olhos azuis se fixam em mim novamente, e noto o brilho intenso neles, como se ele quisesse chorar. É a primeira vez que vejo essa vulnerabilidade nele. — Eu não soube conquistar você.

Suas palavras são um tapa na cara e sinto meu coração acelerar.

– Você nem tentou — respondo, tentando esconder a dor que suas palavras provocam.

– Julie, eu estou tentando te proteger... de mim mesmo.

– Adivinha? Eu não sou uma princesa que precisa ser resgatada! Eu sei me cuidar.

Ele fica em silêncio, me encarando com uma intensidade quase palpável.

– Julie, eu estrago tudo — confessa ele, com um tom de desespero na voz.

– Olha, temos algo em comum: eu vivo derrubando tudo e destruindo tudo à minha volta.

– Eu não posso correr o risco de perder você. Se você souber da verdade sobre a Genevieve...

– Então não me conte — interrompo-o com firmeza. — Eu não quero saber. Não importa, eu estou aqui! Não fui a lugar algum. — Mordo meu lábio inferior nervosamente. — Você pode escolher viver com medo pelo resto da sua vida, pensando em como seria se tivesse dado um passo à frente e se condenando por isso... ou arriscar e apostar tudo.

Termino minha fala ansiando pela sua resposta. Malcom engole em seco e se levanta do banco, aproximando-se de mim até ficarmos a poucos centímetros de distância.

Sua mão pousa suavemente em meu rosto enquanto ele mantém o olhar fixo nos meus. Neste momento, sinto que estou completamente entregue a este homem; não há como fugir ou me esconder, exceto aceitar minha grande derrota nesta guerra interna que travamos.

– Meu Deus, como você é linda — sua mão toca meu rosto vagarosamente e sinto um arrepio percorrer minha espinha. — Eu preciso te confessar algo.

– O quê? — pergunto, quase sussurrando.

– Eu me apaixonei primeiro — revela ele, sua voz carregada de sinceridade e emoção.

Sou completamente hipnotizada pelo seu olhar profundo e pelas suas palavras calorosas.

– E pegar no seu pé foi a forma mais fácil que achei de chamar sua atenção. Você é incrível, Julie. E se você disser que me ama agora... eu vou me perguntar o que fiz para merecer você.

Sem pensar duas vezes, digo:

– Eu te amo!

Quando pronuncio essas palavras, sinto um enorme peso sendo aliviado das minhas costas. Ele esboça um sorriso convencido antes de me puxar para mais perto da cintura, fazendo nossos lábios se encontrarem em um beijo lento e repleto de paixão ardente.

– Como você não existe, Julie Danken — sussurra entre os beijos enquanto coloco minha cabeça em seu ombro e sinto sua mão acariciar meu cabelo solto suavemente.

Aquele momento é perfeito; o mundo ao nosso redor desaparece enquanto nos perdemos um no outro.